Confira, o documento enviando à direção nacional do PSOL chamando a constituição de uma Frente de Esquerda para as eleições de outubroCompanheiros e companheiras,

O objetivo desta carta é abrir uma discussão franca, aberta e fraterna com a direção nacional do PSOL sobre o futuro da Frente de Esquerda nas eleições municipais deste ano.

Apesar das diferenças programáticas, políticas e de condução da campanha que tivemos com o PSOL durante a campanha eleitoral de 2006, o PSTU considera que a constituição da Frente de Esquerda foi um fato progressivo na conjuntura brasileira, principalmente com a apresentação da candidatura de Heloísa Helena à Presidência da República, que representou uma alternativa de oposição de esquerda ao governo neoliberal e traidor de Lula e do PT.

Coerentes com este balanço, nosso objetivo para as eleições municipais deste ano é a reedição da Frente de Esquerda, composta por PSOL, PSTU e PCB, apresentando alternativas unitárias da esquerda socialista para as prefeituras das principais cidades do país.

Em nossa opinião são três os critérios fundamentais que selariam a unidade da Frente de Esquerda, novamente em 2008:

1) A defesa da independência política da classe trabalhadora, que nos obriga a negar veementemente qualquer aliança político-eleitoral com os partidos da burguesia, mesmo que minoritários no aparelho de Estado neste momento. E, da mesma forma, o repúdio a qualquer aliança político-eleitoral com partidos que participam da base aliada do governo de Lula e do PT. Nossos candidatos seriam apresentados como representantes do mesmo arco político que compôs a Frente de Esquerda em 2006: PSOL, PSTU e PCB;

2) A manutenção de um perfil de oposição de esquerda ao governo Lula e aos seus aliados nos estados e municípios, e que signifique também uma demarcação intransigente com a oposição burguesa de direita, capitaneada na maior parte do país pelo PSDB e pelo DEM (ex-PFL).

Para além do perfil de oposição de esquerda a todas as prefeituras e governos, a apresentação de propostas que fossem a extensão para o terreno das eleições do programa histórico que o conjunto dos movimentos sociais brasileiros acumularam em décadas de lutas. Buscando saídas anticapitalistas e de transição ao socialismo para todos os problemas concretos e mais sentidos pelos trabalhadores e o povo pobre nas cidades em que apresentaríamos nossos candidatos;

3) A constituição de fóruns abertos e democráticos que discutissem os rumos, as propostas e as pré-candidaturas da Frente de Esquerda em cada cidade em que tivéssemos condições de fazê-lo, para garantir o respeito ao peso político de cada partido e organização envolvida neste processo, e também para atrair para a Frente de Esquerda os setores independentes dos movimentos sociais e da intelectualidade de esquerda.

Como estamos empenhados na manutenção da Frente de Esquerda nas eleições municipais deste ano, nos preocupa, principalmente, a decisão da convenção municipal do PSOL de Porto Alegre (RS), apoiada pela direção nacional de vosso partido, de construção de uma coligação com o Partido Verde nesta cidade, cabendo ao PV a indicação do Vice da candidatura de Luciana Genro à prefeitura.

Não é preciso discorrer muitas linhas sobre o caráter do PV: apóia e integra prefeituras como as de José Serra (PSDB) em São Paulo e de César Maia (DEM) no Rio de Janeiro. É parte – através de Gilberto Gil – do Ministério da Cultura e da base de sustentação do governo federal, além de ter sua bancada parlamentar dirigida por nada mais nada menos do que Sarney Filho, somente para nos ater em alguns fatos que demonstram que o PV é um partido burguês, muitas vezes usado como legenda de aluguel da burguesia.

E não nos parece que o PV do Rio Grande do Sul seja algo diferente do quadro nacional. Afinal, seu presidente regional Édson Pereira foi candidato à vice-prefeito nas eleições passadas em uma chapa encabeçada pelo PP de Maluf e chegou a integrar, como subsecretário de Meio Ambiente, o governo do atual prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PPS).

Da mesma forma, nos preocupa também as inúmeras notícias veiculadas na grande imprensa, e até agora não desmentidas pela direção do PSOL do Amapá, de uma possível aliança do PSOL local com o PSB e o PTB, encabeçada pelos “petebistas”, para a disputa da Prefeitura de Macapá.

Não é novidade para ninguém o caráter burguês do PSB que, além de integrar o Ministério e a base de sustentação do governo Lula, administra vários estados e municípios, sempre contra os interesses dos trabalhadores e a favor do grande capital. E nem é preciso falar do PTB de Roberto Jefferson.

Em nossa opinião, se forem confirmadas estas alianças político-eleitorais, os companheiros (as) da direção do PSOL cairão ao em um erro semelhante que o PT cometeu em finais da década de 80, quando começou a adotar uma política de alianças com partidos da burguesia, também minoritários naquele momento, com o objetivo de eleger mais parlamentares e chegar mais brevemente ao poder. A conseqüência foi a degeneração completa do PT como uma alternativa política para a classe trabalhadora brasileira.

Vemos também com preocupação o lançamento de pré-candidatos do PSOL a prefeituras de várias cidades do país sem uma mínima discussão prévia com os partidos que compuseram a Frente de Esquerda em 2006. Pois, entendemos que a unidade da esquerda socialista nas lutas e também nas eleições pressupõe a possibilidade de debatermos conjuntamente as ações políticas que vamos adotar no futuro.

Portanto, como até o momento, não houve nenhuma discussão formal entre as direções nacionais do PSTU e do PSOL sobre a política para as eleições de 2008, buscamos com esta carta a realização de uma primeira reunião este ano entre os dois partidos para pautarmos este importante tema e a instalação de um fórum permanente, incluindo nele também o PCB, para garantir a unidade da Frente de Esquerda em cada cidade.

Direção nacional do PSTU
26 de fevereiro de 2008