Enredos de blocos e escolas levam a luta dos trabalhadores para a foliaA construção do samba-enredo é uma oportunidade que algumas escolas e blocos têm para expressar ideais. A maioria opta por colocar na avenida um tema romanceado, uma homenagem a alguma grande personalidade ou exaltações nacionalistas. No meio disso tudo, alguns enredos abordam as lutas dos trabalhadores, exaltando o próprio povo, suas lutas e sua história.

O Bloco Acorda Peão, organizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), desfila há sete anos e em 2005 terá o enredo “Eleição não acaba com exclusão”. O samba fala sobre a farsa das eleições, sobre a guerra de Bush, critica o Fome Zero e chama o trabalhador a lutar. Também fala da ocupação do Pinheirinho, na qual 7.000 sem-teto lutam por moradia.

Também em São José, a Acadêmicos do Satélite, do Grupo Especial, resolveu homenagear o Sindicato dos Metalúrgicos. O samba-enredo fala da história da metalurgia, sobre as lutas e a data do primeiro de maio, além de citar a construção da Conlutas. O samba termina chamando uma união entre a escola e o bloco Acorda Peão: “Na passarela eu vou com o Acorda Peão!”.

O Bloco Acorda Peão desfila neste sábado de manhã e a escola Acadêmicos do Satélite no domingo.

São Paulo – A Camisa 12, escola do Grupo de Acesso em São Paulo, defende em 2005 o enredo “Trabalhadores unidos“, sobre a história da luta de classes. Estão presentes no desfile e no enredo temas como o Manifesto Comunista, a escravidão no Brasil, a Era Vargas, o regime militar iniciado em 1964 e a Guerrilha do Araguaia. Neste último evento, o grupo de teatro Macunaíma estará presente encenando a guerrilha. O enredo denuncia também o trabalho infantil, a opressão às mulheres e negros no mercado de trabalho e mostra a luta dos sem-terra. Vale a pena conferir.

  • CONFIRA AS LETRAS DOS SAMBAS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

    Bloco Acorda Peão

    “Eleição não acaba com exclusão“

    Eu vou no embalo, vou com o Acorda Peão.
    Vou denunciar. Pediu meu voto com alegria.
    É falsidade, é demagogia

    Americanos de joelhos pedem paz.
    Bush faz guerra querendo mais.
    Que contradição:
    Pediu paz e reelege o Satanás

    “Eu prometo acabar com a miséria”.
    Isso é profundo. Mas a cada segundo,
    morre de fome uma criança no mundo

    Passa eleição, vem eleição!
    E o povo continua na exclusão.
    Eu vou à luta, quero meu lugar,
    No Pinheirinho é onde eu vou morar

    O meu programa está cheio de emoção
    Eu vou à urna com empolgação
    Fome Zero dá o tom, 300 contos tá pra
    lá de bom.

    Escola de Samba Acadêmicos do Satélite

    Lá no céu caíram estrelas de aço
    E o homem foi presenteado
    Por uma dádiva dos Deuses
    Ogum (ôôô) o Senhor da Metalurgia
    Nos ensinou o que sabia para transformar

    É fogo na fornalha,
    põe pra derreter
    é samba, é acadêmicos, meu bem querer

    Aí a nossa história vai
    em frente
    Deixando o mundo diferente
    O Império Romano desabou
    Em confraria fui ferreiro
    e artesão
    E a maquinaria no lugar do coração
    Lutei para conseguir
    meu pão ganhei
    No calendário o meu dia hoje é lei

    É 1º de Maio, amor
    Sou suor e trabalho eu sou
    Já mandei filiar meu coração
    No carnaval sou folia,
    sou povão

    Porém, no meu Brasil tudo começa clarear
    Mas, o regime militar
    Combate a estrutura sindical
    Na questão salarial
    Fiz greve, defendi meu ideal

    Lá vem o Dito Bronca para dar a solução
    Agora é Conlutas, meu irmão
    Vermelho, verde e branco
    as cores da paixão
    Na passarela eu vou com o Acorda Peão