Em 1920, terminava a Guerra Civil na União Soviética. O Exército Vermelho – formado pela vanguarda operária que lutou contra o antigo regime e construiu os sovietes – venceu os exércitos invasores de 11 países capitalistas que queriam destruir o Estado operário recém-nascido.

A URSS sobreviveu. A esperança estava na expansão da revolução socialista aos países capitalistas da Europa. Para isso, foi fundada a III Internacional, em 1919, que reuniu a esquerda revolucionária num partido mundial. O proletariado europeu iniciou uma onda de grandes lutas, com a formação de conselhos operários na Alemanha, em 1918, e comitês de fábrica na Itália, em 1919, além de greves operárias na Inglaterra e motins de marinheiros na França.

Porém as revoluções foram derrotadas uma a uma: Alemanha, em 1919; Hungria e Polônia, em 1920; e novamente Alemanha, em 1923. Inaugurava-se uma fase de contra-revolução no mundo. O fascismo surgiu na Itália, e o nazismo, na Alemanha. A classe operária era brutalmente massacrada. Seus líderes eram presos ou assassinados, e seus partidos e sindicatos caíam na ilegalidade.

A URSS venceu a Guerra Civil, mas ficou isolada. O preço pago pela vitória foi alto. A economia do país girou para o esforço de alimentar e armar o exército. A fome tomou conta, e boa parte da vanguarda operária morreu na frente de batalha.
Dos 3 milhões de operários da URSS, restaram 1,5 milhão. O Partido Bolchevique ficou esvaziado de sua base operária. Os sovietes, principais instituições do regime, deixaram de funcionar regularmente.

A derrota da revolução na Europa foi a base principal para a burocratização da URSS. A extensão da revolução possibilitaria uma produção planificada em escala internacional num nível completamente diferente do atraso russo, dando as bases materiais para o avanço rumo ao socialismo. O atraso econômico, ao contrário, era a base para o crescimento da burocracia. Como dizia Trotsky, se existe uma fila em busca de comida nos armazéns, é necessária uma pessoa para garantir a ordem da fila. Essa pessoa será a primeira a servir-se da comida escassa. Forma-se, assim, uma burocracia que controla os recursos do país e garante a melhor parte para si.
Lênin alertava para o perigo da burocratização e propunha várias medidas, como revogação de mandatos, supressão de privilégios e controle ativo das massas, mas não foram suficientes. Após sua morte, em 1924, o Partido Bolchevique encheu-se de funcionários e carreiristas como meio de garantir privilégios inexistentes para a maioria da população. Stálin, desconhecido das massas, foi o líder da nova burocracia.

Cansaço da classe operária, sovietes esvaziados, burocratização do partido dirigente, derrota da revolução internacional: eis as condições para a burocratização do primeiro Estado operário da história.

O stalinismo, produto da derrota da revolução, foi o oposto do bolchevismo. Foi uma contra-revolução no coração do partido mais revolucionário da história. Para consolidar seu poder, Stálin eliminou fisicamente 17 dos 25 dirigentes bolcheviques de outubro de 1917. Trotsky seria assassinado em 1940.

O internacionalismo dos bolcheviques foi abandonado e substituído por um nacionalismo repugnante. Após a morte de Lênin, Stálin expõe a sua teoria do “socialismo num só país”. Para ele, apenas a Rússia teria atingido a maturidade para o socialismo e o construiria no limite de suas fronteiras. Conseqüentemente, a revolução no resto do mundo seria tratada apenas como um aspecto da defesa da URSS, mais precisamente, da sustentação da burocracia dirigente e de seus privilégios. A partir daí, Stálin utiliza a Internacional e os partidos comunistas como um joguete dos seus interesses. Uma dessas políticas foi a elaboração das “Frentes Populares”, que orientava os PCs a formarem governos em aliança com a burguesia “democrática”.
Assim, a democracia dos sovietes transformou-se no regime da burocracia, e a ditadura do proletariado, na ditadura sobre o proletariado.

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