Guilherme Boulos, dirigente do MTST
Kit Gaion

Entre os dias 20 e 23 de setembro ocorre em todo o país uma jornada de lutas de movimentos por moradia, o “Minha Casa, Minha Luta”. O Portal do PSTU conversou com Guilherme Boulos, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que falou sobre Portal do PSTU – Qual é a expectativa para a jornada da frente de resistência urbana para os duas 20 a 23 de setembro?
GuilhermeSerá uma jornada com ações importantes, em todas as regiões do país. O objetivo é impor pela força das mobilizações o debate da reforma urbana na conjuntura eleitoral. E, com isso, iniciar uma ampla campanha nacional contra a política de despejos e remoções. A jornada não será um evento isolado. Nossa proposta é que ela marque a abertura de um processo de resistência em relação à política urbana conduzida pelo capital imobiliário e o Estado.

A preparação para a copa do mundo já está provocando uma intensa especulação imobiliária. Há denúncias de remoções e despejo. O que você pensa disso?
A situação vai pegar fogo nas metrópoles brasileiras. Estimativas moderadas falam em centenas de milhares de famílias despejadas com as obras da Copa, das Olimpíadas, além das obras do PAC. E os despejos começarão agora, porque para que uma obra fique pronta até 2014, ela tem que estar sendo licitada hoje; e o primeiro passo da obra é tirar quem está no meio do caminho. É isso que será feito: basta olhar como foi o pan-americano do Rio, a Copa da África, etc. O capital aproveitará os eventos para valorizar ainda mais o solo urbano, jogando os pobres para mais longe e deixando as melhores áreas livres para a especulação. Isso sem contar a onda de criminalização, extermínio em favelas, repressão ao trabalho informal, tribunais especiais (como os criados na África este ano). Enfim, teremos um cenário de intenso conflito nas cidades brasileiras.

Como você avalia a política do governo federal e estadual na área de moradia?
Hoje, a política habitacional brasileira, em todos os níveis, gira em torno do “Minha Casa, Minha Vida”, pela quantidade de recursos que este programa tem disponível. O problema é que o MCMV foi feito e funciona para alimentar a indústria da construção civil. Os projetos são geridos pelas empreiteiras e só vão adiante aqueles que interessam a elas, ou seja, que tem maior rentabilidade. É o caso dos projetos para famílias com renda maior, particularmente na faixa de 3 a 10 salários mínimos. O problema é que 85% do déficit habitacional brasileiro corresponde a famílias na faixa de renda de 0 a 3 salários. Estes projetos, que são os mais urgentes, estão emperrados no MCMV por não interessarem tanto ao capital da construção civil. Sem contar que representam só 40% das casas e 25% do recurso previsto no MCMV.