Valter Pomar:uma candidatura para repactuar com o Campo Majoritário

A candidatura de Valter Pomar, da Articulação de Esquerda (AE), é um exemplo emblemático do giro à direita das correntes da chamada esquerda petista. Para compor um bloco mais amplo possível, Pomar deixa claro que não pretende organizar nenhuma “refundação do PT”, quer dizer, mudar a estrutura do partido. Para ele, a mudança ocorrerá numa nova composição interna entre as mais diversas correntes petistas. “Eu acho necessário que se construa uma maioria, que vai ser composta por setores da esquerda e do centro, inclusive por alguns setores do atual ‘Campo Majoritário’”, diz o candidato que tem o apoio de setores da Articulação, ligados a Marta Suplicy, como o grupo dos irmãos Tatto. Em troca, Pomar sinaliza seu apoio à pré-candidatura da ex-prefeita ao governo de São Paulo nas próximas eleições. “O que eu disse para os Tatto: há uma simpatia entre os dirigentes da AE pela candidatura Marta” declarou o candidato. Pomar faz tímidas críticas à política econômica do governo Lula. Diz que é contra à manutenção das altas taxas de juros e propõe a recuperação do “apoio de setores importantes da classe trabalhadora, de setores médios e inclusive de setores da burguesia industrial, que esperavam que nosso governo fosse golpear duramente o capital financeiro”. à sua maneira, Pomar retoma o programa do PT de 2002, que propunha a criação de um mercado de consumo de massa. Quer dizer, manter as bases fundamentais do capitalismo e “fortalecer o setor produtivo”. Propõe também reduzir a taxa de juros e – e não acabar – o superávit primário.

Em relação às alianças eleitorais do PT, Pomar afirma que a prioridade será a “aliança com o povo”, contudo, não descarta alianças com o “centro” que “sejam transparentes e com bases programáticas”.

Utopia reacionária
A política defendida por Pomar é semelhante a do PT antes das eleições. Um programa que mantenha as bases fundamentais do capitalismo para criar um “capitalismo com distribuição de renda”, fortalecendo o “setor produtivo”. Mas isso não passa de uma utopia reacionária por um motivo muito simples: os negócios dos empresários brasileiros estão atrelados ao imperialismo. Não há nenhum setor do empresariado que defenda uma ruptura. Ao contrário, as classes dominantes nunca lucraram tanto como vem lucrando com o atual modelo econômico.

Pior ainda é dizer, de maneira disfarçada, que é aceitável uma aliança com “setores de centro”. Afinal, o que isso quer dizer? Que é aceitável um governo de aliança com a burguesia para aumentar a exploração dos trabalhadores? Por fim, Pomar não fala em nenhum momento em ruptura com a Alca, a dívida externa, etc. Diz, isso sim, que preciso manter o superávit primário, exigido pelo FMI, que retira bilhões de saúde, educação e reforma agrária.

Na prática, Pomar propõe uma tímida reforma no atual modelo econômico. Nenhum programa de ruptura com o capitalismo está em seu horizonte. No plano da disputa interna do PT, sua candidatura poderá servir como uma repactuação da esquerda petista com o Campo Majoritário.

Ricardo Berzoini: o homem das reformas neoliberais

Ricardo Berzoini é candidato do Campo Majoritário do PT e dispensa maiores apresentações. Como ministro da Previdência, Berzoini encaminhou a reforma do setor que destruiu a Previdência pública e fez a festa dos fundos privados de pensão. Logo em seguida, foi designado ministro do Trabalho e tentou encaminhar a reforma Sindical e Trabalhista que visa fortalecer as cúpulas das grandes centrais sindicais, como CUT e Força Sindical, e destruir direitos históricos dos trabalhadores, como férias e 130 salário. Como se pode ver, apesar do aparente discurso de “independência” em relação ao governo, Berzoini é um dos principais responsáveis pelo encaminhamento das reformas neoliberais.

Raul Pont: contra “o golpe das elites”

O ex-prefeito de Porto Alegre é o candidato da Democracia Socialista que ocupa o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Propõe a refundação do PT e rechaça qualquer possibilidade de ruptura com o partido, uma vez que significaria a “fragmentação da esquerda”. Assim, recusa-se a construir uma alternativa de esquerda ao governo e ajuda a fortalecer, na prática, a oposição de direita.

Pont defende o governo dos “ataques das elites”. Faz tímidas criticas ao modelo neoliberal, propondo a rediscussão pontual da política econômica, como baixar a taxa de juros: “Precisamos discutir o caso do BC, que opera o controle de recursos contingenciados, retirando recursos de políticas importantíssimos para a população, em nome da necessidade de fazer superávit”. Defende uma reforma do Estado, como a adoção de uma reforma eleitoral, orçamento participativo e plebiscitos. Em nenhum momento, Pont fala em ruptura com o modelo econômico, nem com a Alca, nem com o FMI.

Plínio de Arruda Sampaio: Mais uma vez “o governo em disputa”

Sua candidatura é a mais à esquerda. Uma parte dos que o apóiam devem, até mesmo, romper com o PT dAvitória do Campo Majoritário. Teve também o apoio de personagens que vão permanecer no PT como Eduardo Suplicy e João Pedro Stédile.
Ao lado das críticas corretas à política econômica, Plínio retoma-se a tese completamente equivocada que guiou a esquerda petista nestes três anos de governo Lula: a do governo em disputa.

Segundo essa tese, o governo seria pressionado por dois lados: pela direita e pelo movimento de massas. O governo mesmo não teria um caráter definido, e sua evolução dependeria do setor que fizesse mais pressão. Na verdade, essa é uma cobertura de esquerda para não romper com o governo, justificando tudo o que o governo faz, “pela falta de pressão do movimento de massas”. A culpa então seria dos trabalhadores, dos movimentos sociais, que não se mobilizam o suficiente para levar o governo à esquerda.

Essa tese foi a que levou a esquerda petista ficar a reboque de Lula, sem nenhuma postura independente. Infelizmente Plínio propõe mantê-la: “se o partido, plenamente sintonizado com o governo, mostrar claramente ao povo as pressões que Lula vem sofrendo por parte das forças econômicas nacionais e internacionais, a reação dos seus milhões de eleitores será certamente a formação de um poderoso bloco de apoio às medidas governamentais. Esse apoio popular garantirá mais a governabilidade do que alianças com forças da direita”, diz ele.

Para reforçar essa tese, Plínio aponta para uma relação amigável com o governo Lula, caso eleito para a presidência do PT: “Não vejo possibilidade de choque. Eu vejo possibilidade de diálogo com o governo Lula, que é o que não houve (…) a relação real entre o partido e o governante do partido deve ser uma relação de diálogo, eu diria fraterno, mas de diálogo, em que nós dizemos ao presidente aquilo que, do ponto de vista do PT (…) e o presidente fala ao partido sobre as limitações e as dificuldades que tem para executá-lo”.

Indo mais longe, Plínio defende Lula diante da crise e critica a direção do PT: “o Lula teve um comportamento impecável. Imediatamente, mandou apurar tudo (…). Todas as possibilidades foram imediatamente utilizadas, tanto que ninguém tem críticas com relação a isso. Já o diretório, não. A presidência do Diretório Nacional foi meio devagar, precisou primeiro ter o gesto do Suplicy, para depois vir a reboque”.

Maria do Rosário: via auxiliar da articulação

Depois de Berzoini, é a candidatura mais à direita . Produto de uma cisão do Campo Majoritário, Rosário praticamente não se diferencia da candidatura oficial. Um dos dirigentes dessa corrente é o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia. Não critica o atual modelo econômico neoliberal. Questionada sobre um choque numa eventual gestão sua com as políticas do governo federal, Rosário responde: “Em hipótese alguma. Porque eu, com muita clareza, me posiciono compreendendo que o governo Lula é o nosso governo, defendendo o presidente Lula. Eu votei todas as medidas, porque considero que, uma vez decidido na nossa bancada, nós somos parte de um coletivo”.

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