Escândalos de corrupção não são uma mera exclusividade de Henrique Meirelles. Os trambiques do recém empossado ministro da Previdência, Romero Jucá (PMDB) também vêm ocupando as páginas dos jornais do país. E o cardápio de denúncias é farto. Com pouco mais de duas semanas no cargo, o ex-senador é acusado de intermediar a liberação de recursos do Ministério da Saúde para a cidade de Cantá (RR) entre 1999 e 2000. Uma interceptação telefônica teria registrado o envolvimento do ministro na cobrança de propina: “Não esqueça a parte do senador”, dizia o prefeito da cidade na gravação.

Outra denúncia afirma que a empresa Frangonorte, de Jucá, recebeu R$ 18 milhões em empréstimo, com recursos públicos do Banco da Amazônia, e que não foram pagos posteriormente. O problema, no entanto, foi quando o banco resolveu executar as sete fazendas oferecidas por Jucá e descobriu que elas simplesmente não existiam.

Jucá também é acusado por favorecer a exploração de madeireiras em reservas indígenas no Mato Grosso e em Rondônia, na época que presidia a Funai. Por esse crime, ele chegou até a ser denunciado pelo Ministério Público, contudo, o processo foi arquivado.

Quem defende?
O presidente Lula chamou o PMDB à responsabilidade de defender Jucá das acusações. Mas, pelo que aparenta, o PMDB não está nada disposto a enfrentar esse desgaste. Cabe lembrar que Jucá não foi indicado de forma unânime pelo seu partido. Sua indicação para o loteamento ministerial foi obra de Renan Calheiros, presidente do Senado. Outros setores do PMDB, ligados a José Sarney, Orestes Quércia e Antony Garotinho, não têm a menor responsabilidade sobre a indicação e, portanto, não irão defender Jucá. Pelo contrário, deixarão o ministro continuar fritando. Diante desse fato, a equipe do Planalto preparou uma série de orientações para ele se desvencilhar das acusações. Jucá se reuniu com o ministro das Comunicações do governo, Luiz Gushiken, com o presidente Lula e com a Coordenação Política do governo, para traçar um plano de defesa contra as acusações.

Na reunião, Lula disse que “confia no ministro”, mas que era preciso que Jucá abafe as acusações mostrando as ações “positivas” na Previdência. Quer dizer, abandoado por seus pares peemedebistas, restou a Lula tentar, como fez com Meirelles, livrar a cara de Jucá.

Aproximação do PMDB
A saída de Jucá seria mais um duro golpe ao governo do PT. Os escândalos de corrupção contra Jucá são de longa data e também é produto do rescaldo político das reforma ministerial. Lula sabia de acusações levadas a público, sabia que Jucá era corrupto, pois recebeu um longo dossiê sobre os trambiques do ex-senador. Mas o tempo corria contra o governo, a pressa em recompor a base governista no Congresso falava mais alto e Jucá foi nomeado.

Agora, além de tentar salvá-lo, Lula se aproxima do PMDB numa tentativa desesperada de se reeleger em 2006. Passos já foram dados nesse sentido quando Lula resolveu compartilhar com Rosinha Garotinho a intervenção na saúde do Rio de Janeiro e, mais recentemente, na reunião que fez com o histórico fisiológico Orestes Quércia.

Se os conchavos seguirem adiante é bem certo que o governo faça um novo loteamento. Resta a pergunta: quantos mais Jucás vêm por aí?