Na última terça-feira, o senador Barack Hussein Obama finalmente atingiu o número de delegados necessários para conseguir a indicação do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos. O senador será o primeiro candidato negro na história do país. O resultado saiu após cinco meses de disputadas prévias com a senadora Hillary Clinton, tida, no início do ano, como a favorita.

Ela, porém, pretende valorizar seu passe após a derrota. São fortes as especulações de que a ex-primeira dama seja indicada a vice na chapa de Obama. O objetivo seria fortalecer a candidatura democrata entre o eleitorado latino, uma vez que Hillary Clinton tem grande apoio dessa comunidade. Atualmente os latino-americanos são uma parte muito importante da população norte-americana, sendo 5,5% da população, segundo as estatísticas oficiais.

A rápida subida de Obama mostra que não são poucos os pobres, negros e explorados norte-americanos. Muitos vêem o senador negro como a “cara nova” e depositam nele suas esperanças. Sua campanha bateu recordes de participantes, especialmente jovens, excitados por sua mensagem, ainda que vaga, de “mudança”.

Não apenas o movimento negro e os jovens apóiam Obama. Muitos ativistas contra a guerra também foram atraídos pelas vagas promessas do senador sobre a retirada das tropas do Iraque.

Mas o que está por trás da candidatura de Obama? Um presidente negro à frente da mais poderosa nação do mundo poderá acabar com a guerra e representar um passo à frente na luta contra o racismo?

Crise do imperialismo
A candidatura de Obama responde a uma necessidade do imperialismo de “reciclar sua imagem”. A guerra de George W. Bush contra o Iraque despertou uma forte consciência antiimperialista em todo o mundo. A política militarista do senhor da guerra atraiu o ódio de milhões em todo o planeta.

Mas a guerra de Bush naufragou e a ocupação virou num pântano. Longe de “estabilizar” o Iraque e garantir que o governo fantoche consiga governar, a ocupação militar foi barrada pela resistência iraquiana. Isso gerou uma situação complicada para o imperialismo. Bush não pode retirar as tropas, só se admitir a derrota. Por outro lado, apesar dos bilhões colocados na guerra, o presidente norte-americano não sabe como mantê-la.

Como se não bastasse, os EUA foram atingidos por uma enorme crise econômica, levando definitivamente para um abismo a popularidade de Bush. A crise do governo mostra a necessidade de o imperialismo reciclar sua imagem dentro e fora do país. Até mesmo o candidato republicano, John McCain, embora mantenha uma postura conservadora, não quer ver sua imagem associada a Bush.

Nova cara para a dominação
Nesse sentido, Obama seria a “novidade”. Uma cara nova, mas com a mesma política de dominação. O blá-blá contra a guerra responde à crise enfrentada pelo imperialismo.
Mas Obama poderá muito bem fugir de suas promessas sobre a guerra. “Os planos de Obama manteriam as tropas norte-americanas no Iraque por mais alguns anos, provavelmente por mais tempo que seu possível mandato”, avalia Anthony Arnove, autor do livro Iraq: The logic of Withdraw (Iraque: a lógica da colateral), um livro-base para todos os ativistas antiguerra dos Estados Unidos.

Arnove avalia que, caso seja eleito, Obama reduziria alguns contingentes de soldados, mas manteria muitos outros apoiados pelos mercenários das companhias privadas de segurança. Nos últimos anos, a presença de mercenários aumentou assustadoramente. Hoje, entre 100 mil e 130 mil mercenários estão no Iraque, contra 160 mil militares norte-americanos.

“Obama também fala da necessidade de ‘reforçar a atenção nas fronteiras do Oriente Médio’ e acabar com a guerra no Afeganistão. Por isso é provável que vejamos tropas sendo transferidas do Iraque para a ocupação no Afeganistão . É possível também que haja outras intervenções na região”, avalia Anthony. Essa avaliação é apoiada nas próprias promessas de Obama, que afirma que manterá a guerra no Afeganistão, ampliando o número de soldados na ocupação.

Assim, muitos especialistas concluem que seriam feitas mudanças nas estratégias e táticas na guerra, mas não o fim dela. “Não irá acabar a política de perseguição e dominação das pessoas e dos recursos do Oriente Médio”, conclui Arnove.

Proteção a Israel
Por outro lado, logo após a vitória, Obama endureceu o tom do seu discurso. Ele disparou ameaças contra o Irã e garantiu proteção a Israel. Ele disse que fará “tudo” para impedir que o Irã tenha acesso a armas nucleares. “O perigo que vem do Irã é grave, é real, e minha meta será eliminar essa ameaça”, afirmou Obama num discurso que em nada deixa a desejar aos pronunciamentos de Bush. Ele ainda deixou claro seu apoio a Israel na luta contra os povos palestinos, dizendo que “Jerusalém deve permanecer como capital de Israel”.

Racismo
Na questão racial, por outro lado, Obama tem mais do que decepcionado aqueles que esperam alguma atitude anti-racista. Durante toda a campanha, o senador se apresentou como uma figura “pós-racial”, distante da história de lutas do povo negro norte-americano contra o racismo e pelos direitos civis.
Quando o tema ameaçava voltar em sua campanha, o senador fazia de tudo para se distanciar. Foi o que aconteceu nos episódios envolvendo as declarações do pastor negro evangélico Jeremiah Wright, ex-líder espiritual de Obama. Além de atacar o pastor, o senador anunciou sua ruptura com a igreja que freqüentava há mais de vinte anos.

Obama é negro e certamente sofre preconceito. Mas não vive a pobreza e a violência policial enfrentada pelos negros norte-americanos. Assim como outros políticos democratas e republicanos, contribui para a exploração de outros negros. Neste sentido, o senador está muito mais próximo da secretária de Estado Condoleezza Rice, do governo Bush, do que dos líderes negros norte-americanos da década de 60.
A sociedade é dividida em classes sociais e as opressões racial e sexual servem para a exploração capitalista para garantir salários baixos para os trabalhadores negros. Obama estará a serviço da manutenção de um sistema que se mantém sob a base do racismo.

O racismo e a opressão só podem ser combatidos pela negação do próprio sistema capitalista. Ou seja, pela total independência em relação aos poderosos e pela recusa de qualquer acordo que comprometa a libertação de todo o povo negro.

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