Votando nuloO governo federal teve uma vitória parcial no primeiro turno das eleições de 2010. Como nas eleições de Lula em 2002 e 2006, derrotou a oposição de direita, mas teve de amargar um inesperado segundo turno entre Dilma Rousseff e José Serra.

Lula ampliou a maioria que já tinha na Câmara dos Deputados, passando de 380 para 402 deputados, deixando o bloco PSDB-DEM com 118 deputados. Ganhou pela primeira vez a maioria também no Senado, passando de 39 para 59 senadores. Por último, mas não menos importante, ampliou o número de governos de estado no primeiro turno, passando a governar mais estados de peso, como o Rio Grande do Sul.

Mesmo assim, não houve grandes comemorações no campo governista. A inesperada passagem para o segundo turno mostrou que sua candidata perdeu sete pontos percentuais em dez dias. Marina Silva (PV), que capitalizou a maior parte do desgaste de Dilma, sai fortalecida e com peso importante neste segundo turno.

A oposição de direita se fortaleceu na reta final. Tem o apoio majoritário e maciço das empresas de TV e jornais. Mesmo tendo sofrido uma derrota eleitoral, ganhou um alento com a passagem para o segundo turno e a vitória em São Paulo e no Paraná.
O resultado do segundo turno está completamente aberto. Vai depender de um grande número de fatores como a posição de Marina Silva, a descoberta de novos fatos dos escândalos de corrupção, o comportamento nos debates, etc. Mesmo assim, a popularidade – cerca de 80% – do governo Lula torna a vitória de Dilma o mais provável resultado do segundo turno.

Crescimento de Marina
A candidatura de Marina foi pensada inicialmente como um instrumento auxiliar da campanha de Serra, com o objetivo de dividir o voto feminino e petista de Dilma. Marina esteve apagada em boa parte da campanha, não se diferenciando em nada das campanhas majoritárias e espremida entre 8% e 9% nas pesquisas.

Só cresceu a partir do desgaste de Dilma com as denúncias de tráfico de influência. Ganhou com a queda parcial de Dilma, em um eleitorado que resistia a seguir o PSDB, com componentes de esquerda e direita.

Ocupou uma parte do espaço de Heloísa Helena em 2006 com o discurso de ética na política. Mas uma candidata do PV, um partido que tem em sua direção Zequinha Sarney, falando em ética, é algo ridículo. O PV está presente em todo tipo de governo estadual, completamente apegado às verbas do Estado.

Marina cresceu também a partir de uma manobra de direita: a campanha realizada por setores evangélicos mostrando que Dilma seria favorável ao aborto.

Isso teve grande impacto em setores populares, que não tinham sido afetados pelas denúncias de corrupção e tráfico de influência do PT. Marina saiu em defesa clara de uma posição reacionária contra o aborto e questionando Dilma. A petista ficou na defensiva e disse que também era contra o aborto.

Agora Marina terá de decidir o apoio a Serra ou a Dilma. Pode também se manter em uma semineutralidade, liberando o voto. De uma forma ou de outra, tornou-se uma força crescente nestas eleições, mais uma arma nas mãos da burguesia.

A falsa polarização entre dois projetos semelhantes (Dilma e Serra) foi rompida nas eleições, com os quase 20% dos votos em Marina. No entanto, trata-se de outra falsa opção porque em todas as questões fundamentais como no plano econômico e na relação com o imperialismo, Marina expressou total acordo com o PT e o PSDB.

Quem é a direita?
O governo, o PT, o PCdoB e a CUT vão fazer uma enorme campanha pelo voto em Dilma, argumentando que é necessário evitar a volta da direita.

Nós somos também contra a volta do PSDB e do DEM ao governo. Durante a campanha eleitoral, o PSTU foi duramente atacado pelo PSDB. Por duas vezes, tentaram tirar nosso programa de TV do ar. Na primeira vez, porque mostramos como FHC tratava os aposentados e os chamou de vagabundos. Conseguimos manter nosso programa dessa vez, mas não na segunda. Quando Serra atacava Dilma ligando a petista à corrupção, mostramos que Serra também esteve ligado ao governo de José Roberto Arruda, do Distrito Federal. O PSDB conseguiu tirar nosso programa final do ar.

Não queremos que a oposição de direita retorne. O governo FHC é lembrado pelos trabalhadores pelas privatizações e ataques aos trabalhadores. Serra seria uma continuação piorada de FHC por conta da crise internacional que se avizinha.
É necessário lutar contra a direita, mas isso não significa votar em Dilma. Muitas vezes os termos “esquerda X direita” são bastante imprecisos. Hoje, essa indefinição é tão ampla que inclui na “esquerda” a social-democracia europeia que administra o capitalismo há décadas na Europa. Ou ainda o PSB no Brasil, que apresentou como candidato ao governo de São Paulo o presidente da Fiesp.

Os marxistas definem a localização das posições políticas a partir da classe social representada. Aí a confusão desaparece. Para nós, os representantes da “direita” são os defensores da grande burguesia e do imperialismo. E como estão a grande burguesia e o imperialismo nestas eleições?

Os banqueiros estão financiando as duas campanhas, e é provável que estejam dando mais dinheiro para Dilma do que para Serra. Eles têm todas as razões para confiar em ambos. Durante os dois governos de FHC, os bancos lucraram R$ 35 bilhões, uma soma fantástica. No entanto, nos dois governos de Lula, esses lucros chegaram a R$ 170 bilhões. Não por acaso, em um dos jantares de apoio a Dilma estava presente o banqueiro Safra, uma das maiores fortunas do país.

As grandes empresas quadruplicaram seus lucros no governo Lula. Este é o motivo pelo qual, no início de setembro, as empresas já tinham dado R$ 39,5 milhões para a campanha de Dilma e R$ 26 milhões para a de Serra.

É verdade que as grandes empresas de comunicação, incluindo TVs e jornais, apoiam em sua maioria Serra. Isso possibilita ao governo uma imagem de vítima perante a burguesia. No entanto, Lula e Dilma têm a seu lado pesos pesados como a Vale, Eike Batista e inúmeros outros empresários.

O apoio dos governos imperialistas também é uma referência importante para identificar quem representa a grande burguesia nas eleições.

É indiscutível que todos eles estão muito tranquilos com as eleições no país, porque sabem que seus interesses estarão garantidos com PT ou PSDB. E também é inegável que Lula conta com uma enorme simpatia entre esses governos. Não é por acaso que conseguiu a realização da Copa e da Olimpíada no país, o que está sendo muito usado na campanha eleitoral.

Por último, podemos ter como referência a posição dos políticos da direita tradicional, que sempre representaram a burguesia no país. Obviamente, o PSDB e o DEM são partes importantes dessa representação política. Mas se pode dizer a mesma coisa de José Sarney, Fernando Collor, Paulo Maluf e Jader Barbalho, que apoiam Dilma.

Voto nulo no segundo turno
Na verdade, temos dois representantes da grande burguesia e da direita no segundo turno. Dilma é apoiada pelo PT, pela CUT e por uma parte da esquerda do país, por expressar a colaboração de classes entre a grande burguesia (que mandou no governo Lula assim como no de FHC) e os trabalhadores. Essa é a grande confusão política existente hoje entre os trabalhadores. Não ajudaremos a ampliar essa confusão.

Cada voto dado em Dilma ou em Serra ampliará a força do novo governo para atacar os trabalhadores. Não se pode esquecer a crise econômica internacional que se avizinha. Não por acaso, tanto Dilma como Serra já manifestaram que vão fazer uma nova reforma da Previdência, se eleitos.

Cada voto nulo agora significará menos força para o governo eleito. Foi impossível para a luta dos trabalhadores romper a falsa polarização eleitoral entre as duas candidaturas. Mas é necessário expressar nossa rejeição às duas alternativas patronais em disputa. Não serão eleitas em nosso nome.
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