A juventude e os trabalhadores do Chile estão protagonizando uma das maiores batalhas políticas do país nas últimas décadas. Os protestos contra a mercantilização do ensino já duram mais de dois meses, e vem ganhando cada vez mais a simpatia e a adesão doAs mobilizações de estudantes e professores, com paralisações, marchas, panelaços, greves de fome, conseguiram conquistar o apoio da população. Cerca de 80% dos chilenos defendem, segundo pesquisas, as reivindicações dos estudantes. A onda de protestos da juventude exige educação gratuita e de qualidade em todos os níveis. No caso da educação secundária, querem que os colégios voltem a ser mantidos pelo Estado. No ensino superior, defendem o aumento do financiamento público para as universidades, pois menos de 10% dos recursos são aplicados na educação superior são do Estado.

O governo Piñera responde com repressão e desdém a revolta dos estudantes. “Todos queremos que a educação, a saúde e muitas outras coisas fossem grátis para todos, mas quero recordar que, ao fim ao cabo, nada é grátis na vida”, disse Piñera. Para completar, Carlos Larraín, presidente da Renovação Nacional (partido do presidente Piñera), declarou: “Não vamos nos dobrar diante de um bando de subversivos inúteis!”
Como se não bastasse, no último dia 4, o governo tentou proibir uma grande marcha realizada pelos estudantes. A repressão lembrou os tempos da ditadura Pinochet. Quase 900 estudantes foram presos e centenas de outros ficaram feridos depois que o governo lançou os chamados “carabineiros” contra o protesto. Mas, ao contrário das expectativas do presidente, os estudantes não se sentiram derrotados, tampouco irão recuar de sua luta.

Mas o governo não podia prever o que viria. No decorrer do dia, a Federación de Estudiantes de la Universidad de Chile (FECh) chamou a realização de um ‘panelaço’ às 21 horas em protesto à repressão. “O povo explorado e oprimido respondeu ao chamado e as panelas voltaram a ser ouvidas em todo o país, lembrando as jornadas de protesto contra a ditadura, ao grito ‘E vai cair, e vai cair, a educação de Pinochet!”’, relata Emílio Hidalgo, da Frente Revolucionaria – Izquierda Comunista (FR/IC), seção chilena da Liga Internacional dos Trabalhadores.

A repressão e a arrogância de Piñera só aumentaram o desgaste do governo. Uma pesquisa mostra que o governo só conta com o apoio de 26% da população. A onda de manifestação obrigou Piñera a realizar uma reforma ministerial – uma tentativa tímida de aplacar os protestos. Mas não resolveu.
Pouco mais de um ano após assumir a presidência do país, Piñera não imaginaria que seria amplamente repudiado pela imensa maioria do povo chileno, inclusive pela maior parte dos que votaram no empresário.

Diante de um cenário sem uma saída aparente, o Congresso Nacional chileno se ofereceu para negociar um acordo com os estudantes. No entanto, a manobra não logrou resultado, pois os estudantes se recusaram a negociar com o Congresso e chamaram novas mobilizações contra o governo. Os manifestantes concentravam toda sua força em uma nova jornada pela educação, nos dia 24 e 25 de agosto, chamada pela CUT (Central Unitaria de Trabalhadores de Chile), uma das principais centrais sindicais do país.

Dessa vez, a paralisação nacional pela educação não vai levar apenas estudantes às ruas, mas professores, trabalhadores da educação em geral, funcionários públicos e os trabalhadores da construção civil, que estarão em marcha contra as forças de repressão policial e contra o governo.

O grande perigo
Mas o maior o perigo temido por Piñeira e pelo conjunto da burguesia chilena é de que a revolta da juventude possa se refletir no movimento operário do país.

Recentemente, o Chile assistiu a um importante processo de greves e mobilizações dos trabalhadores da mineração de cobre. No dia 11 de julho, a Federação de Trabalhadores do Cobre, (FTC) da estatal Codelco, chamou uma paralisação contra as tentativas encobertas de privatização da empresa. No dia 3 de agosto, os trabalhadores mineiros da maior mina privada de cobre do mundo, La Escondida (do grupo anglo-australiano BHP Billiton), entraram em greve por tempo indeterminado.

Por isso, a burguesia do país teme que a onda de protestos da juventude irrompa em um processo de lutas ainda maior, colocando em questão não só o governo Piñera, como também o conjunto do regime imposto por Pinochet, por meio da Constituição de 1980 e de toda a estrutura institucional armada pela ditadura. Todas essas instituições foram servilmente acatadas pelos governos e os partidos da chamada “Concertácion”, aliança entre o Partido Socialista e a Democracia Cristã que governou o país até a ascensão de Piñeira ao poder. O desgaste das instituições torna-se evidente, quando pesquisas mostram que as massas já não confiam nem na “Concertación”, que tem apenas 17% de apoio da população.

A paralisação dos dias 24 e 25 de agosto indicam a enorme disposição de luta dos trabalhadores e da juventude chilena. A tensão promete subir ainda mais, caso o calendário de mobilizações dos estudantes se estenda até o dia 11 de setembro. A data marca o aniversário do golpe militar do general Augusto Pinochet, na qual tradicionalmente há grandes protestos pelo país. Não é por menos que membros da coalizão governistas já falaram sobre a necessidade de “colocar as Forças Armadas nas ruas”, segundo informações do jornal espanhol El País.

ANEL divulga manifesto em apoio à juventude chilena
Depois de sua viagem ao Chile, a ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre) lançou um manifesto em apoio à luta dos estudantes chilenos. O objetivo é coletar assinaturas de todo o movimento estudantil brasileiro para fortalecer a luta da juventude chilena.

“O movimento estudantil brasileiro quer transmitir através desse Manifesto toda a solidariedade e força para que os estudantes e trabalhadores sigam na sua luta até o fim, além de exigir que o governo Piñera liberte imediatamente os presos políticos e pare com a repressão. A educação pública, gratuita e de qualidade é um direito de todos os chilenos, e não uma mercadoria. Estamos no Brasil comprometidos com essa luta e, por isso, damos todo o incentivo para que o movimento estudantil chileno siga e fortaleça seus protestos”, afirma o documento.

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Post author Jeferson choma, da Redação*
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