Enquanto isso, Joaquim Roriz renuncia para continuar impuneOs escândalos de corrupção estão desmoralizando as instituições da democracia dos ricos umas após as outras. Mais uma vez, as regras do jogo sujo estão expostas na mesa. Grandes empresas e bancos financiam ilegalmente os grandes partidos, inclusive o PT. Uma justiça corrupta, envolvida em esquemas de propina, que livra a cara dos poderosos para punir os pobres. Um congresso repleto de picaretas, todos no bolso dos grandes capitalistas nacionais e estrangeiros. O mar de lama também atinge o Palácio do Planalto, evolvendo familiares, amigos e aliados de Lula. Mais uma vez o presidente diz que “não sabia de nada”.

Para continuar impune
Enquanto a crise política se aprofunda, na semana passada o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) renunciou ao seu mandato para escapar da cassação. O ex-governador segue a mesma trilha de mensaleiros e sanguessugas, que renunciaram aos seus cargos para voltar nas próximas eleições. Roriz foi flagrado numa gravação telefônica combinando a divisão de R$ 2,23 milhões num escritório de Brasília. A partilha do dinheiro envolvia o ex-presidente do Banco de Brasília, Tarcísio Franklin de Moura, e o dono da companhia aérea Gol, Nenê Constantino.

Com a renúncia, o suplente de Roriz, Gim Argello (PTB), poderá assumir sua vaga no Senado, mas Gim enfrenta as mesmas acusações que recaem sobre seu antecessor. Como se isso não bastasse, o suplente também é investigado pelo Ministério Público por ter recebido vantagens na regularização de um condomínio. Argello teria ainda cometido uma série de irregularidades na Câmara Legislativa do Distrito Federal, quando presidia a Casa, onde teria causado um prejuízo de R$ 1,7 milhão. Ao todo o suplente responde a seis processos ou inquéritos civis e criminais.

A rapidez do desfecho do caso Roriz contrasta com a lentidão dos processos contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Isso tem uma explicação. Ao contrário de Renan, o corrupto Roriz não tinha as costas quentes para manipular as investigações nem o apoio incondicional de Lula. Além disso, o governo tentou utilizar o escândalo envolvendo Roriz para desviar as atenções de todo o mar de lama que envolve Renan Calheiros. Não funcionou.

“Não arredo o pé”
O deprimente espetáculo de corrupção rende imagens e situações cada vez mais grotescas. O cinismo é sem precedentes. Com o apoio incondicional do governo, Renan se sente mais confiante. Na última semana, o senador chegou a declarar que “não arreda o pé” da presidência do Senado. Além de ser acusado de ter recorrido a um lobista da construtora Mendes Júnior para pagar a pensão de sua filha com uma jornalista, Renan é acusado de enriquecimento ilícito e de ter beneficiado a cervejaria Schincariol em Alagoas. Segundo denúncias da revista Veja, a empresa adquiriu por R$ 27 milhões uma fábrica de seu irmão, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), quando esta estaria prestes a fechar. O preço estaria acima do de mercado, mas a conclusão do negócio serviu para que Renan conseguisse evitar a cobrança de uma dívida de R$ 100 milhões da Schincariol com o INSS e uma outra com a Receita Federal.

PCdoB defende Renan
Como se não bastassem todas as estripulias para livrar a cara de Renan, chamou a atenção o papel que está sendo cumprido pelo PCdoB. Ressuscitando o surrado argumento dos “golpe das elites”, o partido ignorou todas as evidências contra Renan e disse que as denúncias não passam de uma manobra da direita e da mídia golpista para atingir o governo Lula. A última edição do jornal do PCdoB defendeu explicitamente o senador corrupto. “Até agora, todos os depoimentos e documentos que chegaram ao conhecimento da Comissão de Ética do Senado mostram que não há qualquer veracidade nesta acusação plantada pela própria jornalista Mônica Veloso que, junto com seu advogado Pedro Calmon, tentam chantagear o presidente do Senado”, diz o artigo publicado no jornal. Para o partido, o plano do “Fora Renan” “é pegar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.

Mais uma vez, o PCdoB age como cão de guarda do governo Lula, repetindo a mesma tese furada do golpe das elites aplicada para defender o governo na crise do mensalão, em 2005. Trata-se de mais uma falsificação da realidade, tipicamente stalinista, que tenta esconder o óbvio: Lula se aliou à direita e governa para a grande burguesia.

Por outro lado, pesa também a relação institucional que o partido construiu com Renan Calheiros quando o deputado Aldo Rebelo (PCdoB) presidia a Câmara dos Deputados. Ao se converter em legenda eleitoral, financiada com o dinheiro do Estado e de empresários, o PCdoB aprofundou como nunca a sua decadência política.

Nenhuma confiança
O Congresso Nacional já mostrou inúmeras vezes seu compromisso de abafar qualquer tipo de escândalo. Pelos corredores da instituição a corrupção caminha ao lado de ataques que o governo e parlamentares querem infligir aos trabalhadores brasileiros.

Nenhuma investigação será levada até o fim pelo Congresso, pois a imensa maioria dos parlamentares está com o rabo preso. Portanto, qualquer proposta de uma CPI para investigar os escândalos de corrupção vai acabar em pizza. Defendemos a bandeira do “Fora Renan”, mas discordamos dos parlamentares do PSOL que, junto aos partidos burgueses como PPS e PV, jogam a ilusão de que é possível “recuperar” o Congresso Nacional. Essa idéia é semelhante à proposta defendida pelo PT de “ética na política” que deu no que deu. Além disso, joga ilusões na possibilidade de reformar essa instituição corrupta que está a serviço do capital.

Os trabalhadores não devem depositar nenhuma confiança neste Congresso de picaretas. Defendemos a imediata saída de Renan Calheiros, mas não temos a ilusão de que é possível “limpar o Congresso”. Por isso, defendemos a quebra de todo sigilo fiscal e bancário dos acusados e das grandes empresas, além da prisão e do confisco dos bens de todos os corruptos e corruptores. Deputados e senadores devem receber salários proporcionais aos dos trabalhadores, compatíveis com os de operários especializados. É preciso ainda acabar com a impunidade do Congresso, instituindo a revogabilidade dos mandatos.

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