No sábado passado, 10 de abril, em ato público realizado no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SP), cinco centrais sindicais governistas anunciaram seu apoio incondicional à candidatura de Dilma Rousseff (PT) à presidência da República. Além de Dilma, estas centrais anunciaram também o apoio a Aloísio Mercadante (PT) ao governo do Estado de São Paulo.

Junto com o presidente Lula e ministros, como Carlos Lupi, do Ministério do Trabalho, figuraram na mesa do evento os presidentes da CUT, Força Sindical, CTB, CGTB, além de dirigentes nacionais da UGT.

A atividade foi convocada na base dos metalúrgicos do ABC para apresentar um estudo do Dieese sobre emprego e qualificação profissional. Ou seja, enganaram os trabalhadores a partir de suas reivindicações mais sentidas para levá-los, na verdade, para uma atividade de apoio às candidaturas do PT.

Estas cinco centrais sindicais deixaram explícito o processo de domesticação e cooptação que viveu a maioria do movimento sindical brasileiro desde a chegada de Lula, em 2003, ao Palácio do Planalto. Nas falas das centrais governistas, muitas críticas ao governo passado, mas nenhuma crítica ao atual governo, só elogios.

Nenhum destes dirigentes sindicais oficiais lembrou sobre a reforma da previdência de 2003, que retirou direitos históricos dos servidores públicos, ou do fato de que, em quase oito anos de mandato, o governo Lula não cumpriu a promessa de reduzir a jornada de trabalho. Ou, ainda, de que o atual governo não decretou a estabilidade no emprego na crise do ano passado, se limitando a lamentar as demissões e ajudar as grandes empresas com cerca de R$ 370 bilhões em novos investimentos e isenções fiscais.

Também nada disseram sobre o aumento da exploração, das terceirizações e do ritmo de trabalho alucinante nas fábricas. O reajuste de salários também não figurou nos discursos – o Dieese anunciou recentemente que o salário mínimo deveria ser cerca de R$ 2 mil para garantir, minimamente, uma vida digna para os trabalhadores. Mas isso não preocupa mais estes dirigentes sindicais de gabinete.

Sequer se falou da luta pela ampliação da licença-maternidade para seis meses. O Sindicato do ABC acaba de realizar o segundo Congresso das Mulheres Metalúrgicas (o primeiro foi em 1978), evento que se transformou em mais um palanque para Dilma, sem que significasse um salto real na organização das trabalhadoras. Hoje, a maioria absoluta das fábricas do ABC não tem a licença-maternidade estendida para seis meses.

Felizmente, a classe trabalhadora brasileira não está derrotada e demonstrou isso nas campanhas salariais do segundo semestre de 2009, quando fortes greves arrancaram reajustes acima da inflação, apesar do apoio da maioria das centrais sindicais ao governo. Agora, em 2010, estas mesmas centrais vão tentar segurar e desviar as campanhas salariais, tentando evitar greves e maiores mobilizações, para se dedicarem centralmente à campanha dos candidatos do PT, do PCdoB e outros da base de apoio do governo Federal.

A Conlutas, junto com outras entidades que convocam o Congresso da Classe Trabalhadora, estará na linha de frente das lutas dos trabalhadores em defesa dos seus direitos e reivindicações, como já demonstram as mobilizações da campanha salarial unificada no Ceará, que envolve o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, dos trabalhadores da confecção feminina e dos rodoviários, todos filiados à Conlutas.

Um passo à frente na construção de uma alternativa de direção
O Tribuna Metalúrgica, jornal oficial do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, publicou, na edição 13/4/2010, uma matéria destacando o evento. O texto trazia a seguinte declaração de Lula: “Dilma, a classe trabalhadora brasileira acaba de assumir sua candidatura”.

Mas o presidente sabe muito bem que não existe uma só voz no movimento sindical brasileiro. Nem todos esqueceram a origem de Lula. Nem todos se venderam ao apoio aos governos e à conciliação com os patrões.

No início de junho, acontecem, em Santos (SP), dois importantes Congressos que vão se contrapor à adesão da maioria das centrais sindicais às políticas do governo Lula.

O segundo Congresso Nacional da Conlutas acontecerá nos dias 3 e 4 de junho. Nos dias 5 e 6, haverá o Congresso da Classe Trabalhadora. Esse poderá culminar na unificação entre Conlutas, Intersindical, MTL, MTST, MAS, representantes da Pastoral Operária de SP e outras entidades, numa mesma organização nacional de frente única.

Em contraponto ao evento governista do último sábado, os congressos vão discutir um programa e uma pauta de reivindicações que unifiquem a classe trabalhadora e o conjunto dos explorados e oprimidos, preparando, para o segundo semestre deste ano, um processo de mobilização, destacando as campanhas salariais de importantes categorias, como metalúrgicos, petroleiros, bancários, trabalhadores dos Correios, entre outras.

Embora a luta direta seja a prioridade destas organizações, os congressos também discutirão a questão das eleições de outubro, mas não para apoiar os candidatos do bloco governista, muito menos a oposição de direita (PSDB-DEM-PPS).

Estes congressos vão discutir e definir um programa dos trabalhadores, classista e socialista, que deverá ser apresentado aos candidatos dos partidos da classe trabalhadora que são oposição de esquerda ao atual governo. Somente uma campanha política e financeiramente independente da burguesia pode representar uma alternativa real para os trabalhadores brasileiros nas eleições.