No final do mês de abril muitos ativistas e dirigentes sindicais de vários países viram-se surpreendidos por uma série de denúncias contra o PSTU e a CSP-Conlutas do Brasil e contra nossa corrente internacional, a LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – IV Internacional).

Estas três organizações eram acusadas, a partir dos acontecimentos nas eleições do Sindicato dos Trabalhadores Químicos da cidade de São José dos Campos (SP-Brasil), de ter formado uma chapa de oposição com a patronal da multinacional Johnson & Johnson para derrubar uma direção classista e combativa, e de ter exigido, na justiça, a demissão de vários dirigentes sindicais.

Esta acusação foi feita por um pequeno grupo brasileiro, chamado CST, e quem as difundiu em nível internacional foi a UIT (corrente internacional da qual faz parte a CST), que se dedicou a colher assinaturas de dirigentes sindicais de vários países para respaldar essas acusações.

Diante desta grave denúncia, a direção da LIT-QI investigou o que tinha ocorrido nesse sindicato e chegou à conclusão de que tudo não passava de uma campanha de calúnias de um grupo de dirigentes sindicais encabeçado por um sindicalista da CST, chamado Cabral que, desesperado frente à possibilidade de perder o controle do aparelho sindical, chegou a falsificar as atas de uma assembleia que não existiu para tomar o controle da tesouraria do sindicato; acusou a seus ex-parceiros que formaram uma chapa de oposição, de delatores e agentes da patronal e fez essas mesmas acusações contra o PSTU/LIT-QI e a CSP-Conlutas por terem apoiado essa chapa.

Não nos surpreende que ocorram este tipo de fatos em sindicatos. É que os aparelhos sindicais, com seus importantes recursos materiais, exercem uma tremenda pressão sobre os ativistas sindicais e há muitos que sucumbem a essas pressões e por isso, como é o caso ao qual nos referimos, muitas vezes mostram-se dispostos a fazer qualquer coisa (“vale tudo”) para não perder o controle desses aparelhos. Mas o que sim, resulta contraditório, é que uma corrente como a CST/UIT, que se reivindica trotskista e que, portanto deveria defender como um princípio a democracia operária, não só esteja defendendo este grupo sindical burocratizado, mas também se tenha colocado à cabeça da campanha de calúnias contra o PSTU, a CSP-Conlutas e a LIT a tal ponto que as seções da UIT escrevem em seus órgãos de imprensa que o PSTU do Brasil faz parte da “esquerda traidora”.

No dia 20 de maio, o Comitê Executivo Internacional da LIT emitiu uma declaração intitulada: “Em defesa da moral proletária” na qual, após analisar os fatos e denunciar esta campanha de calúnias, formulava nove perguntas, muito objetivas, à direção da UIT, para que ficasse claro se era verdade o que dizia esta organização (que estávamos diante de uma traição) ou, pelo contrário, se era verdade o que dizia a LIT-QI (que estávamos diante de uma campanha de calúnias).

Após formular essas perguntas, a declaração afirmava: “A direção da UIT tem a obrigação de responder a estas nove perguntas porque, se não o fizer, a própria UIT estará se autocondenando como uma organização de caluniadores.”

Já passaram mais de dois meses desde que estas perguntas foram formuladas e a UIT não respondeu a nenhuma delas. Não nos surpreende. A UIT não está buscando a verdade. Nenhum caluniador o faz.

A UIT transferiu essa responsabilidade a sua seção no Brasil, a CST, a qual, por estar no país dos acontecimentos, não poderia deixar de responder. Assim, no último dia 10 de junho, esta organização fez pública uma declaração intitulada: “Quem defende a moral proletária? Resposta ao documento da LIT”.

Todo ativista que queira saber a verdade tem que ler atenciosamente esta “resposta” da CST, pois ali encontrará uma lição de como fazer para responder a tudo (ou quase tudo) sem responder a nada para, desta forma, continuar e inclusive aumentar sua campanha de calúnias.

Em sua “resposta”, a CST fala de dezenas de outros assuntos, mas, quando aborda o tema em debate, não consegue negar os fatos descritos na declaração da LIT. No entanto, em lugar de se autocriticar pela campanha de calúnias que está fazendo, reafirma a dita campanha e, mais ainda, adiciona novas calúnias, como quando afirma, sem apresentar nenhuma prova, que o PSTU tem uma “dependência financeira” dos aparelhos sindicais. Isto é, agora, após ter acusado o PSTU de traidores, passa a acusá-lo de assaltar os cofres dos sindicatos que dirige.

Esta metodologia da CST pode ser vista já a partir da resposta que fazem à primeira pergunta.

A primeira pergunta formulada no documento da LIT dizia: É verdade, ou é mentira, que entre os trabalhadores químicos e nas eleições sindicais desse sindicato não tinha nenhum militante ou chapa do PSTU ou da LIT?

A pergunta era apropriada, pois toda a campanha internacional da UIT era para mostrar as “traições” da chapa do PSTU/LIT, quando na realidade não existia nenhuma chapa do PSTU. O que existiu foi uma corrente de oposição, surgida a partir de uma ruptura da corrente dirigida pela CST, que foi apoiada pelo PSTU.

Se era uma chapa do PSTU ou se só era apoiada pelo PSTU não era um detalhe secundário, pois o PSTU/LIT apoia dezenas de chapas de oposição contra as direções burocráticas ou burocratizadas, mas não por isso é responsável pelo que façam as ditas chapas. Se esta chapa de oposição tivesse cometido uma traição, como denuncia a UIT, o PSTU ou a LIT não poderiam ser acusados dessa suposta traição. Da mesma maneira que o PSTU, ou a própria CST, não pode ser acusado pelas traições cometidas por Lula, embora o tenha apoiado em algumas ocasiões.

A CST em sua resposta não tinha como continuar dizendo que nas eleições do sindicato existia uma chapa do PSTU/LIT, porque não existia. Por isso, em sua declaração, para poder continuar com sua campanha de calúnias, mente sobre o que eles mesmos acabaram de afirmar. Diz: “Nunca afirmamos que os integrantes da chapa 2 eram filiados do PSTU… sempre afirmamos que a chapa 2 era apoiada pela CONLUTAS/PSTU que faz parte da LIT”.

Desta forma, sem o menor rubor, tentam ocultar o que não é ocultável: a declaração que fizeram dezenas de dirigentes sindicais assinar se intitulava: “Chapa da Conlutas/PSTU (LIT‐QI) e a multinacional Johnson obtêm na justiça a demissão de três dirigentes químicos reincorporados”.

A partir daí, a declaração da CST mente novamente ao dizer que os militantes do PSTU respaldaram uma ação na justiça – que eles chamam de “traição”– de dois membros da oposição e por isso o PSTU, a LIT e a CSP-Conlutas também seriam traidores.

A realidade foi bem diferente: A maioria da direção do sindicato, sem consultar ninguém, trocou os nomes de uma lista de dirigentes que tinham estabilidade, deixando desta forma cinco dirigentes expostos à demissão da patronal. Diante deste fato, dois membros da oposição entraram com uma ação na justiça solicitando a anulação da medida tomada pela maioria da direção, abrindo a possibilidade de que outros dirigentes, agora da maioria, fossem demitidos.

Quando o PSTU e a CSP-Conlutas se inteiraram desta ação dos dois membros da oposição, propuseram que tinham que defender a todos os companheiros e, portanto, ela deveria ser retirada. A chapa de oposição, de conjunto, foi convencida, e seus dois membros retiraram a ação, antes que ela fosse julgada.

A CST também não pode negar este fato ainda que lhe dê uma interpretação diferente: “Somente quando se deram conta da violenta reação desse fato na vanguarda sindical… foram aconselhados rapidamente pelo PSTU a retirar a denúncia”.

Isto é, a CST reconhece que o PSTU esteve contra a chamada “traição”, o que teria de levar esta organização a autocriticar-se por sua campanha de calúnias. Mas, em lugar de fazer isso, “descobre”, de última hora, um “argumento” que provaria a traição: o PSTU esteve contra a ação impetrada na justiça, mas não pediu a expulsão dos dois membros da oposição; por isso seriam traidores: “Se a Conlutas/PSTU e agora a LIT não coincidem com isso por que não pediram a expulsão desses elementos da chapa…?”

E, com relação à acusação de que o PSTU, a LIT e a CSP-Conlutas teriam um acordo com a patronal da Johnson & Johnson? Quais são as provas que apresenta a CST? Nenhuma, mas… continuam com a mesma acusação.

Toda a “resposta” da CST/UIT é feita com esta lógica. Não podem negar o que diz a declaração da LIT, mas isso não tem a menor importância: “o PSTU, a LIT e a CSP-Conlutas, são todos traidores”. Essa é a lógica desta grosseira campanha de calúnias feita em nome do “classismo combativo” e até da… moral revolucionária.

Curiosa “moral revolucionária” tem esta corrente que não consegue negar na sua declaração que falsificaram as atas de uma assembleia que não existiu para se apoderar da tesouraria do sindicato. Ou que não consegue negar que os “traidores” da oposição lhe propusessem realizar uma assembleia, do sindicato que eles dirigem, para que as bases operárias restabeleçam a verdade e a suposta direção “classista e combativa” se negou a realizar.

Vários camaradas criticaram-nos porque com nossa declaração e com a tentativa de diálogo com a CST/UIT estaríamos perdendo tempo. Estes companheiros disseram-nos: “Eles não vão reconhecer nada. Eles vão continuar caluniando. Sempre fazem isso”.

Nós não acreditamos ter perdido tempo. Existe uma batalha a dar, até o fim, contra a herança deixada pelo stalinismo no interior do movimento operário: Contra a utilização de capangas, agressões, chantagens, falsificações, mentiras, corrupção e calúnias. Esta campanha lançada por nós a nível internacional contra as calúnias da CST/UIT faz parte dessa batalha, que estamos orgulhosos de ter dado, não só porque nos negamos a legitimar estas práticas stalinistas – feita neste caso por “trotskistas”– mas também porque com ela acreditamos ter obtido importantes resultados.

Com esta campanha reintroduzimos, em importantes setores do movimento operário e da esquerda, uma discussão em torno da necessidade de recuperar o melhor da tradição do movimento operário, prostituída pelo stalinismo. Nesse marco acreditamos ter ajudado que militantes da UIT tenham se oposto aos métodos de sua direção a tal ponto que um importante dirigente dessa organização, que aparecia assinando a campanha de calúnias, nos tenha confessado que sua assinatura foi colocada pela direção da UIT contra sua vontade. Também achamos que nossa campanha ajudou a que direções sindicais independentes, como a dos trabalhadores dos correios de São José do Rio Preto (Brasil), que também apareciam assinando essa infame campanha de calúnias, tenham feito uma declaração em que afirmam: “… o que foi publicado é diferente do que aprovou a Direção Colegiada, pois ataca diretamente os camaradas da CSP-CONLUTAS por estar do lado do patrão, com o que não coincidimos já que os camaradas estão na linha de frente na defesa dos interesses classistas da classe trabalhadora”.

Também achamos que nossa campanha ajudou a que outras organizações de esquerda tenham se pronunciado contra as calúnias, como pode ser visto no caso da LSR, que a nível internacional faz parte do CIO (CWI), e que no Brasil integra o PSOL (o mesmo partido da CST), que no dia 5 de julho publicou uma declaração intitulada: “Não ao método da calúnia no interior da esquerda. Em defesa de Joaquim Boca! Em defesa de uma moral de classe revolucionária na esquerda socialista”, onde esta organização denuncia uma nova campanha de calúnias da CST/UIT, agora contra eles, em termos muito similares aos usados contra o PSTU/LIT e a CSP-Conlutas.

Temos que destacar, ademais, a importante resolução da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas (ver Anexo V) na qual participam dezenas de sindicatos, oposições e correntes sindicais, e que, entre outras coisas, assinala: “Não é a primeira vez que a CST-Unidos se vale de uma campanha de denúncias morais para atacar dirigentes e/ou entidades classistas do campo da luta dos trabalhadores em nosso país… Não há como ignorar a atitude desta corrente e deixar passar esta situação, aceitando que esse vale-tudo seja parte do quotidiano e das relações entre organizações e movimentos dos trabalhadores…

A Coordenação Nacional da CSP-Conlutas resolve enviar a todas as organizações do movimento operário, nacionais e estrangeiras, o dossiê confeccionado ao longo das últimas semanas, que comprovam o quanto as acusações da CST-Unidos são mentirosas e levianas e alerta que essa corrente político-sindical avança perigosamente em um caminho de degeneração moral…”

Por fim, queremos terminar esta nova declaração da LIT-QI agradecendo especialmente a um importante número de militantes de várias organizações de esquerda com as quais temos importantes diferenças políticas, que, mesmo antes de conhecer nossa resposta, disseram-nos, de uma ou outra forma: “Temos muitas diferenças com a LIT, mas nós sabemos que a LIT não é nem traidora nem agente das multinacionais. O ataque contra vocês só pode ser uma calúnia da UIT” [1].

Não basta enfrentar o stalinismo. Não basta derrotá-lo. Deve-se extirpar sua herança maldita do movimento operário .

Não às calúnias e aos caluniadores!

Secretariado Internacional da LIT-QI
São Paulo, 31 de julho de 2012

Tradução: Rosangela Botelho

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[1] A reunião da Coordenação Nacional da CSP-CONLUTAS realizou-se no Rio de Janeiro entre os dias 13 e 15 de julho e a mesma contou com a participação de 251 dirigentes representando 50 entidades sindicais (entre sindicatos e federações), 30 minorias de entidades e oposições sindicais, 5 movimentos populares, 2 movimentos de luta contra a opressão e uma entidade estudantil. A resolução condenando calúnias da CST foi votada por unanimidade.