Ramiro Pereira

Na última quinta-feira (6), a Secretaria de Educação de Rondônia (RO), relembrando o auge dos tempos obscuros da Idade Média, elaborou uma lista de livros que seriam confiscados por apresentar “conteúdos impróprios” às crianças e jovens. Nessa lista, estavam presentes livros clássicos da Literatura Brasileira, como Macunaíma e os Sertões.

A boa notícia é que diante da reação generalizada contra essa medida, o governo do estado recuou. Mesmo assim, esse episódio chocou muita gente. Apesar de alguns autores presentes na lista serem declaradamente de direita (como é o caso de Nelson Rodrigues) ou romperem com seu histórico de rebeldia social (como é o caso de Ferreira Gullar), são representantes inquestionáveis da produção literária brasileira. Trata-se, portanto, de um claro ataque às liberdades democráticas de nossa classe, uma vez que a ação estava destinada às escolas públicas.

Mas essa tentativa de retirar as obras não é uma medida isolada de um governo específico. Faz parte de um projeto muito mais amplo e está em plena consonância com as políticas do Governo Bolsonaro para a educação.

Não é novidade que o governo Bolsonaro tenta impor um projeto autoritário para as escolas brasileiras. A militarização das escolas públicas, combinada com os diversos projetos de “escola sem partido” apoiados pela corja ideológica do atual presidente, mostram o verdadeiro interesse desse Governo: implementar uma luta ideológica contra todas as conquistas que tivemos até agora e impedir que a luta da classe trabalhadora se desenvolva.

Parte dos livros que contavam na lista são muito utilizados em salas de aula justamente por fazer com que alunos e professores reflitam sobre os problemas essenciais da sociedade brasileira, como a desigualdade, o racismo, a homofobia, a violência policial e tantos outros. Além disso, a literatura é um importante instrumento de formação humana, uma vez que incentiva a leitura e a reflexão crítica sobre o mundo e dá forma à nossa rebeldia contra tudo que está aí.

Como diz Trotsky em seu livro “Literatura e Revolução”, polemizando com os Stalinistas e com o formalistas: “O proletariado precisa encontrar na arte a expressão desse novo estado de espírito que principia a surgir dentro dele e que a arte deve ajudar a tomar forma. Não se trata, aqui, de uma ordem de Estado, mas de um critério histórico”.

No caso em questão, os funcionários entraram no sistema em que estava a tão falada lista e publicaram nas redes sociais para denunciar essa política. Deu certo, pelo menos por enquanto. Esse episódio demonstrou que, apesar das tentativas tanto dos governos estaduais como do Governo Federal de atacarem nossos direitos, serão respondidas com luta, como vem acontecendo no caso dos petroleiros em todo o Brasil.

Nós, do PSTU, repudiamos a tentativa de cesura promovida pelo Governo de Rondônia e o projeto autoritário do Governo Bolsonaro. Estaremos junto de nossa classe em defesa do acesso à cultura e aos bens materiais que nós produzimos. Estaremos na luta por uma sociedade livre e socialista.