Um setor da esquerda que optou por ficar na CUT, e outro que está em processo de desligamento desta central, deu início recentemente à construção de um agrupamento chamado “Intersindical”. Há pouco tempo circulou o jornal deste agrupamento que anuncia já na sua principal manchete: “Nasce um instrumento para avançar a luta!”. A estes companheiros dirigimos esta carta aberta.

Desde já, queremos deixar claro que temos um grande respeito por todos os que estão construindo a Intersindical, o respeito que merecem os que estão na luta dos trabalhadores. E também que consideramos perfeitamente legitimo que se busque organizar um instrumento para fazer avançar a luta dos trabalhadores.

Vivemos uma época de reorganização e recomposição dos movimentos sociais – particularmente do movimento sindical – justamente porque a chegada de Lula ao governo levou à cooptação e ao atrelamento da CUT, ao abandono por parte desta central de qualquer compromisso com os interesses e direitos da classe trabalhadora brasileira. Os trabalhadores, ao se verem forçados a lutar contra empresários e o governo, esbarram na falta de um instrumento que unifique e dê um sentido comum a sua luta para conquistar suas reivindicações e defender seus direitos.

A construção de uma alternativa de organização que cumpra este papel, portanto, é uma necessidade dos trabalhadores. Para defender os trabalhadores das políticas do governo Lula, da ganância de lucro dos patrões, para lutar por mudanças neste país de forma a que os que trabalham possam ter uma vida digna. Uma alternativa que reconstrua a unidade dos trabalhadores para a luta, portanto.

Mas não podemos deixar de tornar públicas nossas preocupações e algumas ponderações que já fizemos a vocês diretamente em várias ocasiões.

Porque não unir forças na construção da CONLUTAS?
Há mais de 2 anos vem sendo construída no país uma alternativa com estas características e com estes objetivos – a CONLUTAS. Ela foi responsável pela maioria das mobilizações que houve para impedir a aprovação da reforma sindical/trabalhista. Impulsionou inúmeros processos de luta (nacionais e locais) pelo país e realizou um grande Congresso, maio deste ano, com ampla participação de delegações de base de todo o país, aglutinando significativos setores dos movimentos sindical e popular.
Mais de 3 mil trabalhadores presentes ao CONAT decidiram fazer da CONLUTAS uma nova Central, de caráter Sindical e Popular, aberta a participação de todos os setores que querem lutar. Sua direção (em nível nacional, estadual ou local) é exercida por uma Coordenação onde todas as entidades, movimentos sociais, oposições sindicais podem mandar representantes com direito a voz e voto. Não há diretoria com mandato fixo.

Trata-se de uma estrutura de organização absolutamente aberta a todos que queiram lutar, e democrática – todas as decisões são tomadas nestas Coordenações, coletivamente, com a participação de todas as entidades e movimentos. Este processo, inclusive, contou em seu início com a participação dos que hoje impulsionam a construção da Intersindical.

Por que, então, não somar forças na construção da CONLUTAS? Por que construir outro instrumento? Que diferença política tão fundamental os companheiros têm com a CONLUTAS, que possa justificar a divisão das forças de esquerda neste momento?

Temos ouvido vários argumentos que tentam explicar esta atitude. Um deles diz que algumas entidades não querem sair da CUT porque acreditam que a disputa ainda se dá por dentro desta Central. Este argumento não tem amparo na realidade, na experiência prática dos ativistas e dos trabalhadores neste último período. A CUT avança cada vez mais em sua trajetória traidora, e os dirigentes que resistem e lutam contra isso estão cada vez em número menor dentro dela (no Congresso de 2002 a esquerda teve 25% dos votos, enquanto que neste último teve apenas 6,9%).

Não há espaço democrático que permita uma disputa real internamente a CUT. Na verdade, há um processo em curso, cada vez mais intenso, de entidades saindo destas central e é de fundamental importância que haja uma possibilidade de aglutinação unitária para todas estas entidades.

Outro argumento busca justificar a atitude de construir a Intersindical porque é necessário construir uma alternativa “mais ampla”, “que não seja estreita”, etc. Ora, também este não resiste à força dos fatos. A CONLUTAS é hoje uma alternativa muito mais ampla que a Intersindical que os companheiros tentam construir.
Mais ampla, em termos de número de entidades – participaram do CONAT mais de 200 sindicatos e mais de 100 oposições sindicais.
Mais ampla, em termos das forças políticas – participam da CONLUTAS forças ligadas ao PT, ao PSOL, ao PSTU, ao PDT, a várias outras organizações políticas e setores independentes.
Mais ampla, em termos de setores sociais envolvidos. Estiveram presentes no CONAT, cerca de 80 movimentos populares (movimentos de luta por moradia, de luta pela reforma agrária, de desempregados, de luta contra a discriminação racial, contra a homofobia e o machismo, etc), e dezenas de organizações estudantis. Esta não é uma questão secundária. Durante anos, no início da vida da CUT, defendemos uma central que viesse a agrupar todos os setores explorados da nossa sociedade, nos moldes das COB boliviana. A CONLUTAS está neste caminho.

Alguns companheiros dizem que o problema é o tratamento, que deve ser respeitoso. Concordamos plenamente, é assim que tratamos os companheiros e é assim que se processam os debates no interior da CONLUTAS. Há discussões acaloradas? Com certeza, pois a diversidade política e de opiniões é grande. Mas discussões francas acerca dos problemas e desafios que estão colocados para os trabalhadores não podem ser confundidas com falta de respeito. Ademais, perguntamos: será que no interior da CUT os companheiros se sentem mais respeitados?

Apenas uma questão justificaria a divisão: Se os companheiros acreditam que, de fato, é necessário permanecer na CUT. Que não é necessário construir uma alternativa. Neste caso sim, seria compreensível a postura de rejeitar a construção da CONLUTAS, porque ela é efetivamente uma alternativa à CUT e se constrói contra a CUT e demais centrais sindicais pelegas. Mas se é esse o caso, não é adequado dizer que, com a Intersindical, “nasce um instrumento para avançar a luta”. Não é possível construir um instrumento para avançar a luta sem romper com a CUT.

Instrumento para a luta não se confunde com “unidade de ação”, que devemos fazer sempre que for do interesse dos trabalhadores, até mesmo com a CUT. Instrumento para unir os trabalhadores em sua luta só se constrói hoje em alternativa, e em contraposição, à CUT e demais centrais sindicais pelegas.

Queremos reafirmar, então, o chamado a que os companheiros: Rompam efetivamente com a CUT e venham somar forças conosco para, coletiva e conjuntamente, avançarmos na consolidação da CONLUTAS como a alternativa que os trabalhadores brasileiros precisam para defender seus direitos, lutar por suas reivindicações e para mudar este país, acabando com toda forma de exploração e opressão do capitalismo. Impulsionar neste momento um outro pólo de aglutinação, com o mesmo objetivo, é dividir as forças da esquerda brasileira e dos trabalhadores de uma forma geral.

Por último, reafirmamos também o chamado aprovado no CONAT: Independentemente das nossas diferenças neste momento, somemos nossas forças na construção de um amplo processo de resistência e de mobilização popular para impedir a aprovação das reformas neoliberais que o governo anuncia para depois das eleições.

São Paulo, agosto de 2006
Coordenação Nacional da CONLUTAS