“Literatura na praça” de Gilvan Samico, gravurista pernambucano.
Redação

 

Somos algumas centenas de companheiras e companheiros que no passado fizeram uma aposta militante no PSTU. Temos orgulho de ter dedicado o melhor de nossas forças para essa organização, mas hoje vimos a público comunicar que esta experiência chegou ao fim e que decidimos trilhar um novo caminho.

Acreditamos que as dificuldades enfrentadas pelos revolucionários neste início de século 21 encontram sua explicação mais profunda no impacto reacionário da restauração capitalista na URSS, leste europeu, sudeste asiático e Cuba. Desde então a ofensiva política, econômica, social, militar e ideológica do imperialismo, os discursos sobre “o fim da história” e a adaptação da esquerda reformista à ordem burguesa não passaram sem consequências.

Mas a história não acabou. A crise econômica mundial de 2007-2008 e a intensificação das mobilizações abriram uma nova situação internacional. É preciso saber atuar sobre as contradições dessa nova realidade. O caminho do sectarismo e da autoproclamação nos condenaria à marginalidade.

No terreno da política nacional, por sua vez, as diferenças não foram menores. Há mais de um ano vínhamos afirmando que era preciso enfrentar, com centralidade, o governo Dilma e, também combater a oposição burguesa e suas mobilizações reacionárias. Para esta luta, acreditávamos que era necessário construir a mais ampla unidade de ação com todos os setores que estivessem na oposição de esquerda ao governo e, se possível, dar a esta unidade uma forma organizativa: uma frente de luta ou terceiro campo alternativo ao governo e à oposição de direita.

Depois que a maioria da burguesia se unificou em torno à proposta de impeachment, a partir de fevereiro de 2016, defendemos internamente que era vital lutar contra esta manobra parlamentar, sem que isso significasse, evidentemente, prestar qualquer apoio político a Dilma.

Debatemos estas e outras diferenças lealmente durante quase um ano. Não obstante, foi atingido um ponto de saturação. Quando as diferenças se fazem insolúveis, quando a possibilidade de síntese se esgota, quando as polêmicas se tornam destrutivas, o perigo da desagregação passa a ser maior que tudo. Para preservar o maior patrimônio de qualquer organização, seus militantes, optamos por encerrar a luta e deixar o PSTU.

Reconhecemos o PSTU como uma organização revolucionária. Não pensamos que é menos revolucionário agora do que antes. Mas às vezes é impossível aos revolucionários pertencer a uma mesma organização. Apostamos na possibilidade de uma separação exemplar, muito diferente das rupturas explosivas e destrutivas que o passado tanto viu. Seguimos nos marcos da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT- -QI), na qualidade de organização simpatizante.

Rejeitamos qualquer tentativa de reeditar, trinta anos depois, a experiência reformista do PT, como faz hoje a direção majoritária do PSOL. A redução da luta de classes à luta parlamentar, as alianças com os setores supostamente progressivos da burguesia nacional, a transformação dos deputados, senadores e prefeitos em figuras todo-poderosas, que só devem satisfações a si mesmos, tudo isso já foi feito. E fracassou. Não trilharemos este caminho.

As lutas dos explorados e oprimidos não podem esperar. Seguiremos juntos nessas lutas, na CSP-Conlutas, na ANEL, no MML, no Quilombo Raça e Classe e em diversos outros instrumentos forjados nos últimos anos. Defendemos a mais ampla unidade na ação prática, na luta comum, e avaliamos que esta luta passa hoje pela bandeira do Fora Temer. Não podemos deixar que este combate seja apropriado pela direção do PT em seu projeto de voltar ao poder com uma nova candidatura Lula. Ou seja, a velha chantagem do mal menor. É preciso abrir o caminho para outra saída política.

Defendemos a unidade deste terceiro campo também nas eleições municipais de 2016. Propomos ao PSTU, ao PSOL, ao PCB, às organizações políticas que não possuem legalidade e aos movimentos sociais a construção de uma Frente de Esquerda e Socialista, com um programa de ruptura com os planos de ajustes que são aplicados por todos os governos e prefeituras. Nos colocamos desde já a serviço dessas grandiosas tarefas.

O desafio é gigantesco. Apesar das diferenças que por ora nos afastam, desejamos aos camaradas força e sucesso na luta contra nossos inimigos de classe. Como socialistas revolucionários temos confiança que podemos, como dizia o velho poeta Maiakovski, “arrancar alegria ao futuro”. É chegada a hora de ousar. Mais do que nunca, é preciso lutar, é possível vencer.

LEIA a declaração da Direção Nacional do PSTU sobre a ruptura