Existe um símbolo da corrupção neste país, ao redor da dupla PC Farias e Fernando Collor. Como se sabe, os dois roubaram do país algo em torno de R$ 2,5 bilhões. Sempre houve corrupção no país, mas a quantidade de dinheiro impressionou a todo o mundo, estabelecendo uma espécie de recorde nacional.

No governo FHC, com a farra da privatização das estatais, roubou-se ainda mais, embora até hoje não se saiba bem quanto foi desviado do dinheiro público.
O governo Lula parece disposto a quebrar o recorde de PC Farias e Collor. Só as contas de Marcos Valério movimentaram algo em torno de R$ 3 bilhões. Triste fim da “ética na política” petista, a superação do recorde símbolo da corrupção no país.

Na época, atribuiu-se ao cinismo de Collor as suas negativas sobre o conhecimento dos esquemas de corrupção de seu tesoureiro PC Farias. Só a origem de Lula no movimento operário pode explicar que, entre os ativistas de esquerda, exista ainda alguma dúvida sobre o envolvimento do presidente nos esquemas atuais de corrupção.
Os que acompanharam a montagem do governo Lula sabem que são três as figuras-chaves no governo, além do presidente: Antônio Palocci, José Dirceu e Luís Gushiken. Já está claro que existe um esquema bilionário de corrupção, no qual os três estão envolvidos, que serve ao projeto político petista (além de enriquecer seus dirigentes).

Não se trata, porém, de nenhuma invenção petista. Lula herdou boa parte dessas armações de governos anteriores, em particular de FHC. A atual divulgação destes escândalos pela imprensa tem a ver com isso: a burguesia (e seus partidos tradicionais como o PSDB e PFL) conhece de sobra esses esquemas, e é dona dos grandes meios de comunicação. Além disso, os partidos da oposição burguesa controlam diretamente também boa parte da polícia e da Justiça, podendo investigar e denunciar quando querem.

Uma parte do esquema era o desvio do dinheiro das empresas estatais e ministérios, por meio de contratos superfaturados com empresas. Os partidos “aliados” (como o PTB, PP e PMDB) eram parte desses esquemas, com suas indicações para as diretorias das entidades. Desse dinheiro, aparentemente, era que saía o pagamento do mensalão. Tudo indica que José Dirceu fosse o encarregado dessa parte do plano (com sua equipe: Delúbio Soares e Silvio Pereira), e não por acaso é o que está mais exposto neste momento.

Luís Gushiken é o homem dos fundos de pensão como a Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), e outros que movem mais de R$ 100 bilhões. Este dinheiro é aplicado em inúmeros locais, gerando uma possibilidade fantástica de operações fraudulentas.

Foi a aplicação de dinheiro desses fundos no BMG e no Banco Rural de Minas que possibilitou, aparentemente, toda a movimentação financeira de Marcos Valério. Foi a influência desses fundos sobre a Telemar que possibilitou o enriquecimento súbito do filho de Lula, com a injeção de R$ 5,2 milhões em sua empresa. De quebra, Gushiken também se tornou um milionário com o fantástico crescimento de sua empresa, a Globalprev.

Palocci é a outra peça desse tripé, que está sendo totalmente preservado dos escândalos. Não por acaso, esta crise começou com o caso da corrupção dos Correios e do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). O caso dos Correios seguiu em frente, o do IRB não, porque Palocci estava envolvido com um de seus diretores. Palocci tem a relação direta com os bancos, fonte inesgotável de corrupção. Não existe corrupção sem corruptores, e as grandes empresas são as grandes corruptoras. Dentre as grandes empresas, os bancos são recordistas, em todo o mundo, em casos de corrupção. Até agora, tanto Palocci como os bancos estão quase fora do noticiário de corrupção (salvo os relativamente pequenos BMB e Banco Rural).

O esquema bilionário de corrupção petista serve para seu projeto político-eleitoral. É ele que financia as milionárias campanhas eleitorais petistas, que se transformaram no “modo petista” de participação nas eleições. Como sempre ocorre, ao desviar dinheiro público para o PT, muitos de seus dirigentes ficam com uma parte para si próprios.

A hipocrisia da oposição burguesa é gigantesca, porque eles fazem exatamente o mesmo, com as mesmas dimensões. A cueca do assessor petista e as malas do deputado do PFL transportavam dinheiro público roubado. Aliás, boa parte da luta furiosa da oposição burguesa para voltar ao governo federal em 2006 tem relação com o objetivo de retomar o aparelho de Estado para assaltar seus cofres. Já que a política econômica é a mesma, uma parte considerável da disputa entre o PT e a oposição burguesa relacionam-se com o controle desses esquemas de corrupção. Neste sentido, não se diferencia muito da guerra entre quadrilhas do narcotráfico pelo controle dos morros do Rio de Janeiro.

Lula sabia de tudo. A corrupção bilionária é parte integrante do projeto político-eleitoral de Lula e do PT. Não por acaso, Lula cercou-se dessas figuras, que, até hoje, são sua equipe principal de trabalho. A tentativa de enganar a população, com a farsa de que Lula não sabe de nada, tem o mesmo valor de afirmativas semelhantes de Fernando Collor.

Os trabalhadores e os jovens estão perplexos. Existe muita confusão. Como se pode olhar para Lula e ver Collor? Como se pode enxergar PC Farias em Delúbio, ou em Marcos Valério, ou Zé Dirceu? É difícil acreditar, mas os golpes da realidade vão fazendo com que as máscaras caiam uma a uma.

É hora de sair da perplexidade, de romper a paralisia. A Conlutas convocou uma marcha a Brasília no dia 17 de agosto. É a hora da virada. Todos às ruas!

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 225
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