A Venezuela passa por um momento de importantes lutas e mobilizações operárias. No último dia 6, petroleiros da PDVSA (estatal petroleira venezuelana) realizaram um protesto em frente ao edifício da empresa, em Maracaibo. Trata-se de uma parte dos petroleiros, o setor mais importante em termos econômicos e políticos do proletariado venezuelano.

Depois de oito horas de manifestação em frente ao edifício, o governo de Hugo Chávez mandou reprimir a manifestação. Os dirigentes sindicais Juan Cahuao, Jairo Ollarves, Aulio Soto e Francisco Villalobos foram presos pela Brigada de Ordem Pública da Guarda Nacional durante os protestos. Os manifestantes também foram feridos por “perdigones”, espécie de munição com efeito similar ao das balas de borracha.

Os petroleiros reivindicam aumento salarial e lutam pela manutenção de seus empregos.

Diferente do que muitos pensam, os petroleiros da PDVSA ganham muito mal, recebendo em alguns casos um salário duas ou três vezes menor que os petroleiros das multinacionais. Além disso, amargam um arrocho salarial que supera os 38%.

Promessas não cumpridas
Depois que a PDVSA adquiriu a maioria acionária das ex-empresas mistas, o governo se comprometeu a incorporar todos os trabalhadores dessas empresas, em especial aqueles que viviam na condição de terceirizados, e contratá-los como funcionários fixos. São aproximadamente 1.600 trabalhadores que lutam pela sua integração. No entanto, esses postos são cobiçados pelos filhos dos gerentes, dos oficiais das Forças Armadas e dos políticos do PSUV – partido fundado recentemente por Chávez.
Os trabalhadores estão cientes, por isso se mobilizam e lutam pelos seus direitos, bloqueando estradas e ocupando edifícios da PDVSA.

Em Porto La Cruz, na região oriental do país, já foram realizados assembléias, atos, marchas, ocupação dos edifícios e fechamento da rodovia que liga o oriente à capital Caracas.

Reação do governo
A ação dos trabalhadores chocou-se com o governo de Chávez. O ministro de Interior e Justiça, Pedro Carreño, atacou duramente os manifestantes dizendo que eles são “sabotadores”. “Existem setores interessados em avançar até a desestabilização interna, até a sabotagem que atentaria contra o desenvolvimento do Estado”, justificou o chavista. Ele ainda fez questão de dizer como funciona a “democracia” da república bolivariana para os trabalhadores: “os trabalhadores têm direito a discutir seu emprego, mas esse direito não permite que eles possam atentar contra o progresso e o desenvolvimento”.

Não é a primeira vez neste ano que o governo Chávez reprime um protesto de trabalhadores. Há um mês, trabalhadores da Sanitários Maracay, uma fábrica ocupada, realizaram uma marcha que foi reprimida pela polícia. Em seguida, os trabalhadores do estado de Aragua, onde fica a fábrica – a partir de um chamado da UNT (nova central sindical) regional –, fizeram um dia de greve de solidariedade aos companheiros da ocupação. Três mil ativistas garantiram a paralisação. Frente a isso, as correntes chavistas começaram a atacar a manifestação como “reacionária”.
Portanto, quando o ministro Carreño fala em “desestabilização” e “sabotagem”, está arrumando apenas uma desculpa para encobrir que o governo cada vez mais apresenta sua face repressiva, atuando de distintas maneiras contra os trabalhadores na defesa dos capitalistas.

Greve na Toyota
Além das manifestações dos petroleiros, os operários da montadora japonesa Toyota também estão em luta, realizando uma greve desde o dia 2 de agosto.

Os trabalhadores reivindicam aumento de salários e melhorias nas condições de trabalho. O último contrato coletivo assinado pelo sindicato chavista possui uma cláusula absurda afirmando que nos próximos três anos os trabalhadores não poderão reivindicar aumentos de salários.

Entre o legal e o legítimo direito de lutar pelos seus salários, os trabalhadores optaram pela legitimidade de lutar pelo seu pão de cada dia. Além disso, muitos operários também denunciam que sofrem contaminação por metais e produtos químicos (chumbo da solda, benzeno das cabines de pintura etc.).

A greve da Toyota é uma explosão dos trabalhadores depois de mais de vinte anos sem fazer qualquer luta. A reação do governo Chávez não poderia ser pior. Diante do conflito, o ministro do Trabalho, José Ramon Rivero – o mesmo que se dizia “trotskista”- , exigiu que os trabalhadores cumprissem a lei e mantivessem o funcionamento da fábrica.

A mídia venezuelana e as lutas operárias

A mídia pró-Chávez ignora olimpicamente as lutas dos trabalhadores da PDVSA e da Toyota. Em alguns momentos a impressa governista procura difamar os trabalhadores e suas lutas, afirmando que os “sindicatos petroleiros buscam desestabilizar o país” – (Diário VEA – 07/08 – primeira página).

Como os meios chavistas negam a informação, resta aos trabalhadores, se quiserem difundir sua luta, conceder entrevistas e informações às emissoras de setores da burguesia que fazem oposição à Chávez. Mas é correto utilizar a imprensa da oposição burguesa contra o governo?

Esse debate ganhou força depois do caso da emissora RCTV. Para o secretário de Reclamações Trabalhistas da Federação de Petroleiros (Fedepetrol), isso é correto. Segundo Luis Diaz, “excluindo os jornais dos sindicatos de trabalhadores e das organizações operárias, todas as demais formas de informação são da burguesia”. Para difundir suas lutas, os trabalhadores devem utilizar todos os jornais. Quanto mais eles existam, melhor.

Prosseguindo sua explicação, ele diz: “Aqui lutamos contra a burguesia e necessitamos difundir nossas lutas pelos seus jornais e meios de comunicação. Deste modo, não privilegiamos este ou aquele jornal, mesmo porque os chavistas estão contra as nossas lutas e seus meios de comunicação nos boicotam”.

Post author César Neto, de Caracas
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