Clara, da Comissão Executiva Nacional da ANEL

Passado o 1º Congresso da ANEL, o Portal da ANEL entrevistou Clara Saraiva, da Comissão Executiva Nacional da entidadeQual sua avaliação geral do 1º Congresso da ANEL?
Tenho certeza de que foi um grande sucesso. Era a sensação do plenário no encerramento. Alí sabíamos que, após tanto esforço para chegar até ali, tínhamos cumprido nossa missão. A ANEL saiu de seu primeiro congresso consolidada enquanto entidade e organizando uma camada importante de lutadores para grandes campanhas no próximo semestre.

Em que medida o contexto em que foi realizado o congresso incidiu sobre os debates e resoluções aprovadas?
Acho que no fim das contas, mesmo em uma situação política no país onde o movimento estudantil não está protagonizando lutas mais fortes, acabamos tendo um bom momento para fazer nosso congresso. Há um contexto mundial, com as revoluções árabes e as grandes manifestações na Europa, em que a juventude não quer ser coadjuvante. Tenho certeza de que isso foi uma grande inspiração para os delegados e delegadas do nosso congresso. E, além disso, no Brasil, houve lutas muito importantes que têm tido atenção da ANEL e desses lutadores que estiveram em nosso congresso. Foi ótimo ter um operário da construção civil logo na Mesa de Abertura. Eles fizeram greves fortíssimas e os estudantes viram. Igualmente, os bombeiros, professores e técnicos das universidades federais em greve estiveram representados. Então, ter um congresso que reflete todas essas lutas foi um acerto grande. É o começo de uma experiência com o governo Dilma. Apesar da popularidade do governo, há lutas em curso e toda uma crise política em torno ao problema do Palocci. Nesse sentido, acho que a ANEL se localizou bem nesse cenário.

Entre as resoluções aprovadas, quais você destacaria?
Todas as resoluções aprovadas no Congresso expressam muito debate político e são o saldo de um processo que a ANEL conduziu desde a base das escolas e universidades até os 4 dias do Congresso. Por isso, todas têm sua importância. Mas se eu fosse destacar algumas, eu começaria pela aprovação de uma ampla Campanha Nacional contra o Plano Nacional de Educação proposto pela Dilma, que condena nossa juventude a seguir vivendo sob o atraso histórico que tem nosso país no terreno do ensino público. Foi decidido pelo congresso que combinaremos essa campanha com a construção da luta e do plebiscito unitário pelo investimento de 10% do PIB para a educação. Além disso, teremos uma jornada de luta entre os dias 17 e 26 de agosto, incluindo uma manifestação em Brasília no dia 24. Acho que essa resolução arma a ANEL para entrar com tudo no debate mais importante da educação na atualidade, porque se trata do principal ataque que o governo oferece à educação pública neste momento.

Além da educação, temos visto muitas iniciativas da ANEL relacionados ao combate à homofobia. O que o congresso preparou para dar continuidade a essa luta?
Foi uma vitória enorme do Congresso o fato de termos valorizado tanto os debates acerca não só da homofobia, mas também do machismo e do racismo. Na verdade, era visível no congresso que tínhamos uma forte presença de lutadores LGBT. E a gente sabe que isso foi reflexo de termos encarado a luta contra a homofobia como uma das prioridades da nossa entidade desde o ano passado. No Congresso, um dos debates mais presentes foi em relação ao conservadorismo do governo Dilma, que acabou cedendo às pressões da bancada dos amigos do Bolsonaro e voltando atrás na proposta de um material educativo nas escolas a serviço de combater a opressão aos LGBT. Em uma manobra suja para tentar salvar a cabeça de Palocci, Dilma mostrou que prefere que as crianças aprendam hipocrisia, em vez de tolerância. O congresso decidiu que nós vamos responder a esse fato, enchendo as escolas e universidades com um “kit anti-homofobia da ANEL”, à serviço da continuidade da luta em prol do PL 122, que criminaliza a homofobia.

E em quê o 1º Congresso da ANEL avançou do ponto de vista da organização da entidade?
Ah, aqui é um tema que me empolga muito. O congresso preparou a ANEL para dar um salto em sua estruturação, não tenho dúvida nenhuma. A entidade tem agora um acúmulo sério sobre questões fundamentais, como o trabalho de base, o funcionamento, a vida política interna e a organização de seus fóruns. A força política do 1º Congresso da ANEL dá base para ousar colocar nossa entidade cada vez mais a frente das lutas que estão por vir. E a gente sabe que pra dar conta disso, temos que estar cada vez melhor estruturados. Então acho que a Comissão Executiva Nacional vai ter que dar muita atenção ao cumprimento de todas essas resoluções. Mas as perspectivas são ótimas. Um exemplo disso aconteceu no próprio congresso. Depois que a plenária final aprovou uma ousada resolução de arrecadação financeira independente, a ANEL-BA espontaneamente procurou a CEN para já antecipar seus pagamentos. São coisas como essa que me dão certeza de que a vitória do nosso congresso vai significar um saldo orgânico concreto para a entidade.

Para terminar, todos sabem que o congresso da ANEL se afirmou como alternativa ao Congresso da UNE, que vai ser agora este mês. Que papel você acha que o 1º Congresso da ANEL cumpriu diante da proximidade de mais um CONUNE de submissão ao governo federal?

É, as pessoas acham que nós da ANEL ficamos felizes com essa situação da UNE, mas não é assim. Sabendo do que a UNE já fez em nosso país, é muito triste mesmo. Vai ser o 5º Congresso da entidade coberto de aplausos ao governo e isso já nem surpreende mais as pessoas. Então, claro que eu fico orgulhosa da ANEL fazer um Congresso em que realmente prepare os estudantes para a luta. E fico feliz da ANEL seguir um caminho que não ignora as contradições e sabe não ser sectária. O congresso chamou a própria UNE pra realizar o plebiscito dos 10% do PIB em conjunto. E se eles vierem vai ser ótimo. Vamos ver. Mas uma coisa já está clara. A UNE vai apoiar o PNE do governo, como sempre tem feito com suas políticas educacionais. Assim, vamos ver que o debate nosso com a UNE não é um duelo entre aparatos, mas um debate profundo sobre que programa os estudantes precisam. O PNE é um ataque e a UNE vai defender. Vamos ver de novo como faz diferença em uma hora dessas ter uma entidade dizendo “não, não temos alianças com o governo, não vamos aceitar um ataque para o governo ficar bem; manteremos nossa independência”. Acho que estamos fortes para seguir topando esse desafio, ainda mais agora depois da vitória do nosso 1º Congresso.