Infelizmente, mudança no cargo não deve trazer alterações na orientação do BancoA saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central foi motivo de comemorações. Um dos principais símbolos da ortodoxia monetária dos últimos oito anos deixa a instituição responsável pela gestão da moeda no país. Estaria aberto o caminho para, pelo menos, uma política econômica menos neoliberal, com redução nos juros e maior espaço para investimentos?

Infelizmente, não. O sucessor de Meirelles pretende não só seguir a política de seu antecessor, como aprofundá-la. Alexandre Tombini foi escolhido para ocupar o posto e, durante sabatina realizada no Senado nesse dia 7 de dezembro, já defendeu a redução das metas de inflação, hoje de 4,5% ao ano. Reduzir a meta significa mais aperto fiscal e maiores juros para “segurar” a economia.

Tombini é funcionário de carreira do Banco Central e se gaba de ter participado da implementação das metas de inflação, ainda na gestão de Armínio Fraga, durante o governo FHC. Além disso, é homem de confiança do sistema financeiro. Henrique Meirelles afirmou em entrevista à revista IstoéDinheiro que escolheu pessoalmente Tombini para substituí-lo. “O Tombini é a pessoa que eu considero mais qualificada para a sucessão, tanto que eu mesmo o escolhi e o indiquei”, disse.

Mais do mesmo
Quando Lula venceu as eleições em 2002, investidores internacionais viram a oportunidade de chantagear o novo governo a fim de terem ainda mais lucros. Apesar de o PT ter dado todas as garantias possíveis de que, uma vez no governo, iria impor uma política tão ou mais neoliberal que FHC, a vitória de Lula fez disparar o “risco Brasil” e a cotação do dólar, num movimento claramente especulativo.

Lula, recém-eleito, atendeu todas as expectativas do mercado financeiro. Antes mesmo de sentar na cadeira de presidente, nomeou o então deputado eleito do PSDB por Goiás, Henrique Meirelles, ao cargo do Banco Central. Além de ser tucano, Meirelles dirigiu por anos o Bank of Boston, sendo um nome de confiança do mercado internacional. E não fez por menos. Sua gestão teve a marca da ortodoxia e foi garantia de uma política que atendesse os banqueiros.

Não é menos significativo que, de todos os ministros que Lula teve nesses dois mandatos, Henrique Meirelles tenha sido o único a permanecer no cargo durante os oito anos. Foi único que atravessou incólume crises, políticas como o mensalão à crise internacional que motivou milhares de demissões pelo país.

Avança projeto de independência do BC
Enquanto isso, o projeto que garante formalmente a independência do Banco Central avança no Congresso. No último dia 3 foi apresentado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e deve ser votado no próximo ano. Encabeçado pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ), o projeto prevê um mandato fixo de seis anos para o cargo, nos quais não poderá ser demitido pelo presidente eleito.