Já se foi o tempo em que os chamados “países emergentes” eram considerados o bote salva-vidas da economia global. No início da crise financeira, analistas tentavam acalmar os mercados afirmando que o crescimento dos países do “Bric” (Brasil, Rússia, Índia e China) compensariam a desaceleração da economia norte-americana e evitariam uma recessão mundial.

Com o aprofundamento da turbulência financeira, tal tese foi caindo por si só no descrédito. Hoje, é unânime que a crise vai afetar todo o planeta e que os “países emergentes”, até mesmo a poderosa China, é extensão da economia imperialista.

No Brasil, o governo Lula negou que as conseqüências da crise chegariam ao país até onde pôde. “Que crise? Pergunte ao Bush”, chegou a esnobar a jornalistas dias antes do pânico generalizado que tomou conta dos mercados. Para o governo, as reservas internacionais e a expansão do mercado interno blindariam o Brasil. Até o agravamento da crise, a orientação interna era para que se preservassem as aparências. O crescimento econômico do último período ajudava a sustentar esse discurso.

Em plena “segunda-feira negra”, dia 29 de setembro, o dia em que os mercados do mundo inteiro tiveram uma queda histórica devido à rejeição ao plano de Bush no congresso norte-americano, o ministro da Fazenda Guido Mantega chegou a declarar que estava “tudo normal”. As conseqüências da crise, no entanto, forçaram o governo a baixar os pés à terra e mudar o discurso.

Nesse último dia 30, Lula chegou a declarar que “a crise é muito séria e tão profunda que nós ainda não sabemos o tamanho”. A segurança abandonou definitivamente a fala do presidente. “Poderemos correr riscos, porque uma recessão em caráter mundial pode trazer prejuízos para todos nós”, afirmou.

Ainda que insista na tese dos “fundamentos sólidos da economia brasileira”, Lula já não é capaz de negar que o Brasil sentirá os efeitos da crise. O governo sabe muito bem que o país será atingido fortemente. Matéria desse dia 1º de outubro no jornal carioca O Globo afirma que o governo já prepara, internamente, medidas como a redução da previsão de receitas, corte adicional de despesas e o aumento do superávit primário (economia do governo para pagar os juros da dívida pública).

Ao mesmo tempo, o governo estuda medidas para suprir crédito a setores como as indústrias e os exportadores, tentando amenizar a escassez de crédito internacional.

Lula e o governo sabem que a crise atingirá o país. E já escolheram quem vai pagar por ela.