Central de Movimentos Sociais discute programa, mas não rompe com o governoA Coordenação de Movimentos Sociais (CMS), formada pela CUT, MST, UNE e CTB, entre outras entidades, iniciou uma discussão sobre “Projeto Nacional e Popular dos Movimentos Sociais” para ser apresentado nas eleições de outubro. Os debates estão acontecendo nos estados como preparação da “Assembleia Nacional dos Movimentos Sociais”, que acontece no dia 31 de maio, em São Paulo. Um dia antes também na capital paulista, uma conferência reunirá as centrais sindicais que apoiam o governo Lula.

Um documento inicial está servindo de base para estas discussões. O texto demonstra o apoio incondicional destas entidades ao governo e o total abandono da independência de classe.

O texto afirma com todas as letras que “no Brasil, muitos avanços foram conquistados pelo povo durante os sete anos do governo Lula”, dando como exemplos o Bolsa Família e o aumento do salário mínimo. Em outra passagem, ainda afirma que as elites do país, com o apoio do imperialismo, armaram uma “tentativa de golpe contra Lula em 2005”.

No documento, a CMS propõe como estratégia para os movimentos sociais, nos próximos anos, “lutar pelo aprofundamento das conquistas nesse período [governo Lula]”.

O que eles esquecem é que, no governo Lula, quem obteve muitos avanços foram os empresários e os banqueiros. As grandes empresas quadruplicaram seus lucros nos últimos sete anos. As multinacionais também estão muito satisfeitas, afinal houve um crescimento de 270% na remessa de lucros para o exterior.

Para os trabalhadores sobraram ataques, como foi em 2003, com a reforma da Previdência, quando Lula recém tinha assumido o governo. A medida atacou foi um dos maiores ataques, principalmente ao funcionalismo público.

O governo, na recessão do ano passado, destinou, em investimentos diretos e isenções fiscais, R$ 370 bilhões para os bancos e grandes empresas, mas se negou a decretar a estabilidade no emprego, que poderia ter evitado milhares de demissões. Até hoje, nenhuma reivindicação importante do movimento foi atendida.

Onde está a redução da jornada de trabalho, o fim do fator previdenciário, a valorização do salário dos aposentados, a revisão das privatizações, entre outras medidas? Nem a anulação do fraudulento leilão de privatização da Vale do Rio Doce foi garantido por esse governo.

Ao contrário do que afirmam as entidades que compõem a CMS, o que houve nos últimos anos foram retrocessos. É o exemplo do Projeto de Lei para a exploração do pré-sal que, através do regime de partilha, mantém e amplia a participação das transnacionais na exploração do nosso petróleo.

Ou mesmo no recente leilão para a construção da usina de Belo Monte, em que o governo Lula mostrou, para quem quiser ver, que é inimigo da luta em defesa do meio ambiente, da biodiversidade e do respeito aos povos da floresta.

E a luta pelo não-pagamento das dívidas?
Outra omissão muito importante do documento da CMS é a questão das dívidas externa e interna. Em 2008, 30,5% do Orçamento da União foi abocanhado somente para pagar os juros da dívida pública, dinheiro que falta para garantir a reforma agrária, os investimentos em moradia, educação e saúde públicas.

Sequer a bandeira da auditoria da dívida a CMS defende mais. Sem acabar com a sangria diária das riquezas do país para enriquecer um pequeno número de grandes empresas transnacionais, qualquer programa que prometa melhorar a vida dos trabalhadores e do povo pobre é apenas uma promessa que será frustrada, como foi no governo Lula.

Só rompendo com o imperialismo, deixando de pagar as dívidas externa e interna aos grandes investidores, será possível construir um Brasil realmente independente, que faça avançar a luta contra o capitalismo e pela construção de uma sociedade socialista.

Apoio envergonhado à ocupação militar no Haiti
O documento da CMS tem um triste final. No último tópico de programa, o texto trata sobre a situação do Haiti. Eles defendem “o papel das forças militares externas ao Haiti atue como ação humanitária”.

Não aparece nenhuma exigência ao governo Lula para a retirada imediata das tropas brasileiras daquele país. Não por esquecimento, mas, na verdade, porque o texto apoia a presença das tropas brasileiras no Haiti, tentando dar uma cara humana à ocupação, defendendo uma mudança no seu caráter militar e de repressão aos trabalhadores e movimentos sociais haitianos. O heroico povo haitiano precisa de soberania, de hospitais, de remédios, de comida, de escolas, e não da presença do exército brasileiro ou das tropas dos Estados Unidos.

Por um movimento sindical e popular independente dos governos: todos ao Congresso da Classe Trabalhadora
Nos dias 5 e 6 de junho, em Santos (SP), acontece o Congresso da Classe Trabalhadora, evento que marcará a unificação entre Conlutas, Intersindical, MTL, MTST, MAS e de representantes da Pastoral Operária de SP, entre outras entidades e movimentos, numa nova organização nacional de frente única.

Neste Congresso, será reafirmado, apesar do atrelamento ao governo da maioria das centrais sindicais e de movimentos sociais que infelizmente perderam sua autonomia, que existe um processo de reorganização da classe trabalhadora e da juventude brasileira, que vem fortalecendo os setores que não se renderam a este governo de união com a burguesia, e que continua defendendo a independência de classe e a mobilização permanente dos trabalhadores para derrotar os ataques dos patrões e de todos os governos.

Será definido, neste Congresso, um programa dos trabalhadores – classista e socialista – que buscará expressar as reivindicações construídas nas últimas décadas de lutas da classe trabalhadora. Este programa será apresentado como posição oficial da nova organização para os partidos da classe trabalhadora que são oposição de esquerda ao governo Lula e também aos partidos da oposição de direita.