Ponto alto de uma aguerrida greve que envolve, pela primeira vez em sua história, os três setores das universidades estaduais cearenses – Universidade Estadual do Ceará (UECE), Universidade Regional do Cariri (URCA) e Universidade Estadual Vale do Acaraú (UEVA) –, a ocupação da Assembleia Legislativa foi encerrada na última sexta-feira (6), após nove dias de uma vivência que contribuiu para fortalecer ainda mais o movimento.

Nem mesmo o cansaço físico, a imposição de inúmeras restrições de entrada e saída à casa que do povo se diz, as pressões exercidas pela presença constante do Batalhão de Polícia de Choque, ou a contundente recusa do governador Cid Gomes (PROS) em receber professores, técnico-administrativos e estudantes em greve, foram suficientes para enfraquecer o movimento de luta em defesa da educação pública e da formação intelectual e cultural do povo cearense.

A ocupação da Assembleia Legislativa do Ceará teve como objetivo central a abertura das negociações com o governador Cid Gomes, e acabou confirmando ainda mais sua postura intransigente em não dialogar com os grevistas, e ao mesmo tempo, seu isolamento em relação aos outros setores da sociedade. De intelectuais a parlamentares, era unânime a opinião do quão justas seguem sendo as reivindicações que compõem a pauta desta greve.

Para o professor da URCA e militante do PSTU, Fábio José Queiroz, a greve das estaduais e, em especial, a ocupação da Assembleia Legislativa, têm o mérito de apresentar para a população do Ceará que há dois projetos distintos de universidade e, por consequência, de sociedade. Além disso, ressalta que o apoio conseguido por diversos intelectuais e entidades estudantis e sindicais do país inteiro, cercando de solidariedade a ocupação, contribuiu para fortalecer ainda mais o movimento.

Nesse momento, se confrontam duas concepções: uma que está destruindo as nossas universidades estaduais e que as têm como um erro. Essa é a concepção defendida por Cid Gomes. Porém, a nossa concepção, a concepção dos que estamos em greve e que ocupamos a Assembleia Legislativa, é aquela que entende a universidade como instrumento de desenvolvimento do nosso estado, e consequentemente, de transformação da sociedade”, ressaltou Fábio José.

O movimento decidiu pela desocupação da Assembleia Legislativa após ter exercido forte pressão na Casa, tendo conseguido a realização de uma audiência pública que vinha sendo há anos negada, e uma reunião com uma comissão parlamentar. Nesta reunião, firmou-se uma carta compromisso em que parlamentares assumem a pauta emergencial das universidades em greve e a mediação desta junto ao governador Cid Gomes.

Contudo, a greve das três universidades estaduais segue em curso, reivindicando, sobretudo, a realização de concurso público para professores e técnico-administrativos, a regulamentação do Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos (PCCV) e o estabelecimento de uma política suficiente de assistência estudantil. Com isso, ao anunciar durante coletiva de imprensa a desocupação da Assembleia Legislativa, o movimento divulgou a realização de mais uma grande marcha em defesa das universidades estaduais que deve contar com apoio de diversos setores da sociedade.

Para o PSTU, a maior conquista dessa ocupação foi ter colocado a centralidade política da pauta do movimento, apresentando um novo projeto de universidade. Esses nove dias foram uma vitória do movimento organizado. Agora, faz-se necessário apontar uma perspectiva voltada a uma alternativa política para o Ceará que passa, necessariamente, pela construção de alternativas à oligarquia Ferreira Gomes. É essa perspectiva que nossa militância irá apresentar nas ruas.

Na assembleia ou na rua, a greve continua!