Panelaços e buzinaços deram inicio a greve geral de 48 horas no Chile. Na capital Santiago, um grupo de 200 pessoas bateu panelas em frente ao La Moneda, palácio presidencial. Mas o barulho das panelas também encheu a noite de outras cidades importantes, como Valparaíso, Concepcion, Valdívia, Puerto Montt, Pucon, Talca e San Carlos.

Segundo a CUT (Central Unitária de Trabalhadores), 82 organizações sociais e sindicais aderiram aos protestos. Ainda segundo a central, os trabalhadores portuários e do aeroporto da capital paralisaram. Em Puente Alto, três mil pessoas participaram em uma marcha e concentração. Em Maipú, mil pessoas foram às ruas.

O protesto ganhou forte apoio da população. Além do bater de panelas, carros passavam pelas ruas em Santiago buzinavam em apoio aos estudantes. Em vários ônibus, e até mesmo em alguns táxis, estava pichado “fim ao lucro” e “Paro Nacional 24 y 25”. Muitos estudantes fizeram vigílias nas ruas: enquanto alguns portam bandeiras vermelhas na mão, outros coletam dinheiro para financiar o movimento estudantil, ou ainda realizam um show de Salsa na Praça de Armas em solidariedade aos estudantes.

O Chile vive dias de rebelião há mais de dois meses. Os estudantes estão em pé de guerra contra o governo Piñera e lutam por uma educação pública e gratuita no país. Com os protestos desta quarta-feira ganharam a adesão de vários setores dos trabalhadores.

Uma das principais bandeiras da greve é a revogação da Constituição que vigora no Chile e que foi imposta pelo regime militar de Augusto Pinochet. Também exigem uma reforma tributária imediata, um novo código trabalhista, a renacionalização do cobre e a anulação da lei antiterrorista, usada para criminalizar os movimentos sociais, como mostram os processos judiciais contra os indígenas mapuche.

Nos panfletos distribuídos nas ruas se lê:

– Reforma Tributária que termine com a injusta distribuição da riqueza.
– Mudança no sistema de previdência e fim das pensões miseráveis.
– Mais financiamento para a saúde pública, fim das especulações das ISAPRES
– Nova institucionalização da educação, desmunicipalização e fim do lucro, acesso igualitário e de qualidade para todos. –
– Um novo código trabalhista com sindicalização automática, negociação coletiva setorial, real direito a greve e fim das demissões por necessidade da empresa
– Nova constituição política que garanta os direitos fundamentais e que estabeleça o plebiscito para tomada de decisão pelas maiorias.

Reprimir, a única coisa que Piñera sabe fazer
Mas uma vez, o governo direitista se utiliza fartamente do expediente da repressão para tentar aplacar os protestos.

Carabineiros foram jogados aos montes pelas ruas da capital. Qualquer pequena concentração de pessoas é alvo da repressão policial.

Pela manhã, houve enfrentamentos com manifestantes que bloqueavam ruas com barricadas – 20 no total, segundo a imprensa local. Segundo informações oficiais do governo, 35 pessoas foram detidas. Mas o número pode ser bem maior. De acordo com informação da TeleSur, policiais estariam cercando as proximidades da sede da CUT.

O governo tenta minimizar a real dimensão da greve. O ministro do Transporte disse que os transportes não paralisaram. O presidente da CUT, Arturo Martínez, respondeu e o chamou de “mentiroso”.

Piñera também fez um pronunciamento dizendo que “tudo estava normal”. “As pessoas estão vivendo suas vidas normalmente, mas lamentavelmente a intenção foi outra, causar prejuízos aos Chile”, disse o presidente, também um “mentiroso”.

A situação de “normalidade”, não passa de mais um delírio de Piñera. O governo teme que a revolta da juventude possa acender o movimento operário do país. Recentemente, o Chile assistiu a um importante processo de greve e mobilizações dos trabalhadores da mineração de cobre. No dia 11 de julho, a Federação de Trabalhadores do Cobre (FTC) da estatal Codelco, chamou uma paralisação contra as tentativas encobertas de privatização da empresa. No dia 3 de agosto, os trabalhadores mineiros da maior mina privada de cobre do mundo, La Escondida (do grupo anglo-australiano BHP Billiton), entrarem em greve por tempo indeterminado.

Os protestos não colocam em questão apenas o governo Piñera, mas o conjunto do regime imposto por Pinochet – e vivo através da Constituição vigente – e que foram servilmente acatadas pelos governos e os partidos da chamada “Concertácion”.

O primeiro dia de greve mostrou que é possível sim empalmar a luta estudantil com o conjunto da classe operárias, inimiga de Piñera. A aliança operária e estudantil colocaria o establishment chileno na corda bamba. Longe de qualquer “normalidade”, o horizonte do 11 de setembro, data do golpe contra Pinochet, sempre marcado por grandes manifestações, preocupa todos aqueles que sustentam o regime.