Greves eram monitoradas e reprimidas durante o regime
Foto: Sindmetal-SJC

Relatório conclui que patrões monitoravam movimento operário em fábricas da região


Pelo menos 25 empresas colaboraram com o governo militar (1964 – 1984) para o monitoramento do movimento operário no Vale do Paraíba. Trabalhadores que participavam de mobilizações e atividades sindicais tinham suas atividades vigiadas e relatadas pelas empresas aos órgãos de inteligência e repressão do governo.
 
A conclusão está no relatório final do Grupo de Pesquisa da Comissão da Verdade dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região (GP-CVM/SJC).
 
Documentos levantados no Arquivo Nacional e Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo) comprovam que o monitoramento não era exclusividade do Estado e que as empresas mantinham seu próprio serviço de espionagem, com os mesmos objetivos e procedimentos dos organismos estatais.
 
Entre as empresas estão Caterpillar, Cebrace, Embrape, Ericsson, Fiel, Ford, General Motors, Johnson & Johnson, Kodak, National, Philips, Rhodia, Volkswagen, Avibras, Confab, Engesa, FNV, Mecânica Pesada, Tecelagem Parahyba, Vibasa, Villares, Cosipa, Embraer, Petrobras e Telesp.
 
A participação dessas empresas está relatada em documentos confidenciais do Centro Comunitário de Segurança (Cecose-VP), espaço em que ocorriam atividades de colaboração política e material entre o empresariado e o regime militar na perseguição ao movimento operário.
 
Muitos dos trabalhadores monitorados tiveram seus nomes incluídos na chamada “lista suja”, uma espécie de alerta para que as empresas não contratassem trabalhadores com histórico de participação em greves e outras ações do movimento sindical.
 
De acordo com um informe produzido por operadores de informação do Centro Técnico Aeroespacial (informe nº 114/AI-CTA/85), o Cecose-VP foi criado por indústrias do Vale do Paraíba e tinha como convidados integrantes do Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal e Estadual.
 
Os documentos foram produzidos entre 16 de julho de 1983 e 27 de setembro de 1985 – portanto, estendendo-se ainda por seis meses após o fim do governo militar no Brasil.
 
Entre os documentos há diversos informes relativos a greves na região, especialmente na Embraer, e nomes de trabalhadores envolvidos no movimento operário, como o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Antonio Donizete Ferreira, o Toninho.
 
Até mesmo publicações na imprensa eram usadas pelos militares como forma de monitorar o movimento operário. Informes produzidos pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA) traziam recortes dos jornais O Valeparaibano e Folha de São Paulo, com notícias sobre a greve na Embraer ocorrida em 1981.
 
“O Deops, por exemplo, recebia de várias delegacias por todo o estado exemplares da imprensa local que trouxeram notícias sobre o movimento operário, pessoas, organizações ou situações suspeitas. Essas compilações vinham acompanhadas de breves resumos elaborados pelos próprios remetentes, ou então sintetizados por OI (operadores de informação) da Divisão de Informações Sociais do Deops”, afirma um trecho do relatório.
 
Este estudo será parte integrante do relatório que está sendo elaborado pela Comissão Nacional da Verdade, no capítulo sobre a repressão do regime militar aos trabalhadores e participação das empresas.