Mais de 150 pessoas se reuniram na Câmara de Vereadores de São José dos Campos (SP) na tarde desta quarta-feira no ato de lançamento da campanha nacional pela reestatização da Embraer e contra as demissões. Chamou a atenção a representatividade e o sentimento de unidade expresso por todos os presentes na defesa do emprego e da reestatização da empresa.

Compuseram a mesa, coordenada por Luís Carlos Prates, o Mancha, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, Rosangela Calzavara e Adilson dos Santos, o Índio, também diretores do sindicato. Além deles, estavam representadas as centrais sindicais Conlutas, Intersindical, CTB e CGTB. Também falou em defesa dos trabalhadores Aderson Businger, conselheiro da OAB-RJ. Partidos e organizações de esquerda estavam presentes: MST, Pastoral Operária, MUST, MTST, PSTU e PSOL. O vereador Tonhão Dutra (PT) e um representante do deputado Ivan Valente (PSOL-SP) também estavam na mesa.

Atnagoras Lopes, da Conlutas, parabenizou a presença de setores tão diversos. Para ele, as demissões na Embraer reacenderam o debate sobre a privatização da empresa, que ele considera um patrimônio público, nos anos 1990. “O governo Lula não foi omisso no caso da Embraer, porque essa omissão demonstra um lado, o dos empresários”, disse.

O dirigente da Conlutas foi além. Ele defendeu que o momento de crise e a catástrofe do desemprego impõem a necessidade de “pautar o debate estratégico e apontar uma saída para a classe trabalhadora”. Para Atnagoras, a saída é um mundo socialista. Ele finalizou a sua fala chamando todos os presentes a construir o dia 1º de abril como o Dia Nacional de Mobilização. “Temos de pôr em prática nosso papel histórico nesse momento, que é mobilizar, mobilizar, mobilizar”, concluiu.

Ana Paula, da Intersindical, também fez um chamado à construção do dia 1º de abril. Ela disse que os trabalhadores não podem aceitar nenhuma retirada de direitos ou redução salarial. “Eles vão tirar nossos direitos e vão continuar demitindo”, disse. Ana Paula ressaltou que a luta da Embraer é uma luta de toda a classe trabalhadora e informou que a Intersindical vai apresentar uma proposta de documento para a campanha pela reestatização da empresa.

Soberania nacional
Representando o PSTU, Toninho Ferreira, que foi candidato a prefeito de São José dos Campos pelo partido nas últimas eleições, era funcionário da Embraer na época da privatização. Ele lembrou as mobilizações da época, as mentiras e a ofensiva do governo federal e da burguesia contra os trabalhadores. Toninho disse que Collor iniciou o processo e Fernando Henrique Cardoso vendeu a estatal. Mas também alertou que Lula continuou privatizando outras estatais e patrimônios públicos, como os poços de petróleo.

Toninho criticou duramente o presidente Lula. Ele explicou que, em 2007, uma compra de aviões pela Venezuela foi barrada pelos investidores estrangeiros. “Cadê a soberania nacional?”, questionou. Ele acredita que é possível e necessária a reestatização da Embraer, “mas o controle tem que ser nosso, nós queremos mais do que torcida”, falou referindo-se à reunião do sindicato com Lula, em que o presidente disse que estava torcendo pelos trabalhadores.

Unidade do campo e da cidade
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estava representado pelo seu dirigente Gilmar Mauro. O movimento vem sofrendo uma dura perseguição que, para ele, está ligada à crise e à possibilidade de se intensificarem as convulsões sociais em todos os setores.

Ele disse que ainda não há uma posição do MST sobre o caso das demissões da Embraer, mas se mostrou solidário e defendeu a campanha. Gilmar Mauro acredita que “só estamos no início de uma crise que não é nossa, é do capital, mas vai ter consequências graves”

Outros movimentos populares também participaram do ato. Os moradores da Ocupação Pinheirinho, de São José dos Campos, a maior ocupação urbana do país, estão empenhados na campanha. A ocupação é dirigida, atualmente, pelo Movimento Urbano de Trabalhadores Sem Teto (MUST). Valdir Martins, o Marrom, falou representando o movimento.

Por uma saída unitária
Depois das falas, os presentes no plenário gritaram a palavras-de-ordem “essa unidade é pra lutar / e a Embraer reestatizar!”.

O caso das demissões na Embraer deu grande visibilidade e virou símbolo de uma tragédia que a crise está impondo a milhões de trabalhadores no mundo inteiro: o desemprego. Em São José mesmo, no início do ano, a General Motors demitiu mais de 800 funcionários.

Aí está a importância deste ato. Não da atividade em si, mas principalmente pela unidade que representou e que precisa ser mantida em todas as lutas. O dia 1º de abril pode ser um grande dia de mobilizações, um marco inicial para a resistência dos trabalhadores contra a crise, para fazer com que os patrões que a criaram paguem por ela.

Neste momento, a campanha pela readmissão dos 4.200 operários e pela reestatização da Embraer torna-se decisiva para as lutas futuras. Uma vitória nesta campanha significa uma vitória de toda a classe trabalhadora.