Depois de três meses de trégua e expectativas no governo de Gustavo Mesa, as massas trabalhadoras começam a desmascarar o mesmo. O próprio governo declarou guerra ao movimento no dia 4 de janeiro, quando anunciou que “o povo deveria se sacrificar mais uma vez para superar a grave crise econômica e fiscal” existente no país. Junto com isso, Mesa prometeu, em troca de um duro ajuste fiscal, convocar o referendo sobre a venda do gás (em março) e a realização da Assembléia Constituinte (em 2005).

Contrariada, a Central Operária Boliviana (COB) apresentou uma extensa pauta de reivindicações, rejeitada pelo governo, que prometeu um ridículo aumento salarial de 3%.

Imediatamente, uma reunião ampliada da COB foi convocada. Realizada no dia 22 de janeiro, a reunião votou um indicativo de greve geral para o mês de fevereiro contra as novas medidas de Mesa. O governo, estremecido pela ameaça de ter seu mandato colocado em cheque mais rápido que imaginava, recuou nas principais medidas do chamado “pacotaço” que iria anunciar no dia 31 de janeiro.

Dando os anéis pra não perder os dedos

Entre as propostas originais de Mesa estava o aumento de 50% do gás doméstico, retirado às pressas sob ameaça de luta por parte da COB. Ainda assim, para não fugir dos planos de “austeridade fiscal” exigidos pelo FMI, Mesa anunciou medidas populistas que pudessem acalmar os ânimos da população. Em troca da liberação dos preços do gás e combustíveis, diminuiu os salários do presidente, ministros e suprimiu abonos que chegavam a 4 mil dólares. Além disso, retirou a lei que entregava o gás às transnacionais, decretando, em troca, novos impostos sobre transações bancárias e patrimônios. Ou seja, tudo isto só deixa claro que se trata de um governo extremamente débil que se encontra num impasse político entre as demandas populares e os planos do FMI.

Porém, o tiro parece que saiu pela culatra. Apesar da COB ter desmarcado a greve geral que aconteceria no dia 10 de fevereiro, os motoristas paralisaram todas suas atividades em protesto à liberação do preço dos combustíveis e bloquearam as principais estradas do país por 48 horas.

O encontro ampliado da COB avaliou que nada mudou nos três meses de governo Mesa. “Carlos Mesa não é mais que o continuísmo do presidente (Sánchez de Lozada) que saiu em outubro passado, mantendo via Banco Mundial e do FMI a mesma metodologia”, afirmou Jaime Solares, presidente da COB.
O movimento já demonstrou que está disposto a lutar se não tiver suas reivindicações atendidas.

“É necessário um plano de lutas que derrote de uma vez por todas os planos do FMI no país e seu agente direto, o governo de Gustavo Mesa, na perspectiva da tomada do poder”, disse um dirigente do Movimento Socialista dos Trabalhadores (seção da Liga Internacional dos Trabalhadores) na plenária da COB.

Post author Yuri Fujita, da redação
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