Agricultura familiar abastece mercado internoO ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, contestou os dados da pesquisa da CNA contrapondo os dados do Censo Agropecuário realizado pelo IBGE em 2006. As informações do censo também servem para desmentir toda a hipocrisia do governo sobre a reforma agrária.

De acordo com o IBGE, a concentração na distribuição de terras em nada mudou nos últimos vinte anos. Nos censos agropecuários de 1985, 1995 e 2006, as propriedades com mais de 1.000 hectares ocupavam 43% da área total de estabelecimentos agropecuários no país, enquanto aquelas com menos de 10 hectares respondiam por apenas 2,7% da área total.

A conclusão é clara: em seu primeiro mandato, Lula manteve a histórica concentração fundiária. Uma situação que permanece hoje, com a paralisação da reforma agrária.
O censo também pesquisou pela primeira vez a chamada agricultura familiar – pequenos módulos agrícolas onde trabalham essencialmente o agricultor e seus familiares. Os dados do IBGE mostram claramente que a pequena propriedade tem uma importante função social. A agricultura familiar, que ocupa apenas 24,3% da área agrícola do país, é responsável pela maior parte dos alimentos da cesta básica: 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo.

Ou seja, a agricultura familiar é quem coloca boa parte da comida na mesa dos brasileiros, enquanto a produção de monoculturas do agronegócio, apesar de sua grande produtividade, é destinada à exportação. Além disso, nos pequenos estabelecimentos estão quase 85% dos trabalhadores camponeses.

Apesar disso tudo, o financiamento aos pequenos agricultores é extremamente baixo comparado ao destinado ao agronegócio. O censo mostra que em 2006 somente 920 mil (das 5,2 milhões de propriedade rurais existentes) obtiveram financiamentos. As grandes propriedades receberam 47% dos recursos “mesmo representando apenas 0,9% do total de estabelecimentos que obtiveram financiamentos”, diz a pesquisa. Enquanto isso, 85% dos pequenos não receberam nada.

Tal situação ficou ainda pior depois da crise econômica. O governo federal, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), injetou bilhões no agronegócio, como no caso da fusão entre a Sadia/Perdigão e a JBS/Bertin. Essa última criou a maior companhia de produtos de origem animal do mundo, cujo faturamento pode alcançar 29 bilhões de dólares por ano. A nova empresa será menor apenas em relação à Petrobras e à Vale. O BNDES injetou quase 5 bilhões de reais no negócio.

Os dados do IBGE também mostram a disparada do cultivo de soja transgênica, que respondia na época por 46,4% do total da produção. Um resultado da liberação dos transgênicos realizada pelo governo, enquanto Marina Silva era ministra do Meio Ambiente.

Não existe nenhuma pesquisa do IBGE sobre os assentamentos. Mas não é difícil imaginar que a absoluta maioria deles enfrenta uma situação bem pior do que as propriedades da agricultura familiar. Do governo, não recebem o menor apoio em crédito, maquinário ou qualquer tipo de infraestrutura, pois quase todo o dinheiro vai para o agronegócio.

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