O mês de março começou com mais alguns marcos na história da luta palestina pelo seu território. No dia 5, o estudante universitário Mahmud Hamdan Salim Qawasmi, 20, detonou explosivos que levava amarrados ao seu corpo, num ônibus em Haifa, norte de Israel. Morreram 15 pessoas. No dia seguinte, tropas israelenses mataram 11 palestinos (ao menos um deles, decapitado por disparo de um tanque), no campo de refugiados de Jabalya.

Ainda neste mês, no dia 4, Israel prendeu 26 palestinos, na Cisjordânia, durante o controle de identificação. Um dia antes, soldados de Israel tinham invadido o campo de refugiados de Namsawi, na Faixa de Gaza, matando oito palestinos, entre eles uma grávida de 33 anos, dentro de sua própria casa.

Em fevereiro, as incursões do Exército de Israel na Faixa de Gaza e outras áreas mataram 44 palestinos em apenas sete dias de ação das tropas. O governo de Israel justificou a ofensiva como reação aos ataques do campo de refugiados de Jabalya contra Sderot, localidade israelense. Já são mais de três mil mortos na atual Intifada, iniciada em setembro de 2000.

Em paralelo aos ataques dos EUA ao Iraque, Israel vem intensificando suas ações contra os palestinos. É grande a probabilidade de que Israel expanda sua presença na Palestina, enquanto os olhares do mundo estiverem voltados para a guerra. Para o secretário-geral da União da Juventude Árabe da América Latina (UJAAL), Raed el Arabi, “o Estado sionista aproveitará a guerra contra o Iraque para massacrar o povo palestino e expulsar grande parte para a Jordânia, eliminando assim a Intifada.

Há o interesse do imperialismo e de seus aliados em um redesenho no mapa do Oriente Médio, criando o Reino Hacimì unificado, que teria uma parte do território do Iraque na fronteira, para ter um novo aliado histórico, controlar as riquezas naturais e pôr fim a qualquer forma de luta dos povos árabes”.

Outro Bush, outro acordo de Paz

Semanas atrás, o governo Bush declarou que está disposto a retomar o processo de acordos de Paz entre Israel e os palestinos. Para alguns, este é um meio de os norte-americanos esfriarem os ânimos dos árabes que querem a paz, enquanto atacam os iraquianos, como afirma o Coordenador do Programa de Segurança Cooperativa (NAIPPE/ USP), Gunther Rudzit: “esta seria uma manobra para a administração Bush demonstrar que há ligação entre o Iraque a situação palestina e acenar com uma possível paz para a região em curto prazo”. Por isso Gunther não acredita na intensificação dos ataques israelenses: “não seria bem vista pelos americanos nesse esforço de apaziguar os países árabes enquanto atacam um país da região”. Segundo Raed el Arabi é impossível a paz via acordo: “estamos contra toda negociação com o inimigo. A paz só é possível se derrotarmos o imperialismo e seus cúmplices”.

Pior do que está

O Centro de Estatísticas da Palestina (PCBS) acompanha as condições econômicas das famílias palestinas. Os dados da pesquisa trimestral sobre força de trabalho mostram que 314 mil palestinos estavam desempregados ao final de 2002.

Ainda segundo o PCBS, entre o terceiro trimestre de 2000 e o quarto trimestre de 2002, o índice de dependência econômica nos territórios palestinos subiu 35.4%. Também cresceu o número de empregados que ganham salários abaixo do valor da linha de pobreza (1642 NIS, por casa com dois adultos e quatro crianças), de 43.5% no terceiro trimestre de 2000 para 50.2% no quarto trimestre de 2002. Para Raed esta situação se agravou com o acordo de Oslo: “[ele] é uma morte permanente, não traz nenhum benefício”. Enquanto Gunther Rudzit acredita que “essa situação contribui para que cada vez mais jovens se voluntariem para serem homens-bombas”.

Diante dos constantes ataques do Exército de Israel aos campos de refugiados palestinos, a tendência é que piore a situação destes. Como diz o Conselheiro Legal da Delegação Palestina para as Negociações de Oslo, Jamal Mahd Hasan Harfoush, “esta guerra serve para realizar o sonho dos sionistas, e mais perdas e massacres no povo palestino”. Apesar disso, “este povo nunca vai renunciar a luta. É um povo que luta sem armas, com pedras, com corpos. Estas pedras no futuro se converterão em verdadeiras armas. A Intifada hoje é o principal obstáculo do plano imperialista na região”, afirma Raed.

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