Centenas de trabalhadores, lideranças sindicais, comunitárias e religiosas lotaram o auditório da Câmara de Vereadores de Itabira/MG para participar de Audiência Pública realizada pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, a pedido da Frente em Defesa do Emprego e dos Municípios Mineradores. O objetivo da Audiência foi discutir a ameaça de demissões em massa de trabalhadores da Vale, devido à crise econômica em curso. Participaram vários deputados do estado, o prefeito e diversos vereadores de Itabira, representantes de comércio e da indústria local, representantes das igrejas católica e protestante, dirigentes sindicais de diversas regiões do estado que lá estiveram para levar sua solidariedade, os Sindicatos Metabase de Itabira e de Congonhas e região e uma representação da Conlutas Nacional e de Minas Gerais. A Vale, convidada, negou-se a enviar representante.

O ponto alto da Audiência foi a fala do presidente do Sindicato Metabase de Itabira, Paulo Soares, um verdadeiro grito de revolta contra a empresa que, tendo lucrado bilhões e bilhões durante todos estes anos às custas dos seus empregados, agora, na crise quer manter intocados os bilhões ganhos, condenando ao desemprego e à ruína milhares de trabalhadores da empresa, juntamente com suas famílias. Isso sem falar nos prejuízos que as demissões pretendidas pela empresa vão trazer aos municípios mineradores, como é o caso de Itabira.

Paulo cobrou que a empresa arque com os custos da crise mantendo o emprego, os salários e os direitos dos seus empregados, a partir da utilização de uma pequena parte daquilo que a empresa ganhou nestes 11 anos depois da privatização. A empresa, que foi comprada naquela época pelos seus atuais donos, por 3,3 bilhões de reais, hoje vale nas bolsas de valores mais de 130 bilhões. Lucrou nestes 11 anos cerca de 80 bilhões, sendo 18 bilhões apenas no ano de 2008. O próprio presidente da empresa declarou à imprensa que a Vale tem em caixa cerca de 15 bilhões de dólares, o que seria suficiente para pagar o salário de todos os seus empregados por cerca de 10 anos!

E cobrou também, medidas concretas do governo do estado e do governo Lula. Destacou que até agora o governo federal já tomou várias medidas, envolvendo centenas de bilhões de reais, de recursos públicos, para socorrer bancos e grandes empresas. E, no entanto, até agora nenhuma medida foi tomada para socorrer os trabalhadores que estão sendo demitidos ou que estão sob ameaça de demissão. Cobrou do governo uma medida que assegure a estabilidade no emprego para todos os trabalhadores. E ressaltou que o governo mantém ações de classe especial da Vale, que lhe dá poder de veto sobre ações administrativas da empresa, podendo vetar, por exemplo, o fechamento de minas que vem sendo anunciado pela empresa. Cobrou ainda do governo Lula que, a permanecer este quadro anunciado pela direção da empresa, a Vale seja reestatizada, sem o pagamento de indenização aos seus atuais proprietários.

Várias falas feitas na Audiência repudiaram também a entrevista ao jornal “O Estado de São Paulo” concedida pelo presidente da Vale, pregando a flexibilização dos direitos dos trabalhadores e a redução de salários como forma de enfrentar as conseqüências da crise. Não podem ser os trabalhadores a arcar com os custos da crise e sim os bancos e grandes empresas que no momento anterior lucraram bilhões e bilhões de reais.

Foi lançada, na Audiência, a Carta de Itabira ao Povo Brasileiro, assinada pela Frente em Defesa do Emprego e dos Municípios Mineradores. Esta frente foi uma iniciativa do Sindicato Metabase de Itabira, filiado à Conlutas, e que reúne desde outras entidades sindicais da região, associações de moradores, prefeitura, partidos políticos, associações de lojistas, etc. A carta ecoa uma forte denuncia da intenção da Vale de sacrificar seus empregados para manter seus lucros; cobra dos governos estadual e federal medidas para proteger o emprego, os direitos e os salários dos trabalhadores e a reestatização da Vale, caso ela insista em demitir massivamente.

E lança um chamado à luta para todos os trabalhadores do país e às suas comunidades. Lança o chamado e dá o exemplo: no dia 8 de janeiro de 2009, a cidade de Itabira, que viu nascer há mais de 60 anos atrás a companhia Vale do Rio Doce, vai parar. Vão parar os operários das minas, os operários da construção civil, os operários das empreiteiras, os comerciários, os bancários, os funcionários públicos…a cidade toda vai viver uma Paralisação Cívica em defesa do emprego, dos direitos e dos salários dos trabalhadores e da sobrevivência da própria cidade. Dia 22 de dezembro haverá uma Vigília, preparatória à paralisação de 8 de janeiro, com a presença do Bispo da região.

Termina assim a Carta de Itabira: “O alvorecer do ano de 2009 não será de desesperança, como quer a Vale. Será de luta em defesa do emprego, da vida, das nossas comunidades, das nossas crianças, do nosso futuro!”.

Façamos nossas as palavras do povo de Itabira. Vamos construir, em cada uma das fábricas e empresas que ameaçam demitir trabalhadores em nosso país, em cada uma das nossas comunidades, em cada uma das nossas regiões, um processo de mobilização social como este que está sendo construído lá. Assim, reuniremos força para impedir que os custos dessa crise caia nos ombros dos trabalhadores. Assim estaremos pavimentando o caminho para podermos avançar na construção de um futuro sem exploração, opressão e violência contra os trabalhadores, um futuro socialista.

Todos os sindicatos, entidades e personalidades estão chamados a assinar a Carta de Itabira e a somarem-se nesta luta.

Zé Maria é Diretor da Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais e membro da Coordenação Nacional da Conlutas e participou da Audiência Pública representado a Conlutas

FONTE: www.conlutas.org.br