A lama volta a vir à tona. Depois da sequência de ministros afastados por envolvimento em escândalos, é agora ao Congresso Nacional que se voltam as denúncias. Demóstenes Torres, senador do DEM-GO é o protagonista da vez. A operação Monte Carlo, realizada pela Polícia Federal, levanta fortíssimos indícios de um poderoso esquema de corrupção e tráfico de influência envolvendo Demóstenes, deputados e o governador de Goiás, todos associados ao bicheiro Carlinhos Cachoeira.

O senador teria usado seu mandato em favor dos negócios de Cachoeira, que volta à cena depois de ter sido um dos pivôs dos escândalos do mensalão, durante o primeiro mandato de Lula. Àquela altura foi acusado de pagar propina a um assessor do ex-ministro José Dirceu. Agora, suas relações escusas envolveriam lobby, interferência em processos judiciais, além da atuação sobre diversos órgãos a favor de Cachoeira e da máfia do jogo do bicho.

Praticamente metade da bancada de deputados de Goiás pode estar envolvida no esquema, cuja extensão alcança empreiteiras e meios de comunicação. A construtora Delta, principal responsável pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), é mencionada em telefonemas grampeados.  Por sua vez, a reacionária revista Veja, “paladina” da moralidade, também vai ter que se explicar, pois a Polícia registrou 200 gravações telefônicas entre seu redator-chefe, Policarpo Junior, e Carlinhos Cachoeira.

Como é de costume, é nos detalhes mais pitorescos que se revela a profunda relação entre corruptos e corruptores. Demóstenes e Cachoeira têm um histórico de telefonemas mútuos frequentes. O Senador já pagou serviços de taxi aéreo com dinheiro do bicheiro, que lhe ofereceu até mesmo eletrodomésticos como presente de casamento. Em sua defesa, Demóstenes alega ser apenas “amigo pessoal” do contraventor.

Todos têm rabo preso
A exposição das denúncias aprofunda a crise da oposição de direita, que não pode ter nenhum interesse em levar qualquer investigação às últimas consequências. Teme que fique cada vez mais claro o envolvimento de Marconi Perillo, governador de Goiás (PSDB), o que alargaria a desmoralização desses senhores.
Por sua vez, o governo Dilma também tem o seu telhado de vidro. Não bastasse a prisão de Cachoeira trazer à memória os escândalos do mensalão, há escutas que comprometem o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que é do PT. O chefe de gabinete de Queiroz já pediu demissão.

Cabe lembrar, ainda, que a Delta – além do compromisso com grandes obras federais -, financiou fortemente a campanha de Dilma e de diversos governadores da base aliada do governo. Só em 2011, a empreiteira recebeu R$ 884,4 milhões em pagamentos de contratos com a União. O volume desses acordos subiu 1.417% desde 2003. São dados que traduzem a forte aliança entre a empresa e o governo federal.

Como se vê, Cachoeira transitou amplamente entre governo e oposição, mostrando que, em matéria de corrupção, os dois blocos não se diferenciam em nada. Por isso, a CPI que está sendo instalada não tem qualquer condição de investigar e punir ninguém com seriedade. Essa comissão poderá, no máximo, estabelecer um acordo segundo a correlação de forças entre governo e oposição de direita. Vão pesar suas maracutaias por quilo e entregar um ou outro dedo para não perderem suas mãos sujas de lama.

Tentarão, ainda, preservar – o quanto for possível – o Congresso Nacional. Por isso, não temos nenhuma confiança nesse teatro, onde o sujo vai “investigar” o mal lavado.

Acabar com privilégios de todos os políticos
O caso Demóstenes é, ainda, uma ilustração clara da natureza da dita “democracia” em que vivemos. Os ricos e poderosos tudo podem, à custa da miséria do povo pobre. O Senado e a Câmara dos Deputados são verdadeiras tribunas de negócios e privilégios, onde a corrupção é parte desse mesmo jogo. É evidente que se são as empresas que financiam as campanhas eleitorais, são elas quem vão controlar os mandatos eleitos – pouco importa se por meios legais ou ilegais. Como estamos assistindo, políticos, empresas e até o crime organizado se fundem nos mandatos parlamentares e nos bastidores do poder.

É justo se indignar com a corrupção, por isso apoiamos as marchas que estão sendo convocadas para o dia 21 de abril nas redes sociais. Só nas ruas é possível conquistar a prisão de Demóstenes e de todos os corruptos e corruptores, além do confisco de seus bens. Enquanto hospitais e escolas padecem por falta de verbas, quase nunca o que é roubado é devolvido aos cofres públicos – mesmo quando existe algum tipo de punição.

Fim do Senado e mandatos revogáveis
O PSTU defende, em seu programa, o fim do Senado e o estabelecimento de uma única câmara eleita pelo povo. O sistema bicameral é arcaico e antidemocrático. A eleição dos senadores, com seus mandatos de oito anos, distorce a proporção de eleitores nos estados, reduzindo qualquer aparência de controle do povo sobre as decisões daquela casa. Como se não bastasse, o custo de funcionamento dessa Casa sangra violentamente os cofres públicos, todo ano.

É preciso, ainda, que os mandatos de todos os parlamentares sejam revogáveis pelo povo e que se ponha um fim a todos os privilégios que concedem uma vida de luxo e fantasia a vereadores, deputados e políticos em geral. Defendemos que sejam remunerados com o salário médio de um trabalhador comum e o fim de benefícios extravagantes – que, em alguns estados, chegam até o 18º salário!

Enquanto a representação parlamentar for sinônimo de privilégios sem fim e vivermos sobre as regras das instituições dos ricos, vamos seguir assistindo à corrupção nossa de cada dia. Por isso, ao lutar contra toda essa lama, é preciso denunciar e combater esse regime dos poderosos, cujos representantes chamam (quase ironicamente) de “democracia”.
Post author Jorge Badauí, da redação
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