Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical (FS), não consegue mais explicar os inúmeros escândalos de corrupção em que está envolvido. Nos últimos dias, um relatório da Polícia Federal aponta o envolvimento do sindicalista num desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). O documento diz que Paulinho recebeu propina de R$ 325 mil para intermediar um empréstimo de R$ 124 milhões do BNDES para a prefeitura de Praia Grande (SP).

O esquema envolveria, ainda, João Pedro de Moura, ex-assessor de Paulinho, e Ricardo Tosto, membro indicado pela FS ao Conselho de Administração do BNDES. Gravações da PF mostram que o sindicalista era tratado como “nosso chefe” por Moura, em conversas com Manuel Fernandes, dono de uma casa de prostituição que servia para lavagem de dinheiro.

Além disso, o BNDES teria sofrido ingerência da FS no esquema. Uma prova disto é a doação de R$ 1,2 Milhão à ONG Meu Guri, cuja presidente é a esposa de Paulinho.

A única conseqüência possível
A corrupção na FS é conseqüência do tipo de sindicalismo que representa a central. Criada nos anos 1990 pelo então presidente Fernando Collor de Melo, a FS representou o surgimento de um sindicalismo neoliberal, defensor das privatizações e da flexibilização dos direitos dos trabalhadores. Por outro lado, a central tirou proveito da velha estrutura sindical da época de Getúlio Vargas, de ligação ao estado e a governos.

Em todos estes anos, a central atuou como um braço da direita no sindicalismo do país. Esteve presente na defesa das privatizações durante o governo FHC. Defendeu as reformas previdenciárias do presidente tucano e, recentemente, de Lula. Implementou banco de horas, negociou direitos dos trabalhadores como produtos na prateleira de um supermercado. Algo assumido pelo próprio Paulinho num acordo dos trabalhadores de autopeças de São Paulo: “O acordo deverá ser por adesão. Entra quem quer ou precisa. Empresa e trabalhador terão alternativas ao escolher férias, 13º e outros direitos. É como a prateleira de um supermercado”, afirmou na ocasião.

Apesar de criticar a FS nos anos 90, hoje, a esquerda governista defende Paulinho e sua central. A CUT demonstrou seu apoio através da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT). A entidade lançou nota contra “a enorme campanha midiática” contra Paulinho.

Seguindo o mesmo argumento, um artigo publicado no Portal da Força, assinado por Altamiro Borges, dirigente do PCdoB, afirma que o caso Paulinho significa uma “o cerco midiático ao sindicalismo”. Para ele o “objetivo da mídia hegemônica, que só os ingênuos e os sectários não enxergam, é estigmatizar as entidades sindicais”. Altamiro conclui seu raciocínio dizendo que “os ataques são duros, mas as provas são escassas”.. Além disso, centrais como CGTB, CTB (ligada ao PCdoB) e a NCST também lançaram nota de apoio ao presidente da Força.

O fato é que os governistas não se cansam de repetir o velho conto da carochinha sobre a “conspiração da mídia”. Agora, adaptado às pressas para defender o que nos velhos tempos chamavam de sindicalismo pelego. Entretanto, os tempos são outros. Força, CUT e CTB, CGTB e NCST apóiam o governo federal e recebem dinheiro do Estado, por meio das polpudas verbas do Imposto Sindical e do FAT.

Não foi a Força que mudou. A central continua coerente com sua política pró-patronal. Mas agora encontrou novos parceiros. O neopelegos governistas estão juntos para manter uma política a serviço dos patrões e contra os trabalhadores.