Quando ocorreram os vazamentos de petróleo e gás nos Estados Unidos, no Golfo do México, escrevemos artigos, alertando que se as grandes multinacionais do petróleo eram capazes de tanta negligência em um país imperialista, seria fácil imaginar o que fariam aqui no Brasil, com a perfuração da camada do Pré-Sal. Agora, com o vazamento no Poço do Frade, provocado pela Chevron,

Esta exploração de petróleo na costa brasileira envolve ainda muitos riscos, e como as multinacionais do petróleo visam somente seus lucros e de seus acionistas, o perigo é iminente. Para garantir altos lucros, com rapidez e pouco investimento, o ritmo de trabalho é alucinante e em péssimas condições de segurança.

As multinacionais não se importam com o que irá acontecer na costa brasileira, com os desastres ambientais e com a morte de trabalhadores. Somente querem ganhar mais e mais dinheiro.

A Chevron, que causou este último acidente, provoca mortes e desastres em todo mundo e leva o nosso petróleo e o de outros países a baixo custo. Este desastre é um de muitos que, infelizmente, virão a seguir, pois a política do governo Dilma é intensificar os leilões em 2012, aumentando a presença destas empresas.

A COSTA BRASILEIRA PODE SE TRANSFORMAR EM UM MAR FÉTIDO
O Brasil possui domínio da exploração de petróleo em águas profundas – 3.000 a 4.000 metros – mas o desastre no Golfo do México alertou para a necessidade de cuidados na exploração do petróleo do Pré-sal, a 7.000 metros. As multinacionais, como a Chevron, não terão estes cuidados.

Professores do Coppe – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ alertam para que antes de começar a explorar na região pré-sal, o Brasil deveria tomar iniciativas para evitar que ocorram vazamentos descontrolados. Quanto mais profunda e mais longe da costa, mais riscos tem a operação.

A 300 quilômetros da costa, o mar tem condições mais adversas que o normal, e a simples transferência de petróleo da plataforma para um navio aliviador estará sujeita a maiores riscos que em campos mais tranqüilos.

Para eles o Teste de Longa Duração do campo de Tupi mostrou que é preciso repensar a utilização dos mesmos equipamentos. “A profundidade está associada à taxa de falha do BOP [Blow Out Preventer], que se mostrou insuficiente no caso da BP para evitar o vazamento. Toda a indústria achava que ele bastava, mas não bastou”, explicou Segen Estefen, diretor de Tecnologia da Coppe/UFRJ. “Vamos enfrentar uma situação muito mais drástica no pré-sal, precisamos de equipamentos mais efetivos do que o BOP atual”.

As explorações no Pré-sal ocorrem a uma distância da costa maior que a do Golfo do México, o que fará com que o óleo demore mais a chegar. No entanto, sua dispersão será maior e as conseqüências imprevisíveis. Além disso, não existem planos de contingência e nem existe tecnologia para o atendimento de emergências a grandes profundidades.

Um derrame de petróleo no mar é uma situação em que coloca em risco todo o ambiente afetado, a vida marinha e a vida das pessoas que vivem no local. A costa brasileira pode transformar-se rapidamente em algo fedorento, coberto por imensas manchas de óleo.

Para não ter acidentes dessa monta, é necessário evitar a exploração de petróleo em ecossistemas considerados sensíveis. Se isso não for possível o cuidado deve ser bem maior e isso somente poderá ser feito por uma empresa estatal, que não vise o lucro.

Por isso é fundamental a retomada do Monopólio Estatal do Petróleo e que a Petrobras se torne 100% estatal. Somente o povo brasileiro e os trabalhadores poderão extrair este combustível controlado de acordo com sua necessidade e de maneira segura.

CHEVRON PERFUROU ALÉM DO PERMITIDO E SUBESTIMOU PRESSÃO NO RESERVATÓRIO
O presidente da Chevron Brasil, George Buck mentiu dizendo que não perfurou além da profundidade autorizada, mas disse a verdade sobre que o vazamento é fruto de um “erro de cálculo” no poço de exploração do Campo de Frade, na Bacia de Campos.

A lama injetada no poço durante a perfuração não foi suficiente para segurar o fluxo do petróleo encontrado, subestimando a pressão no reservatório.

A extensão do poço a partir do subsolo é de 2.279 metros. A profundidade total, do espelho d’água até o final, é de 3.329 metros.

Já as investigações apontam que a petroleira Chevron perfurou além do que estava previsto, pelo menos 500 metros, de acordo com informações dadas a policia pelos próprios funcionários da empresa. E como prova esta a broca que eles utilizavam que pode perfurar até mais de 7 mil metros, o objetivo era chegar ao petróleo do pré-sal.

A ganância imperialista causou mais este desastre.

INSEGURANÇA E FALTA DE FISCALIZAÇÃO
O vazamento foi identificado no dia 7 de novembro, sem grandes alardes e nem repercussão na mídia.

Quando foi detectado, a empresa afirmou que o volume total do vazamento era de 400 a 650 barris. No entanto, estudo feito pelo geólogo americano John Amos da ONG SkyTruth, especializada em interpretação de fotos de satélites com fins ambientais, afirma que o vazamento é dez vezes maior do que o divulgado. A partir de imagens de satélite, já foram derramados cerca de 15 mil barris de óleo (2.384.809 litros) no mar, uma quantidade de 3.738 barris por dia.

A própria Agência Nacional do Petróleo (ANP), gerenciada por Haroldo Lima, que costuma proteger as multinacionais, foi obrigada a apresentar seus cálculos que demonstra que o derramamento de óleo equivale a 3,3 mil barris desde 7 de novembro — cinco vezes mais do que afirma a Chevron. O responsável pela empresa no Brasil levou 11 dias para convocar uma coletiva de imprensa.

A falta de segurança na indústria de petróleo no Brasil já passou de qualquer limite, ela é grande com relação ao Sistema Petrobrás, e escandalosa em relação às empresas privadas e terceirizadas.

Só este ano, foram 16 mortes por acidentes de trabalho e já são cerca de 310 petroleiros mortos nos últimos 15 anos.

Shell, Chevron, BP, e as demais multinacionais do petróleo estão acostumadas a causar acidentes ambientais em todo mundo. Eles terceirizam praticamente toda a operação das plataformas.

A Chevron contratou para trabalhar nesta poço a Transocean, envolvida no maior vazamento da história da indústria de petróleo ocorrido Golfo do México, em 2010. Os três poços da Chevron no campo de Frade são perfurados pela Transocean.

Como se não bastasse o crime ambiental a Chevron é acusada da contratação de estrangeiros ilegais. Eles trouxeram técnicos estrangeiros sem visto para trabalhar Brasil e os colocaram para trabalhar diretamente em suas plataformas.

Em mais uma demonstração que a Chevron não cumpre a legislação brasileira.

AS MULTAS NÃO VÃO SERVIR PARA NADA
O “Grupo de Acompanhamento” criado para fiscalizar as medidas que vem sendo tomadas pela Chevron para conter o vazamento de óleo, concluiu que o processo de cimentação do poço, iniciado na madrugada do dia 15, tem dado “resultados positivos, com redução substancial do vazamento”.

O grupo é formado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Marinha.

Mas o próprio Secretário estadual de Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, afirmou o contrário, disse que o óleo continua vazando sim, e que serão necessárias mais cinco operações de cimentação para vedar completamente o poço e acrescentou que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) não apresentou a falha geológica que foi identificada e que isso era um “erro gravíssimo”: Para ele este acidente está “mostrando um festival de erros”.

Enfim a mancha é muito grande e o óleo continua vazando. Esta poluindo o litoral fluminense, afetando a biodiversidade, e a Chevron esta sonegando informações.

Isso ocorre por que não existe interesse do governo Dilma em endurecer os processos de licenciamento ambiental e nem de se cumprir a própria legislação ambiental, o que vem em primeiro lugar é a garantia dos lucros das grandes multinacionais.

Por isso não há investimentos em fiscalização e o IBAMA está sucateado.

Agora a política do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima, é de aplicar “multas pesadas” pelos acidentes, mas os valores só serão definidos depois de controlado o vazamento. E podem ter certeza que serão irrisórios frente aos bilhões de dólares de lucro que terá esta empresa.

Inclusive o mais importante para a empresa é que a produção foi mantida no campo Frade. O volume diário de produção continua de aproximadamente 79 mil barris de óleo equivalente por dia.

PRIVATIZAÇÃO AUMENTA A PRECARIZAÇÃO
Com a abertura da indústria brasileira de petróleo nos anos 90, durante o governo FHC, reafirmada pelos governos de Lula e Dilma, o país passou a leiloar campos estratégicos, a maioria arrematados por multinacionais.

O campo de Frade, onde ocorreu o vazamento da Chevron, é o oitavo maior produtor do país individualmente. Em setembro ele produziu 74,768 mil barris de óleo e 899,35 mil metros cúbicos de gás.

Outros campos estratégicos, como os de Ostra e Peregrino, também são operados por multinacionais: Shell e Statoil, respectivamente.

EXPROPRIAR A CHEVRON SEM INDENIZAÇÃO
Temos que defender a retomada do monopólio estatal, através da Petrobrás 100% estatal e pública, além da destinação social dos recursos gerados pelo petróleo e gás natural.

Para isso temos que estar JÁ contra os leilões de concessão que pretende fazer o governo Dilma.

E frente a este acidente e o desrespeito as leis nacionais, efetivado por esta empresa, temos que exigir que o governo Dilma, que diz defender os interesses dos trabalhadores e a soberania nacional, EXPROPRIE A CHEVRON SEM NENHUMA INDENIZAÇÃO e assuma o controle da produção de seus poços de petróleo.

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ARQUIVO

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