A situação de extrema pobreza no Haiti é produto de dois séculos de intensa exploração por diversas potências imperialistas.

O país foi o palco da primeira e única revolução vitoriosa protagonizada por escravos no mundo e a primeira revolução negra e anti-colonial da América Latina. Entre 1791 e 1804, os escravos haitianos travaram diversas lutas contra a potência colonial francesa, até que, em 1804, expulsaram os franceses, tomaram o poder e alcançaram a independência. Desde então, o Haiti tornou-se uma ameaça para a França e demais países imperialistas, assim como para a elite escravagista que dominava toda a América Latina. Estes tentaram por todos os meios isolar economicamente o país para sufocá-lo. Desde o início do século XX, os haitianos sofreram diversas invasões imperialistas e ditaduras sangrentas.

Mais recentemente, desde 2004, o Haiti foi ocupado pelas forças da ONU, depois de os EUA terem intervido militarmente para forçar a retirada do presidente Aristide do país. Atualmente as forças de ocupação da ONU são dirigidas pelo Brasil, que assim ajuda os EUA a manter seus interesses na região, mas com uma ocupação militar de face mais “amigável”, com tropas brasileiras, argentinas, bolivianas, jordanianas, entre outras.

O discurso oficial é que a presença militar é necessária para que o Haiti não se torne um caos. No entanto, durante os últimos cinco anos as condições de vida do povo haitiano não melhoraram: o salário mínimo, de cerca de 40 dólares, é o mais baixo da América Latina.

As tropas da Minustah têm servido não para ajudar a trazer a paz e melhoria social ao Haiti, mas, ao contrário, para garantir os grandes lucros das multinacionais das principais potências imperialistas, principalmente dos EUA, que conseguem grandes lucros à custa de trabalho quase escravo.

A recente repressão exercida pelas tropas contra os trabalhadores que lutavam por um reajuste do salário mínimo deixou muito claro o papel da Minustah. Em declaração recente, seu comandante, o general brasileiro Floriano Peixoto Vieira Neto, explicou que os projetos executados pelos batalhões de engenharia do Exército brasileiro são realizados primordialmente com fins militares, e não diplomáticos ou civis, o que significa que os benefícios para a população são indiretos: “Quando você conserta uma estrada para uma tropa passar, para assegurar mobilidade, isso fica também para utilização da comunidade.”

O recente terremoto, ao contrário do que diz a propaganda oficial, demonstra da forma mais explícita e cruel que cinco anos de ocupação militar não serviram para dotar o país de mais infra-estrutura ou melhores condições de vida. Ao contrário, o desastre natural desnudou a catástrofe social que é a vida no Haiti.
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