Orlando Chirino
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O dirigente venezuelano Orlando Chirino concedeu, na semana passada, uma entrevista coletiva. O economista brasileiro César Neto esteve presente e fez algumas perguntas ao sindicalista. Chirino era trabalhador da empresa estatal de petróleo da Venezuela, César Neto – Chirino, você acredita que a sua demissão da PDVSA é um ato de represália que se deve ao fato de você ter estado contra a reforma constitucional?
Orlando Chirino
– Não há nenhuma dúvida de que minha demissão é uma posição política. Não apenas por minha postura com relação à reforma, mas também porque há aproximadamente dois anos venho combatendo toda essa tecnoburocracia que há na PDVSA e à gerência. Também há todo o combate que demos ao problema da convenção coletiva. Além disso, a maneira como querem impor a FUTPV, uma nova federação nacional sindical, ou seja, a unificação da federação Fedepetrol, Fetrohidrocarburos e Sinutrapetrol, é uma ordem, uma imposição do governo que desconhece os dirigentes classistas e revolucionários do país.

A proposta de reforma constitucional, criando os conselhos trabalhistas, tirou muito a liberdade dos operários, dos trabalhadores. Você acredita que o governo Chávez e a direção da PDVSA tentam fazer isso hoje em dia, mesmo sem a reforma constitucional?
Chirino
– Sim, não tenho a menor dúvida disso. Não apenas por caracterizações ou diagnósticos, mas pelo que vem sendo colocado pela comissão de desenvolvimento social do Congresso, onde estão os deputados da Força Socialista Bolivariana dos Trabalhadores. Mas, além disso, é importante que os trabalhadores e as pessoas saibam que eles necessitam com urgência inventar dirigentes, já que a maioria de seus dirigentes ou são funcionários do governo, ou são funcionários do PSUV, ou, em última instância, ocupam cargos no executivo do governo, porque a maioria dos dirigentes que se destacam no país, independentemente do fato de que alguns ainda confiem no presidente da República, ou foram ao PSUV e coincidem com nossa posição de que o governo também, reiteradamente, tem demonstrado a defesa da autonomia do movimento sindical.

Como é a situação dos trabalhadores da PDVSA atualmente? Sua demissão hoje também não é uma forma de atacar aos trabalhadores e seus direitos?
Chirino
– Veja a indústria petrolífera depois, depois que entregamos o que foi uma bela conquista, como foi ter dirigido, controlado a indústria petrolífera, desde 2 de dezembro de 2002 até meados de fevereiro, o que ficou conhecido como “paralisação-sabotagem”, em que pusemos a funcionar a indústria, depois do triunfo foi que se nomeou a nova junta diretiva que, além disso, estava o ministro que, além de ser ministro, é o presidente da PDVSA. Desatou-se uma campanha, uma ofensiva de perseguição e de demissões dos gerentes aos companheiros trabalhadores que se destacaram na contingência e que, por isso mesmo, tinham o direito de ser absolvidos. Eles deviam absolvê-los. A maioria deles, muitos, não foi absolvida, os despediram. E o nepotismo, a família e os amiguinhos entraram na empresa. Desde esta época, paralelamente a isso, fizeram um plano com a burocracia sindical. Em vez de combater à velha burocracia da Fedepetrol e Fetrohidrocarburo, como era o plano inicial quando nós entramos, pelo contrário, acabaram fazendo um pacto com essa burocracia. Para dizer em duas palavras, os trabalhadores petroleiros há mais de dois anos estão quase totalmente indefesos. São perseguidos, seu contrato coletivo é violado, já foram 23 mortos. Sua insegurança é a melhor demonstração de como seus direitos são violados, suas botas, seus uniformes, tudo isso foi violado. O governo sabe – e é uma das coisa que mais lhe causa terros –, a gerência da PDVSA sabe, que os trabalhadores se identificam muito com toda a luta que temos travado desde a C-Cura Petroleiros e, por isso, hoje tratam definitivamente de ver como evitar que aconteçam eleições na FUTPV e, burocraticamente, tratam de conformar uma direção para, em minha opinião, acelerar mais essa ofensiva de ataques às conquistas, à democracia, à autonomia e à liberdade sindical.

O governo de Chávez fala muito de socialismo, mas anistiou os golpistas e despediu você. Para nós, o governo estaria dando um giro à direita. Os trabalhadores venezuelanos vêem este giro à direita? Como você vê isso?
Chirino
– Em primeiro lugar, coincido com vocês, efetivamente há elementos e, inclusive, discursos do presidente da república quando chama a fazer pactos com a burguesia e discursa para ganhar a classe média, são evidências de que aspira uma relação mais tranqüila com a burguesia venezuelana. Os resultados de 2 de dezembro, de maneira categórica, tenho de lhe dizer que muito lento, mas são demonstrações de que os trabalhadores começaram a perceber que não é verdade que iríamos ao socialismo, não é verdade. Das palavras do discurso de Chávez à realidade, é outra história. Porque nós – e você sabe bem – somos aproximadamente 3 milhões de companheiros que votaram em Chávez em 2006 ou votaram nulo, ou votaram não, ou se abstiveram de votar. E isso – digam o que disserem – é uma expressão já de desconfiança e de começar a perceber que, efetivamente, esse não é um governo nosso. Porque, se eu pudesse agregar, muitos começam a perceber que as políticas em geral do governo são antioperárias. As convenções coletivas são negadas. O melhor exemplo disso são os trabalhadores do Ministério do Trabalho. Eles estão há 17 anos sem convenção coletiva. Os trabalhadores da administração pública têm três anos e dois meses que lhes venceu o contrato. A imensa maioria desses trabalhadores, ao não haver aumento geral, pois não discutem seu contrato, e ao ter se produzido a revisão, nos últimos anos, do salário mínimo, se lhes pagam somente seu salário, então, aproximadamente, 72% dos trabalhadores da administração pública ganham um salário mínimo. Então, não há nenhuma dúvida, não somente de que percebem que o governo girou à direita, que faz pacto com a burguesia, mas, ao mesmo tempo, que desenvolve uma campanha antioperária, uma campanha que aterroriza. Coisas como, por exemplo, que se tenha o direito de discutir e melhorar a qualidade de vida e as relações, como somos explorados, isso não está se vendo.

Como está a campanha pela tua readmissão, além das mensagens que foram enviadas, se tem algum ato programado e o que podemos fazer, no Brasil, pela tua reintegração?
Chirino
– Em primeiro lugar, têm vindo [mensagens] tanto nacional quanto internacionalmente. Uma solidariedade muito importante que a mim não surpreende, pois tenho quatro décadas de luta neste país. Vimos discutindo a fundo para, no dia 20, fazermos um ato no Parque Central com os petroleiros que, fundamentalmente, será em defesa da indústria petrolífera e para pedir a nossa restituição, mas, ao mesmo tempo, também para ir armando os trabalhadores primeiro para lhes dar confiança em sua força, porque acredito que é muito importante esta parte, e, em segundo lugar, para localizar, então, já a arrancada a fundo sobre minha reintegração. Acredito que a luta internacional, a participação, no caso de vocês que têm um trabalho muito importante na Conlutas, é importante não só seguir buscando solidariedade, expressões de decisões de companheiro a companheiro nosso, que cheguem ao governo. E tudo isso porque, além de tudo, isso nos vai ajudar muitíssimo numa luta. Lembre-se de que os trabalhadores venezuelanos têm aproximadamente 40 anos sob a democracia burguesa e hoje, com o chavismo, que o internacionalismo é de palavra ou de discurso e não concreto, creio que para nós, que somos internacionalistas e que estamos por construir a internacional e por construir o partido mundial, é muito importante que, em coisas concretas como esta, os trabalhadores venezuelanos percebam a enorme importância de combater. Nossa instituição não é apenas uma derrota contra o espezinho e a liberdade sindical, a autonomia, mas ao mesmo tempo é muito importante esse triunfo para demonstrar que neste país nós temos de reivindicar, assumir, postularmo-nos como a classe que é quem deve garantir o aprofundamento desse processo e, além de tudo, conquistar o socialismo.

Muito bem. Muito obrigado!

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