Segundo dia de greve geral no Chile

Leia entrevista com a estudante Amanda Rozas, membro do FR-IC (FR-Esquerda Comunista), organização filiada a LIT-QI, que explica a atual situação política do país.Esta quinta-feira, 25, o segundo dia da Paralisação Nacional foi marcado por uma grande marcha nas ruas do centro de Santiago. A marcha se iniciou pacífica, contudo, em seguida efetivos das forças especiais usaram blindados com jatos d’água e gases lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, que tinham “autorização” para marchar até às 14 horas. Muitos manifestantes se revoltaram e partiram para o enfrentamento, levantando barricadas. Na cidade de Valparaíso também ocorreram enfrentamentos com os “carabineiros”. Apesar da repressão, os dois dias de paralisações foram considerados uma vitória do movimento, contra o governo Piñera. Leia abaixo a entrevista com a estudante Amanda Rozas, membro do FR-IC (FR-Esquerda Comunista), organização filiada a LIT-QI, que explica a atual situação política do país.

Qual é a situação da Educação no Chile?

De profunda crise. Foi privatizada em todos os níveis, desde o pré-escolar até a universitária. Esse processo foi iniciado sob a ditadura de Pinochet e aprofundado pelos governos da “Concertación” [aliança entre o Partido Socialista e a Democracia Cristã que governou o país após a ditadura de Pinochet]. Piñera quer acabar com o que restou da educação pública.

O financiamento do Estado é cada vez menor nas universidades, e nos liceus quase nulo. Mas, agora, querem legitimar que o ensino privado receba dinheiro do Estado para que o administre e o “utilize em seu estabelecimento”. Esses setores privados que, disfarçados de instituições e fundações supostamente sem fins de lucro, seguem fazendo negócios à custa de milhares de estudantes que recebem um ensino de péssima qualidade. Em alguns casos, como aqueles que estudam nas universidades privadas, o custa do endividamento é igual ou maior que os custos de uma casa.

Como iniciaram as lutas?

Estas não são manifestações espontâneas, refletem um acúmulo desde a “revolta dos pingüins”, em 2006 [revolta dos estudantes secundaristas]. Hoje elas se agravam com a crise econômica mundial que provoca altos índices de inflação no transporte público, na gasolina e na comida.

Que perspectivas você vê agora?

Animadora. Quando assistimos à grande mobilização do dia 14 de julho, pensamos que esse era o ponto mais alto. Em todo o país havia se mobilizado trezentas mil pessoas – 120 mil só em Santiago – depois de duas semanas sem marchas, o movimento parecia se enfraquecer.

O governo quis acabar de uma vez por todas com as mobilizações e proibiu uma nova marcha no dia 4 de agosto, realizando uma forte e brutal repressão. Um importante setor da vanguarda, entre três a cinco mil pessoas, se enfrentou com a repressão, o que deu um novo impulso ao movimento.

A classe média, repudiando a repressão, vem perdendo seu medo e deu mostras de que ela também é afetada pela crise. Assim, saiu a protestar a sua maneira… e começam os panelaços. Começava o “segundo tempo” das mobilizações que se mantiveram no dia 9 de agosto, com 120 mil pessoas marcharam pelas ruas.

Menção especial é a presença do SITECO, pequeno sindicato mineiro da Mina El Teniente, que conseguiu unir sua greve com os conflitos estudantis, e colocou no debate a renacionalização do cobre para financiar a educação.

Essa consigna que vinha sendo propagada por nós se tornou de massas. A presença do SITECO tem sido primordial. O governo, por sua vez, diz que isso é impossível, obedecendo às multinacionais…

Qual é a saída que propõe FR-Esquerda Comunista?

A direção da CUT [Central Unitária dos Trabalhadores] tinha ameaçado com uma paralisação para o mês de outubro. Por pressão de suas bases, porém, mudaram o a data para 23 e 24 de Agosto. Não esperavam que seu chamado pudesse cruzar com as mobilizações estudantis. O chamado a Paralisação Nacional pode permitir que os trabalhadores entrem na mobilização e que estas sejam uma forte medida de pressão contra o governo. Claro que para isso a paralisação deve ser construída.

A saída que vemos é a luta pelo triunfo do movimento. E, com esta paralisação, a saída vai de encontro com a classe operária e os trabalhadores em geral. Com mais marchas e panelaços podemos derrotar este modelo de educação herdado da ditadura.