Leia abaixo a entrevista Celia Hart, importante intelectual cubana, que participou do Conat`CeliaQual a sua avaliação sobre este evento, o Conat?

Célia Hart – A fundação da Conlutas está sendo uma experiência inesquecível. Tenho fé em que esta organização classista venha a ser uma referência para a América Latina e que realmente expresse o conjunto de aspirações que representa o povo brasileiro e sua tradição proletária e de luta. Vimos até agora que todos os movimentos de massas que tiveram lugar na América Latina – que inclusive depuseram governos de plantão – careceram precisamente do que vocês estão tratando de articular aqui. Que se tenha duas coisas: unidade – mas que seja um unitarismo de classe, verdadeiramente revolucionário e a favor do socialismo -, e que em seu interior contenha todas as lutas particulares: a emancipação feminina, contra a discriminação racial e todo o mais. Oxalá se conforme como um verdadeiro referencial, para toda a América Latina.

Como você avalia a atual conjuntura política na América Latina, suas recentes lutas e mobilizações?

Célia – Penso que a conjuntura na América Latina sintetiza precisamente o auge da continuação da luta contra o neoliberalismo que tivemos depois da queda do Muro de Berlim, pois desde então houve uma forte oscilação à esquerda. Se conseguirmos aproveitá-la – se não nos falta direção – e lograrmos assim aproveitar este momento, poderá se converter em um momento-chave na história do mundo. Os movimentos sociais na Bolívia, no Equador e na Argentina demonstraram que as condições objetivas estão mais que maduras, já estão apodrecendo. O que realmente nos falta é a direção política, o aspecto subjetivo. E por isso lhes digo que tenho muita fé e que este congresso cumpre com minhas expectativas sobre o que deveria ser uma organização operária.

Qual é a sua avaliação sobre o governo brasileiro, de Lula e do PT?

Célia – Realmente não tenho muita experiência ou conhecimento a respeito de Lula, mas a partir do que pude perceber aqui [no Conat], creio que ele se apropriou de toda esta potencialidade, história e tradição operárias do Brasil e, neste momento, a utiliza – de forma paradoxal – contra os mesmos que o colocaram no poder. Ou seja, sei que talvez não seja uma caracterização consensual, me parece que não cumpre a função pela qual foi eleito pela população trabalhadora do Brasil. Lula um líder operário muito importante, mas neste momento converteu-se – pelo que entendo – em um traidor da classe.