Professor da USP faz conferência na SBPC em homenagem ao economista Celso Furtado,
xinga ministro da Previdência, critica governo Lula pelo continuísmo e afirma
que autonomia do BC reduziria democracia a lixo

“O Collor fez besteira. O FHC tripudiou. E agora, o Lula está seguindo o mesmo caminho”.
“Estão tentando de novo no país ter uma escolha racional estratégica. Será que o Berzoini (ministro da Previdência) é tão sofisticado a esse ponto? Não. Ele é um imbecil. Não dá para pensar em uma medida com projeção daqui a 30 anos com essa sociedade abissal.”

CARTILHA DO FMI -Segundo Francisco Oliveira, o pensamento neoliberal – fundamentado por economistas já citados – enfronhou-se na sociedade brasileira e fez com que diversas políticas se perdessem no meio do caminho. “O Collor fez besteira. O FHC tripudiou. E agora, Lula está seguindo o mesmo caminho. Falta, hoje, um pensamento original sobre a nossa sociedade como já foi feito por Celso Furtado”, criticou o sociólogo paulista.

Indignado com o pensamento atual, Oliveira classifica como “débil mental” quem analisa a realidade e pensa em políticas públicas para o país sem considerar que 40% da população vivem abaixo da linha da pobreza. “Para a lógica capitalista radical, parece que os indivíduos escolhem sua opção. Nessa linha de raciocínio, esse conceito de indivíduo nem existe”, disse, exemplificando com a proposta de Reforma da Previdência: ”Estão tentando de novo no país ter uma escolha racional estratégica. Será que o Berzoini (ministro da Previdência) é tão sofisticado a esse ponto? Não. Ele é um imbecil. Não dá para pensar em uma medida com projeção daqui a 30 anos com essa sociedade abissal.”

COERÊNCIA – As críticas evidenciam que o professor Chico Oliveira não está de acordo com uma possível incongruência do PT ao apoiar medidas que seriam liberais. Ele comparou o momento atual com a trajetória de Furtado, chamando atenção para a integridade do economista nordestino. “Trata-se de um republicano exemplar no meio dessa oligarquia”, declarou. Oliveira contou que o economista paraibano construiu uma carreira pública e, em nenhum momento, utilizou-se dos conhecimentos adquiridos para repassá-los a interesses privados. “Não é como os ex-ministros de FHC que, no dia seguinte que saíram do governo, estavam dentro de bancos vendendo o que aprenderam na intimidade com o poder”, acusou.

Nessa linha de pensamento, o professor da USP foi voraz ao criticar a autonomia do Banco Central (BC), atualmente discutida e defendida por alguns setores do governo. “Se o BC ganhar autonomia, meu voto e o seu não valeram de nada. Ao mover as taxas de juros, eles estão decidindo sobre o meu orçamento familiar e o da União. Assim, a democracia é reduzida a um lixo de pobre”.
Francisco Oliveira, professor da Universidade de São Paulo e um dos fundadores do PT