Fotos Romerito Pontes
Redação

Primeiro congresso sob o governo Bolsonaro supera desafios e reafirma CSP-Conlutas como pólo de organização e luta

Unificar as lutas dos trabalhadores da cidade e do campo, com as lutas dos indígenas, quilombolas, do povo negro das periferias e todos os setores explorados e oprimidos contra os ataques e o projeto de guerra social do governo Bolsonaro-Mourão. Em meio ao aprofundamento da crise social e da barbárie, essa foi uma das principais resoluções do 4º Congresso da CSP-Conlutas, ocorrido de 3 a 6 de outubro em Vinhedo (SP) que reforça o papel da central como organização viva e de alternativa de luta ao movimento sindical, popular e contra as opressões.

Foi um congresso bastante vitorioso, principalmente se considerarmos que é o nosso primeiro congresso sob um governo de ultradireita em que, ao mesmo tempo em que joga a crise nas costas dos trabalhadores, agravando o desemprego e atacando os direitos, também criminaliza as lutas e ataca o movimento sindical“, analisa Luiz Carlos Prates, o Mancha, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas e da Direção Nacional do PSTU.

O ataque de Bolsonaro ao movimento sindical, proibindo o desconto em folha voluntário dos filiados, impôs uma enorme crise financeira à grande maioria dos sindicatos. Ao mesmo tempo, a verdadeira ebulição que ocorre por baixo, com a luta dos operários, dos trabalhadores dos Correios, comerciários, bancários, dos trabalhadores da Petrobrás e demais estatais contra a privatização, dos trabalhadores da Educação, da juventude, do movimento popular, indígena e quilombola, entre outras, evidenciaram a importância da CSP-Conlutas e a busca por uma alternativa. As dificuldades financeiras, assim, foram contornadas através de rifas nas bases das categorias e regiões, pedágios, e todo tipo de campanha financeira que possibilitaram a realização do congresso e com total independência.

E todo esse esforço se refletiu nos números. Estiveram presentes 1.591 delegados, 234 observadores, 61 representantes de delegações internacionais. Contando com o pessoal de apoio, foram 2.284 participantes. Mas esse processo começou bem antes, com a realização de mais de 600 assembleias nas regiões para a eleição dos delegados. A opção política por uma estrutura mais modesta para garantir a participação dos setores mais explorados e oprimidos da classe foi um enorme desafio, mas que garantiu uma cara operária, popular, negra e indígena ao congresso.

Esse congresso comprovou a importância da CSP-Conlutas de, desde o início, ter colocado a necessidade de unificar os diferentes setores e organizações, como os sindicatos, movimentos sociais e populares e de luta contra a opressão, numa única organização“, reflete o dirigente.

Unificar as lutas e alternativa de direção
O congresso apontou a necessidade da unidade de ação e da luta unificada dos trabalhadores e de todas as suas organizações, aprovando um plano de ações que passa por um chamado às organizações a uma luta unificada contra o governo Bolsonaro-Mourão.

Segundo o texto aprovado, a “tarefa da nossa classe e de todas suas organizações é organizar a luta unificada, em defesa das nossas reivindicações, da soberania do país, do meio ambiente, das liberdades democráticas para derrotar o governo autoritário de Bolsonaro e seu projeto já, nas ruas, nas mobilizações e greves”. Ainda segundo a resolução, “o caminho para derrotar Bolsonaro não é desmontando e segurando as lutas; aceitando negociar a retirada de direitos e privatizações no Congresso, compondo Frentes Amplas, eleitorais e de colaboração de classes com a burguesia para 2020 e 2022. Unificar os setores em luta e as lutas é fundamental. A construção da Greve Geral segue sendo uma necessidade”.

Segue a resolução: “se as cúpulas das maiores centrais e de diversas organizações que intervêm na classe trabalhadora tivessem o compromisso de realmente defender os direitos e impedir os ataques do governo, seria o caso de realizar unitariamente um encontro nacional de base de toda a classe trabalhadora e setores populares para organizar a luta. Isso seria uma enorme alavanca para a luta e para a derrota de Bolsonaro. Mas, infelizmente, não é a defesa até o final dos direitos da nossa classe e a luta unificada a prioridade delas”.

Fazendo um duro balanço do papel nefasto cumprido pelas direções das grandes centrais no último período, onde traíram a luta dos trabalhadores como na reforma da Previdência, Mancha reforçou a importância de fortalecer a CSP-Conlutas como ferramenta de luta, até mesmo para lutar pela unidade de ação “em tudo o que for possível”. “Temos que defender a unidade na luta pelos direitos e as liberdades democráticas, mas não vamos vacilar quando traem nossa luta e se transforma num obstáculo“, afirmou Mancha.

A CSP-Conlutas, assim, precisa tomar em suas mãos a tarefa de batalhar pela unidade da classe trabalhadora, pela base e na luta. “Se as outras direções não topam fazer isso, nós mesmos vamos ter que fazer, e armar a nossa central significa armar esse tipo de luta, em direção a um encontro nacional para derrotar Bolsonaro e o seu projeto“, finalizou. Ainda assim, a central vai insistir e intensificar todos os esforços para a concretização da frente única entre os trabalhadores e suas organizações em defesa de suas reivindicações.

Independência de classe e internacionalismo
O debate internacional teve lugar de destaque no congresso, que identificou a profunda polarização social marcada, por um lado, pela guerra social imposta pelos diferentes governos capitalistas e, por outro, por uma forte luta dos trabalhadores contra esses governos e seus planos de ajustes. “Neste sentido, a central reafirmou seus princípios com a necessidade de um sindicalismo independente dos governos e, por isso mesmo, expressou seu apoio às lutas dos trabalhadores em diversas partes do mundo, como os trabalhadores de Hong Kong que enfrentam a dura repressão da ditadura chinesa, e aos trabalhadores venezuelanos que enfrentam o governo Maduro, e neste caso, a central está do lado dos trabalhadores contra Maduro, mas também se posicionou contra qualquer tipo de intervenção imperialista“, relata Mancha. Confira aqui a resolução.

No total, foram aprovadas 11 moções internacionais que mostraram a importância que a CSP-Conlutas dá à solidariedade dos trabalhadores em todo o mundo. No dia seguinte ao congresso, foi realizada uma plenária internacional com as delegações estrangeiras.

Lava Jato, Vaza Jato e a luta contra a corrupção
No tema nacional, uma das polêmicas girou em torno da posição da central em relação à campanha “Lula Livre”. “Um setor da central colocava a necessidade de colocar a CSP-Conlutas a serviço da campanha ‘Lula Livre’, uma campanha que, na visão do Bloco Classista, Operário e Popular refirma de forma cega a inocência de Lula e que divide os trabalhadores, quando o momento agora é de unificar ao máximo contra o governo“, afirma o dirigente.

Neste tema, os delegados aprovaram uma resolução que denuncia a Operação Lava Jato, por atuar em defesa de “bandidos de estimação, ser seletiva e parcial, incluindo o ex-juiz e ministro Sérgio Moro”. A resolução afirma ainda que o ex-presidente Lula tem direito a um julgamento regular, mas que as revelações do Intercept não comprovam a inocência de Lula ou do PT e, portanto, não é tarefa da central defender “Lula Livre” ou “Lula Preso”.

A tarefa é exigir que todos os denunciados por corrupção sejam investigados, tenham um julgamento regular e seguir defendendo a prisão e confisco dos bens de todos os corruptos e corruptores. A defesa do jornalista Glenn Greenwald, da liberdade de imprensa, contra toda forma de censura, perseguição e criminalização também foram aprovadas.

Ato contra o genocídio indígena e em defesa da Amazônia

Democracia operária
Uma marca do Congresso da CSP-Conlutas, já tradição na história da central, foi o debate democrático que começou desde o período anterior ao congresso, nas assembleias nas bases, passando pelos grupos de discussão e os embates de diferentes teses e propostas no plenário. Cada uma, independente do peso no plenário, com o mesmo tempo de defesa. Algo sem paralelo nas demais organizações e que reafirma o compromisso da central com a democracia operária.

Saímos desse congresso mais fortalecidos enquanto um pólo alternativo organização e luta, com novas organizações e movimentos que aderiram à CSP-Conlutas e, principalmente, armados na luta contra o governo Bolsonaro-Mourão e seu projeto de destruição e ataques“, finaliza Mancha.