Decepção e indignação com o governo marcaram o encontro, e participantes aprovam Dia Nacional de Luta em Defesa do São FranciscoA Conferência dos Povos do Semi-Árido e do São Francisco, realizada em Sobradinho (BA), entre 25 e 27 de fevereiro, foi a resposta dos movimentos sociais contrários à transposição aos ataques desferidos por Lula, que em 2007 atacou o jejum de Dom Luiz Cappio e fez uma ofensiva para acelerar a execução das obras.

A conferência reuniu 213 participantes: de 93 movimentos populares e organizações sociais. Os números que superaram todas as expectativas dos organizadores, demonstrando que há muita disposição de luta nas bases dos movimentos populares para derrotar a transposição e pautar um projeto verdadeiro de revitalização, sob controle dos trabalhadores ribeirinhos.

Dois sentimentos destacaram-se nos debates da conferência: a decepção e a indignação dos lutadores com o governo Lula. Porém a expressão desses sentimentos, de modo algum, se concretizou no conformismo e na covardia. Pelo contrário, foi majoritária a opinião de que é necessário lutar contra o governo para derrotar o projeto da transposição.

Conjuntura
A relação dos movimentos sociais com o governo federal e a cooptação de lideranças foram temas muito presentes durante toda a conferência e foram apontados por muitas pessoas como uma das principais causas das dificuldades enfrentadas pelo movimento para derrotar o projeto da transposição.

A visão do governo Lula como um gerente do capitalismo brasileiro a favor dos interesses de banqueiros, empresários e latifundiários esteve muito presente nas intervenções, demonstrando que a experiência com o governo durante a greve de fome de dom Luiz Cappio, no ano passado, evidenciou o caráter traidor desse governo.

A dúvida sobre o posicionamento do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) diante da mais nova tática do governo federal para enfraquecer o movimento, apresentada pelo deputado federal Ciro Gomes (PSB) na audiência pública realizada no Senado, foi destaque também das discussões em plenário. Depois de ter finalmente reconhecido que o projeto possui um caráter econômico, e não para beneficiar a criação de animais e levar água às pessoas, Ciro Gomes anunciou uma “reforma agrária” mentirosa ao longo dos 700 quilômetros de canais.

O Ibama, no estudo de impacto ambiental da obra, desmente a viabilidade dessa proposta, por afirmar que os solos por onde os canais passarão são de formação rochosa e portanto, inapropriados para a produção agrícola. Além disso, o deputado afirmou também que os assentamentos não teriam acesso às águas dos canais, mostrando que a mentira tem “perna curta”.

O governo federal prepara uma poderosa campanha publicitária a favor da transposição para disputar a consciência dos movimentos populares e do povo pobre dos estados por onde supostamente passarão os canais do projeto. Além disso, Lula pessoalmente prepara uma caravana nos estados receptores da bacia do São Francisco.

Dia nacional de luta
Diante desse quadro, a importância da conferência de Sobradinho está em apontar o caminho da luta e do enfrentamento ao governo Lula e a seus colaboradores para derrotar a transposição do São Francisco.

Para desmentir as propostas do governo federal, foi aprovado um calendário de lutas para 2008 que inicia já no próximo mês, com um Dia Nacional de Luta em Defesa do São Francisco contra a Transposição. No dia 1º de abril, conhecido popularmente como o “dia da mentira”, o movimento realizará o “Dia da Mentira do Governo e da Verdade do Movimento”, com uma série de ações em várias localidades do Brasil para protestar contra a Transposição.

Além disso, foi destacada a necessidade de aumentar a unidade em torno dessa luta, buscando ampliar o raio de ação das atividades do movimento. Entre essas, aprofundar o trabalho de base entre os trabalhadores da cidade e do campo, com a realização de uma intensa contra propaganda e uma forte campanha de esclarecimento sobre o projeto.

Entre as inúmeras propostas de ações, merece destaque a indicação de atividades nacionais em Brasília como forma de pressionar o governo a recuar em sua decisão de levar adiante esse projeto.

Ampliar a unidade contra a transposição
A Conferência dos Povos do Semi-Árido e do São Francisco mostrou que é possível vencer essa batalha. Os lutadores presentes na conferência de Sobradinho saíram com as energias militantes renovadas para enfrentar os poderosos inimigos do Velho Chico.

Mas, para isso acontecer, é necessário retornar para suas cidades com o compromisso de desenvolver um trabalho de base que dispute a consciência dos trabalhadores e ribeirinhos. Ainda mais quando o governo prepara sua propaganda enganosa.

Post author Zé Andrade, de Pirapora (MG)
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