O levante popular contra a ditadura de Bachar El Assad atinge momentos decisivos. No momento, tropas leais ao ditador bombardeiam Homs e atacam os rebeldes posicionados na periferia de Damasco. Os combates chegam até a cidade de Zabadani, perto da fronteira com o Líbano. O levante começou em março do ano passado, em uma região remota chamada Deraa, mas se estendeu a todo o país.

Durante meses foram reprimidas, de maneira brutal, todas as mobilizações populares que reivindicam a saída do ditador e que exigem liberdades democráticas. Até dezembro, organismos da ONU tinham contabilizado cerca de 5.500 vítimas mortais. Os comitês locais denunciam mais de 7.100 mortos, dos quais, só na cidade de Homs, se registraram 2.500 mortos.

O Exército da Síria Livre
A força crescente das mobilizações populares e o claro impulso que as vitórias em outros países da região – como a derrubada de Kadafi – geram uma profunda crise. Milhares desataram do exército sírio, dando início ao Exército da Síria Livre (ESL), constituído por soldados desertores e civis armados.

Sua força foi crescendo, acompanhando a radicalização dos protestos. Segundo o coronel Riad Al-Assaad, um dos chefes militares do exército rebelde, o ESL conta com mais de 40.000 combatentes Assad tem um enorme problema na própria composição de suas forças armadas. Embora seja numerosa, a esmagadora maioria dos 300 mil homens é recruta sunita, a qual, por duvidar de sua fidelidade, não se costuma atribuir missões de repressão. Precisamente destas forças provém o maior número de deserções. Por isso, na hora de reprimir, quem atua é a Guarda Republicana (10 mil soldados), bem como a Quarta Divisão Mecanizada (20 mil efetivos). É por isso que, apesar de sua superioridade em número e em armamento, o exército do regime até agora não conseguiu esmagar o levante popular armado:

Nas últimas semanas, os combates se agravaram. Damasco, que até agora tinha permanecido livre de combates abertos entre setores armados, foi protagonista de ferozes confrontos em seus arredores.
Encurralado pelas mobilizações populares e as ações armadas do ESL, Assad deve enfrentar outra dura realidade: o imperialismo, ao qual foi tão fiel, se distancia cada vez mais do seu governo.

Descartável como Kadafi
Para o imperialismo norte-americano e europeu, Assad se tornou inútil no papel de garantir a estabilidade de seu país e da tão convulsiva região; isto o converte em um elemento prescindível para o imperialismo, tal como aconteceu com Kadafi.
Há uns meses que o imperialismo (norte-americano e europeu) e as burguesias árabes, que no princípio o apoiaram com tudo, começaram a tomar distância de Assad. Primeiro pressionaram o ditador para buscar uma saída negociada. Mas nenhuma pressão revelou-se suficiente. Assad não aceita abrir nenhuma válvula de escape para descomprimir um pouco a situação. A Liga Árabe, seguindo a linha dos chefes imperialistas, passou da exigência da negociação a pedir diretamente a renúncia de Assad como requisito para a saída à crise.

Sua proposta “pacificadora” parte da renúncia de Assad (transferindo o poder ao vice-presidente) e propõe a conformação de um “governo de unidade” no marco de um “poder compartilhado” na Síria. Assim, a Liga Árabe se apresentou diante do Conselho de Segurança da ONU e exigiu uma resolução de condenação ao regime.

França, Grã-Bretanha e os EUA “se somaram” às exigências da Liga ante o Conselho da ONU, no sentido de obrigar a saída de Assad. Por sua vez, o imperialismo norte-americano está pressionando Assad para que renuncie. Na reunião do Conselho de Segurança da ONU, a Secretária de Estado, Hillary Clinton, acusou Assad de ter instalado um “reino do terror”.

Estes senhores estão longe de um suposto sentido humanitário para com o povo sírio. Essas potências são as mesmas que sempre sustentaram a dinastia dos Assad, a qual, por sua vez, sempre lhes foi fiel na entrega do petróleo, na aplicação do receituário neoliberal do FMI e em garantir a segurança das fronteiras de Israel. O que está por trás desta retórica “humanitária” é a necessidade vital que tem o imperialismo de derrotar o processo revolucionário na Síria e em toda a região; um processo que se agarava com a permanência de Assad no poder. O ditador passou a ser uma peça insustentável, um elemento de desestabilização. É isso o que tira o sono do imperialismo, expresso no projeto de resolução árabe-europeu sobre Síria na ONU, onde sustentam que “a estabilidade na Síria é chave para a paz e para a estabilidade na região”. O imperialismo, além de hipócrita, é pragmático. Sabe distinguir muito bem o tático do estratégico e, neste sentido, manter ou não um lacaio. Para eles, é assunto meramente tático.


É preciso unificar as mobilizações em todo o país e intensificar a luta armada até a queda do regime. É o momento de aprofundar a divisão das forças armadas do regime e das massas estenderem sua organização na forma de conselhos populares, com funcionamento democrático que, por sua vez, organizem as milícias armadas, cujas ações devem estar submetidas ao interesse geral da luta.

Toda e qualquer tipo de intervenção imperialista na Síria deve ser repudiada. É o povo sírio que deve decidir seu destino.

Fazemos, igualmente, um chamado a todo o movimento social e às organizações políticas que se reivindicam de esquerda ou defendem os direitos humanos a cercar de solidariedade ativa a luta do povo sírio.

O governo de Dilma Rousseff deve romper com o regime assassino de Assad. Não é possível dar apoio político a um ditador que afoga seu povo num banho de sangue.
Só um governo operário e popular poderá convocar e garantir a realização de uma Assembléia Constituinte livre, democrática e soberana para conquistar todas as liberdades democráticas e libertar o país do imperialismo. Só um governo operário e popular poderá encarar um verdadeiro combate contra o Estado de Israel, enclave político-militar do imperialismo na região.