No final da tarde de 5 de abril de 2010, uma chuva começou a cair sobre a cidade do Rio de Janeiro. Foi o prenúncio de uma tragédia que paralisou a cidade por dois dias e deixou um rastro de mortes e destruição. Só no Rio, a chuva provocou 48 mortes, e em Niterói 105. Nessa a cidade, ocorreu a mais cruel (e evitável) tragédia: o deslizamento do morro do Bumba.

Pouco mais de um ano depois, uma nova forte chuva mostrou o quanto a cidade ainda está vulnerável à tragédia, apesar de todas as promessas dos políticos. Ruas alagadas, pessoas encurraladas em carros e ônibus pela água e desabamento de encostas voltaram a assombrar a população carioca nesse dia 26 de abril. Em pouco mais de 24 horas chegou a chover mais de 274 mililitros, o que afetou, sobretudo, a região da Tijuca e o centro da cidade.

Mais uma vez o descaso dos governantes foi evidente. Apesar de fazer muita propaganda depois de comprar um radar por R$ 2,5 milhões, o governo só lançou um alerta avisando sobre tempestade meia hora antes – tempo prá lá de insuficiente para a população tomar as precauções necessárias. Especialmente a população trabalhadora que voltava do trabalho no momento em que as vias foram alagadas. Para se ter uma pequena dimensão do descaso do Prefeito Eduardo Paes (PMDB), câmaras de trânsito indicavam “trânsito bom” em ruas alagadas.

O prefeito, por sua vez, comemorou dizendo que o sistema funcionou. Como exemplo, citou os alarmes e sirenes de prevenção a deslizamento instalado nas favelas. O prefeito não diz, porém, que o sistema é insuficiente e sequer abrange a maioria das comunidades. Moradores do Morro São João, no bairro do Engenho Novo e um dos mais atingidos, tiveram suas casas soterradas. A comunidade não tem sirene de alerta. Já em comunidades onde há sirenes, como no Morro do Formiga, na Tijuca, o drama enfrentado era outro: os moradores não tinham para onde ir e muitos moradores acabaram ficando em suas casas. Duas crianças foram soterradas.

Descaso
A chuva que atingiu novamente o Rio mostra claramente que os governos não querem realmente evitar as tragédias que se repetem ano após ano. Para isso seria necessário resolver efetivamente os gravíssimos problemas de infra-estrutura que afligem a população mais pobre. Não bastam sirenes nas comunidades, é preciso construir moradias dignas para a população pobre. Mas para isso é necessário aumentar drasticamente as verbas para implementar planos de urbanização das favelas. Isso significa melhorar as condições de vida dos trabalhadores, enfrentar a especulação imobiliária e construir moradias populares de qualidade.

Além disso, é preciso aumentar as verbas para programas de prevenção de desastres, e não fazer populismos com equipamentos milionários. Mas o prefeito Eduardo Paes (e seu compadre, Sergio Cabral) prefere abandonar a população mais pobre a sua própria sorte. Dessa forma, os recursos para impedir as tragédias vão para o ralo do pagamento dos juros da dívida pública.