Matéria publicada no site da União Nacional dos Estudantes (www.une.org.br)

`FotoO debate sobre democratização do acesso à universidade pública aconteceu nesse sábado, dia 29/03, e contou com a presença do presidente da UBES, Igor Bruno, do representante do PSTU, Wilson H. da Silva, e da reitora da UERJ, Nilcéia Freire.

Ausência de negros nas universidades

“Estou há 19 anos na USP e nunca vi um professor negro“, afirmou o representante do PSTU. Ele enfatizou a ausência de negros na universidade brasileira, e criticou a falta de discussão sobre isso: “a UNE tem que se posicionar e levar o debate às escolas“.

Ele também criticou a demora no posicionamento oficial do governo Lula sobre o sistema de cotas para negros nas universidades. Além disso, ressaltou que mais do que entrar na universidade, é necessário dar condições ao estudante para permanecer e concluir a graduação.

Indisposição para fazer o debate é o que preocupa

A reitora Nilcéia Freire abordou a falta de manifestação ativa da sociedade em relação à questão das cotas, que só se deu quando os resultados do vestibular apareceram: “há uma dificuldade da sociedade se posicionar. Ela se manifesta de maneira reativa e superficial“.

Outra questão foi a autonomia da universidade e os seus limites: “a universidade não pode trabalhar para ela mesma. A autonomia existe para permitir que ela trabalhe melhor para a sociedade“.

De acordo com Nilcéia, a análise de questionários preenchidos pelos inscritos no vestibular da UERJ mostrou que, mais que a gratuidade, o que determina a escolha do vestibulando é a qualidade.

A reitora também desmistificou algumas idéias equivocadas da sociedade: “não é verdade que o sistema de cotas inaugurará a presença de pobres na universidade brasileira, sobretudo nos últimos anos em que aumentou o empobrecimento da população. Também não é a primeira vez que vão entrar alunos mais deficientes em termos de conhecimento. Essa é uma visão preconceituosa e mentirosa. Não vamos, também, inaugurar a evasão, questão com a qual lidamos todos os dias“.

Ainda seguindo esse raciocínio, Nilcéia citou o caso da UNEB, Universidade do Estado da Bahia, que também implementou um sistema de cotas no processo seletivo, o que não foi alardeado pela imprensa: “Não deu manchete porque na UNEB não tem medicina, odontologia, direito, não fica no Rio de Janeiro e já existia maior presença de pobres e negros nas licenciaturas.“

Nilcéia ressaltou que as cotas têm sito tão atacadas porque, “a formação de sujeitos que venham de extratos da população tradicionalmente excluída vai mexer com a concentração do poder.“

Em seu discurso, disse que a UERJ defende intransigentemente o vestibular que realiza e acusa de perversidade fazer com que os jovens que se inscreveram baseados em um edital sejam impedidos de cursar a faculdade.

O projeto da universidade é criar um sistema de bonificações de acordo com as condições de exclusão que o candidato possui.

Para a reserva de vagas dar certo é precisa muita luta dos estudantes

Igor ressaltou que a questão deveria ter sido mais debatida, mas que o objetivo primeiro é a melhora do ensino público médio: “é uma luta cotidiana da UBES há 50 anos. Faltam investimentos, os salários são baixos, as escolas são anti-democráticas. Isso faz com que a qualidade do ensino vá caindo.

A reserva de vagas não é uma solução, mas sim uma medida paleativa, segundo Igor. Ele ainda disse que as universidades têm estudantes da escola pública, mas que o problema está em determinados cursos que estão historicamente voltados para as elites.

Igor assumiu o compromisso de lutar pela reserva de vagas da UERJ e ampliar as ações no segundo semestre de 2003 para levar o sistema para outros Estados.