Redação

Açoitada por uma epidemia de cólera, além de sofrer com os efeitos devastadores do terremoto que causou 250 mil mortos, o Haiti agora é palco de protestos contra as fraudulentas eleições presidências realizada no último domingo.

Na última segunda-feira, dia 30, milhares de haitianos foram às ruas de Porto Príncipe para exigir a anulação das eleições presidenciais. Os manifestantes queimaram pneus nas ruas e se dirigiram a postos de votação, onde destruíram cédulas de votação que já estavam nas urnas.

O protesto ocorreu depois que doze dos dezoito dos dezenove candidatos denunciaram fraudes no processo eleitoral. Os candidatos acusam o presidente haitiano, René Préval, de favorecer o candidato de seu Partido da União, Jude Celestin.
A fraude eleitoral foi tão descarada que até mesmo observadores norte-americanos estimaram que as eleições presidenciais estavam repletas de irregularidades.
“Desde a proibição do partido mais popular de participar da eleição, até irregularidades no dia do pleito, incluindo muitos relatórios de enchimento de urnas, assim como o impedimento de muitos eleitores de votar, estas eleições foram uma farsa óbvia do início ao fim” , disse Mark Weisbrot, co-diretor do Centro de Pesquisa Política e Econômica, em um comunicado.

No entanto, pouco depois, os principais candidatos opositores recuaram do seu pedido de anulação das eleições gerais de anteontem. “Vou esperar os resultados” , disse Michel Martelly, cantor de kompa, o ritmo tradicional do Haiti, um dos candidatos.

Por outro lado, organismos internacionais já começam a se inclinar pela posição de legitimar o processo eleitoral. É o que acontece com a Organização dos Estados Americanos (OEA). Segundo o secretário-geral adjunto da OEA, Albert Ramdin, as eleições presidenciais são válidas, apesar de denúncias de irregularidades. “A meu ver, as eleições ainda são válidas, embora as irregularidades devam ser levadas em conta muito seriamente; elas precisam ser investigadas”, disse.

Tropas do Brasil devem deixar o Haiti
O Haiti vive dias dramáticos. A epidemia de cólera já matou quase 1.800 pessoas; há evidencias de que soldados da Minustah, ocupação da ONU liderada pelo Brasil, contaminaram os rios do país.

Uma onda de protestos contra a Minustah sacudiu o Haiti, no último dia 18. Sob gritos “Minustah é cólera! Fora Minustah!” a população bloqueou ruas e levantou barricadas. Soldados da missão, inclusive brasileiros, foram apedrejados por uma furiosa população que exigia a retirada das tropas.

“Apesar dos protestos, nenhum dos candidatos se atreveu a sequer mencionar a possibilidade da retirada da ocupação militar”, explica Zé Maria, ex- candidato à presidencia pelo PSTU, que esteve no Haiti em abril.

“Estive no Haiti dois meses depois do terremoto. Vi que a história da chamada ajuda internacional não passa de uma farsa. Os soldados brasileiros estão lá pra reprimir a população e não pra ajudar. O Haiti não precisa de soldados, mas sim de médicos e medicamentos” concluiu.