No dia 28 de janeiro, os auditores fiscais do Ministério do Trabalho Nélson José da Silva, Erastótenes de Almeida Gonçalves e João Batista Soares Lage e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram brutalmente assassinados numa estrada de terra no município de Unaí, no estado de Minas Gerais.

Os fiscais atuavam em uma operação da Delegacia Regional do Trabalho/MG para verificar a existência de trabalho degradante nas lavouras de feijão.

Unaí é a maior região produtora de grãos do país. A produção é realizada em grandes latifúndios e predominam as relações de assalariamento. Durante o período de safra, o número de trabalhadores na região chega a aumentar em até 400%. O fiscal Nélson já havia sido ameaçado anteriormente, mas a DRT/MG, não considerou o fato relevante. Seu trabalho vinha dificultando a atuação dos “gatos” – atravessadores de mão de obra entre os fazendeiros e os bóias-frias.

Ameaças e assassinatos de trabalhadores são comuns na região. Ao contrário do que a grande mídia vem noticiando, a região de Unaí não tem nada de pacata. Outros crimes já ocorreram na região, mas não tiveram a mesma repercussão. Em 1995, o dirigente sindical dos trabalhadores rurais Júlio Rodrigues Miranda, foi encontrado morto em condições semelhantes.

O prefeito do município, José Braz da Silva (PTB) também responde a um inquérito por trabalho escravo em sua fazenda no sul do Pará. A chacina de Unaí expôs para todo o Brasil a face oculta do agronegócio, tão saudado pelo governo Lula como exemplo da modernidade. Trabalho escravo, condições de trabalho degradantes na maioria das fazendas, desrespeito aos direitos trabalhistas, perseguição às lideranças sindicais são as regras no setor. Só o fim do latifúndio pode acabar com violência.

A chacina de Unaí é mais um capítulo na história de militarização dos conflitos no campo brasileiro. Despertando a indignação da sociedade, em particular das entidades que agrupam os fiscais do trabalho, da receita federal e da previdência.
A tragédia é parte da onda de violência contra os trabalhadores e suas lideranças no campo, cometidas pelo latifúndio, armado e protegido pelas autoridades públicas e pelas instituições do Estado. Não é expressão de desrespeito ao “estado democrático de direito” como algumas entidades dos trabalhadores têm reclamado.

A raiz de fundo de todos os problemas encontra-se na estrutura fundiária brasileira, na concentração de enormes quantidades de terras nas mãos de pouquíssimas empresas e famílias. Sem “violar” o “direito” de propriedade dos latifundiários será impossível construir novas relações sociais no campo e coibir a violência contra os trabalhadores.
Post author Sebastião Cacau, de Belo Horizonte (MG)
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