Mobilização no dia 19

Em Fortaleza protestos foram reprimidos pela Polícia e pela Força Nacional de Segurança

As manifestações em Fortaleza ocorreram praticamente durante todos os dias da semana entre 17 e 21 de junho. A grande imprensa nacional quando não tem boicotado informações sobre os acontecimentos em Fortaleza, os tem registrando com informações e dados equivocados.

A primeira manifestação, de 17 de junho, convocada de maneira improvisada pelas redes sociais foi organizada em solidariedade à dura repressão sofrida pelos atos da capital paulista pelo passe livre na semana anterior. Cerca de 500 pessoas, segundo a polícia militar, concentraram-se na Praça da Gentilândia, ao lado do Estádio Presidente Vargas, onde a seleção brasileira realizou seu primeiro treino antes do jogo contra o México. Sem conseguir chegar a tempo do treino, os manifestantes caminharam pelas ruas do centro até o Marina Park Hotel, onde estava concentrada a seleção. O protesto terminou de maneira pacífica.

Nova convocatória nas redes sociais marcou outra manifestação para o dia 19, quando jogariam em Fortaleza a seleção brasileira e a mexicana pela copa das confederações. Seu eixo foi contra os gastos da copa e o descaso dos governos com saúde e educação. A partir das 10h da manhã, atrás do Makro da BR-116, mais de 80 mil pessoas, segundo a polícia rodoviária federal, marcharam em direção à Arena Castelão pela Avenida Alberto Craveiro, sendo duramente reprimidascom bombas de gás e balas de borracha do batalhão de choque do governador Cid Gomes (PSB) e a Força Nacional de Segurança da presidente Dilma, que formavam um contingente fortemente armado de 500 homens, a pouco mais de 2km do estádio. Um carro da Autarquia Municipal de Trânsito foi virado e queimado. Impedidos de seguir em passeata, os manifestantes deram meia-volta e trancaram a BR-116. Um grupo de cerca de três mil pessoas seguiu a pé até a Avenida Paulino Rocha nas proximidades do Castelão onde houve novos conflitos com a polícia já no final da tarde. O jornalista Pedro Rocha, do Comitê Popular da Copa, foi ferido no olho por uma bala de borracha.O saldo total foi de mais de 50 feridos.

Na quinta feira, 20, foi a vez das entidades estudantis se colocarem na vanguarda de uma nova manifestação pela redução da passagem de R$ 2,20 para R$ 2,00, pelo passe livre e pela entrega imediata das carteirinhas de estudante pela prefeitura. O ponto de encontro foi a Praça Portugal, no coração da Aldeota, às 17h. A passeata passou pela Assembleia Legislativa e terminou em frente ao Palácio da Abolição, sede do governo do Estado. Foram mais de 30 mil pessoas, segundo a polícia militar. Todo o percurso foi transcorrido na maior tranquilidade ao coro de: “Ah, que coincidência, sem polícia não tem violência” e “se a tarifa não baixar, a cidade vai parar”. Manifestantes tomaram banho e fizeram ciranda na fonte ao lado do palácio. Depois de alguns jograis, o movimento começou a dispersar. Por volta das 21h30, quando restavam pouco mais de três mil pessoas, um pequeno grupo tentou invadir a sede do governo. Mais uma vez a polícia militar respondeu com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha. Pelo menos 55 pessoas foram presas e levadas para o 2º distrito policial.

Na sexta-feira, 21, mais uma manifestação foi convocada de maneira improvisada pelo facebook, sob o nome de “Educação 10”, para o Centro Cultural Dragão do Mar, às 17h. A passeata culminou na Prefeitura, governada por Roberto Claudio (PSB). O Paço Municipal se encontrava cercado por 250 guardas municipais que reprimiram os manifestantes com bombas de gás e balas de borracha. Segundo a própria guarda municipal, a manifestação contou com 10 mil participantes.Por volta das 21h, representantes da prefeitura receberam uma comissão de sete manifestantes. A pauta abordou desde mais verbas para a educação até a redução das passagens.

PT e PCdoB: aliados de Cid e Roberto Cláudio

O governador Cid Gomes (PSB) não deixa nada a dever a Alckmin e Cabral quando se trata de reprimir as manifestações. Foram dezenas de presos e feridos em apenas uma semana. Sem falar que Cid vem reivindicando orgulhosamente a ação do batalhão e da choque e o eficiente apoio da Força Nacional de Segurança.

Só com a reforma do Castelão, o governador gastou R $ 500 bilhões. Enquanto isso o estado do Ceará sofre com uma das piores secas dos últimos 40 anos. Roberto Cláudio, também do PSB, foi eleito prefeito em 2012, derrotando Elmano de Freitas do PT. Mal assumiu a prefeitura, RC demitiu professores temporários, impôs um calendário escolar draconiano com aulas aos sábados e demitiu funcionários terceirizados, deixando escolas e postos de saúde sem pessoal de apoio. Como se não bastasse, RC ainda por cima não entregou as carteirinhas que garantem a meia passagem para milhares de estudantes.

Cid e RC agradecem o apoio, a participação e o silêncio cúplice do PT e do PCdoB a seus respectivos governos.

A luta contra o anti-partidarismo

O ato de quarta-feira, dia 19, em Fortaleza foi marcado por um forte sentimento contra os partidos políticos, em particular contra a presença do PSTU, único partido de esquerda a participar de maneira organizada da manifestação. Nem mesmo o PSOL esteve presente com suas bandeiras e faixas.

Felizmente, não tivemos que enfrentar grupos fascistas organizados, mas indivíduos dispersos que improvisaram uma ofensiva sobre nossa coluna. Quando militantes do partido e da Conlutas, alguns deles independentes, entraram no ato, sofremos um grande rechaço com vaias e palavras de ordem. Após muito empurra-empurra, para garantir a integridade de nossas faixas e bandeiras, resolvemos recolhê-las e seguir apenas com uma faixa da Conlutas abrindo a coluna, a qual se incorporaram também companheiros do MTST. Todos os militantes do partido seguiram com camisetas, bonés e distribuindo panfletos e adesivos sem serem agredidos fisicamente por outros manifestantes. Apesar deste momento tenso, conseguimos neutralizar o sentimento anti-partido e garantir nossa presença durante toda a manifestação sem maiores problemas.

Já na manifestação do dia 20, as coisas foram bem diferentes. Convocado pelo movimento estudantil organizado, a direção do ato foi disputada desde o início com os setores anti-partido. Depois de uma dura disputa, as palavras de ordem de “ô, ô, ô, a ditadura acabou” e “democracia, democracia” tornaram-se majoritárias e abafaram os gritos de “o povo unido, não precisa de partido”.Os setores anti-partido foram derrotados não apenas com palavras de ordem, mas, sobretudo, com a manutenção das bandeiras e faixas que abriram e encabeçaram a passeata. Mesmo tentando romper a manifestação, esses setores ficaram tão acuados e reduzidos que resolveram seguir atrás da passeata. Essa importante vitória inibiu qualquer tentativa de agressão contra militantes do PSTU, do PSOL, da Consulta Popular ou mesmo da UJS presente no ato. No entanto, nova disputa se estabeleceu na definição do percurso da passeata. Enquanto as entidades estudantis queriam encerrar o ato em frente ao sindicato patronal dos empresários de ônibus, os ativistas mais exaltados conseguiram desviar a passeata para o palácio do governo.