Importantes categorias operárias estão presentes no 2° Congresso da CSP-Conlutas, entre elas, metalúrgicos de várias partes do país. Um dos setores mais dinâmicos e centrais da economia nacional, a categoria sofre em cheio a atual crise, mas também é protagonista de algumas das principais lutas do último período.
 
São trabalhadores de várias regiões como São José dos Campos (SP), Taubaté (SP), Gravataí (RS), Joinville (SC), Curitiba (PR), ABC Paulista, Camaçari (BA) e de cidades de Minas Gerais. Uma boa parte são trabalhadores das principais montadoras do país, como GM, Volks, Ford, Chery, entre outras.
 
No setor onde a presença de multinacionais é muito marcante, o que encontramos são realidades muito semelhantes, inclusive em nível internacional. Semelhanças que podem ser verificadas, seja na forma como as empresas atuam para explorar os trabalhadores e os ataques que têm feito, seja na resistência que tem ocorrido no último período. Na delegação estrangeira presente ao Congresso da CSP-Conlutas também há metalúrgicos vindos de Portugal, por exemplo, que relatam situações parecidas.
 
A crise sobre os trabalhadores
Demissões, suspensão de contratos de trabalho (lay-off), férias coletivas, terceirização e redução de salários e direitos são os ataques relatados por todos os metalúrgicos presentes, independente de região.
 
O crescimento do desemprego na indústria já é uma realidade, afetando o setor metalúrgico com força. Já são milhares de postos de trabalho fechados na região de Belo Horizonte e Contagem, por exemplo. Nas montadoras, a situação também já é muito preocupante. Companheiros da Volks, GM, Ford e outras falam dos cortes. Em um ano, o setor já fechou mais de 14 mil postos de trabalho, sendo cinco mil somente este ano.
 
Em quatorze sindicatos filiados à Federação dos Metalúrgicos de Minas Gerais, somente desde o início do ano foram 10 mil demissões, considerando apenas as rescisões que passam pelos sindicatos. Na Novellis, que encerrou as atividades, cinco outros trabalhadores perderam os empregos, num efeito em cadeia, segundo nossos estudos”, disse Jordano Carvalho dos Santos, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos  de São João Del Rei e coordenador político da Federação Metalúrgica.
 
Mesmo em regiões onde as empresas iniciaram atividades há pouco mais de um ano, como a Chery, em Jacareí, ou as fábricas da GM e da BMW, em Joinville/SC, e a perspectiva é de crescimento de vendas e investimentos, os trabalhadores também relatam ataques aos direitos.
 
O metalúrgico da Chery e dirigente sindical Guirá Borba, de Jacareí/SP, falou sobre a greve de 32 dias que atingiu a montadora chinesa há cerca de um mês. Guirá denunciou o plano da empresa de impor o padrão chinês de exploração na planta brasileira, com salários e direitos rebaixados.
 
Trabalhadores da região de Joinville, ligados às bases onde estão plantas novas da GM e d BMW, relataram a mesma situação.  Com o apoio de sindicatos da CUT e da Força Sindical, direitos e salários são rebaixados.
 
Um trabalhador da GM de Gravataí destacou. “Os trabalhadores esperavam que quando a GM viesse para Gravataí, teríamos os mesmos direitos que as plantas de São Paulo. Ocorreu o inverso. Ela implantou um padrão rebaixado de salários, direitos e uma superexploração ainda maior e quer fazer da fábrica o modelo para suas outras plantas, como ocorreu por exemplo nos ataques aos companheiros de São José”, disse.
 
A adoção do lay-off é outra realidade que afeta duramente os metalúrgicos atualmente, principalmente das montadoras. “As empresas estão usando o lay-off para demitir”, denunciou um trabalhador da Ford. Somente nas montadoras, atualmente em torno de 17 mil trabalhadores estão com os contratos de trabalho suspensos no país.
 
Terceirização e PPE
Os metalúrgicos veem com desconfiança e repúdio duas das principais propostas que podem os afetar profundamente, caso sejam colocadas em prática. São elas, o Projeto de Lei da Terceirização, em tramitação no Senado, e o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), proposta da CUT em estudo pelo governo.
 
Em Portugal, o avanço da terceirização nos últimos anos criou uma situação onde os trabalhadores tem contratos mensais. Há situações de contratos quinzenais. Fábricas com grande parte dos funcionários terceirizados. Uma situação infernal. A batalha terá de ser muito forte caso esse projeto seja aprovado no Brasil”, afirmou um metalúrgico português, que participa do Congresso.
 
Sobre o PPE, as críticas também são contundentes. “A CUT fala que é um plano de proteção ao emprego, mas é um programa de proteção às empresas, pois se reduz salário do trabalhador, para beneficiar as empresas que já ganharam muito nos últimos anos”, afirmou um metalúrgico da GM de Gravataí.
 
Campanha unificada por direitos e empregos
Trabalhadores da região do ABC Paulista presentes destacam que foi do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que foram fechados os principais acordos de entrega de direitos nos últimos anos que, inclusive, afetaram outras bases, mas que no último período também tem sido os metalúrgicos da região que protagonizaram importantes resistências, como as recentes greves na Volks e na Mercedes.
 
Para o metalúrgico da GM de São José dos Campos e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Luiz Carlos Prates, o Mancha, a realidade no setor impõe a necessidade da unidade dos trabalhadores e de uma ampla campanha para defender direitos e empregos.
 
Temos o desafio de discutir como vamos lutar para barrar as demissões, enfrentar as situações de lay off, a ameaça de redução salarial com o PPE da CUT, a terceirização, entre outros ataques”, disse Mancha.
 
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Antônio de Barros, o Macapá, citou algumas propostas e bandeiras que devem ser defendidas, como a luta pela estabilidade no emprego, a adoção de um contrato nacional de trabalho, piso salarial nacional, redução da jornada de trabalho sem redução salarial, a proibição da remessa de lucros pelas multinacionais, nacionalização e estatização de empresas que demitirem em massa, entre outras.
 
Uma greve geral nas montadoras se faz cada vez mais necessária para garantirmos nossos direitos e reivindicações”, defende Macapá.
No sábado, os metalúrgicos presentes no 2° Congresso Nacional da CSP-Conlutas realizarão uma reunião setorial, onde deverão ser trocadas experiências, informações e definir um plano de lutas.
 
*os trabalhadores da base que não podem aparecer publicamente tiveram os nomes omitidos