Celso Furtado criticou os juros altos do governo Lula

No dia 22, morreu Celso Furtado, um dos mais influentes pensadores do nacional-desenvolvimentismo brasileiro e latino-americano. Doutor pela Universidade de Paris (1948), desde cedo procurou compreender o subdesenvolvimento brasileiro.
Em 1948, contra a vontade dos EUA, é criada a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), ligada à ONU. Em 1949, Furtado ingressa na instituição, influenciando decisivamente suas elaborações. Logo a Cepal e Furtado chegariam à conclusão de que o subdesenvolvimento era produto de relações desiguais no cenário internacional, historicamente determinadas entre países centrais e países periféricos.

A solução apontada foi a industrialização. Mas o caso brasileiro, entre outros, demonstrou que a industrialização não resolveria os problemas, e nem garantiria o fim do subdesenvolvimento. Desde então, a reflexão central de Furtado passou a ser a superação de outra contradição posta: a elevação da renda e a industrialização só beneficiaram uma pequena parcela da população, deixando o restante na condição de pobreza.

Contribuições e limitações

Mesmo sem romper com a economia convencional e misturando uma forte influência keynesiana com alguns elementos do marxismo, Furtado, assim como a Cepal, ousou se opor à teoria econômica dominante, liberal, elaborada nos países centrais. Quis demonstrar que é possível pensar o desenvolvimento a partir da periferia e que o mercado em si somente não conduziria ao desenvolvimento, o que exigia um papel ativo do Estado.

Furtado fez parte do que hoje é o BNDES, ajudou a criar a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e foi ministro do Planejamento do governo João Goulart, o que lhe rendeu a cassação dos direitos políticos pela ditadura militar.
Mas na elaboração de Furtado faltou um passo decisivo: incorporar a perspectiva de classe e do socialismo. Ao não se propor a isso, ficou buscando uma solução incompleta: superar a miséria e o subdesenvolvimento por dentro do capitalismo. Isso o faz não negar o mercado e, ao mesmo tempo, construir uma ilusão em um papel progressista da burguesia desenvolvimentista, apostando em um estímulo à acumulação do setor produtivo nacional.

A não-incorporação da análise marxista das classes sociais impediu que Furtado visse que o subdesenvolvimento e a oposição entre as nações são antes de tudo, a oposição entre burguesia e proletariado, seja nos países centrais seja nos periféricos. É isso que faz também com que suas ações sejam marcadas por passagens no PMDB e no Governo Sarney.

Contradições com o governo Lula

Diante da morte de Furtado, Lula afirmou que “guarda seus ideais”. José Dirceu foi além: “sou absolutamente fiel aos ideais de Celso Furtado”. Evidentemente, isso não é verdade. Furtado foi um severo crítico da política econômico-social do Governo FHC e, por isso, trabalhou para que Lula fosse eleito. Mas o governo petista não foi o que ele esperava, levando-o a criticar em diversos momentos a continuidade da política econômica do governo tucano: “juros concentram renda e deixam os bancos alegres com tanto dinheiro”. Mais que isso: “é indispensável decretar a moratória para renegociar a dívida”.

De fato, o governo petista está longe de construir um projeto autônomo de desenvolvimento nacional, ele é não apenas a continuidade como o aprofundamento da política entreguista e neoliberal do governo anterior. A desnacionalização da economia brasileira, imposta nas últimas décadas, e a política de Lula, demonstram que é impossível construir um projeto de desenvolvimento nacional, por mais limitado que seja, sem romper com o imperialismo.

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