Em novembro de 2007, foi anunciada pela Petrobras a descoberta de um campo gigante de petróleo, batizado de Tupi. Este campo está localizado na costa brasileira, na plataforma continental de Santos (SP), a uma profundidade de 2.126 metros de água, além de 3 a 5 mil metros de rochas sedimentares, incluindo a camada de sal de 2 mil metros, perfurados no poço pioneiro.

Este campo é classificado como “não-convencional” por estar em águas ultraprofundas e ser de acesso muito difícil. Apesar da alta tecnologia da Petrobras em exploração, produção e avaliação de reservas em águas profundas e, agora, em águas ultraprofundas, é improvável que o topo de pré-sal, que é a base da camada de sal sob a qual encontra-se o petróleo acumulado e selado, seja arranhado antes do ano 2025.

No entanto, o anúncio da descoberta causou uma alta imediata das ações da Petrobras. Provocou uma guerra de informações entre a estatal e as outras empresas que fazem parte do consórcio de exploração e causou até o roubo de um computador com informações secretas, que ainda não foi bem explicado. Do consórcio fazem parte a Petrobrás, a Galp Energy de Portugal, que detém 10% do petróleo do campo de Tupi, e a transnacional britânica BG, com 25%.

Como explicar tanto interesse pelo petróleo de Tupi, que nem entrou em produção? O motivo não é difícil de entender, se olharmos para a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, um país riquíssimo em petróleo, e toda propaganda norte-americana de “guerra ao terror”, que atinge os principais países produtores.

A situação do petróleo no mundo
As vinte maiores províncias petrolíferas do mundo possuem 86% da reserva global de petróleo convencional, isto é, de fácil acesso, com 932 bilhões de barris para serem extraídos. A Arábia Saudita é o maior produtor mundial e já gastou 104 bilhões de barris, restando 171 bilhões de barris de petróleo de sua reserva. A Venezuela já gastou 48 bilhões de barris e ainda tem guardado 40 bilhões de barris de petróleo convencional. A Arábia Saudita e a Venezuela são os maiores fornecedores de petróleo para os Estados Unidos.

Em relação aos campos de petróleo “não-convencional”, situados em águas profundas e ultraprofundas, as reservas mundiais são estimadas em 70 bilhões de barris de petróleo. Essas quantidades parecem ser inesgotáveis, mas o consumo mundial, pelo qual os Estados Unidos são responsáveis por 25 %, é cada vez maior e as reservas ainda disponíveis podem ser esgotadas em 31 anos. Para se ter uma idéia, a previsão de consumo para 2030 exige a necessidade de descoberta de mais nove províncias petrolíferas do tamanho da Arábia Saudita. Mas onde achá-las, se 93% do petróleo convencional do planeta Terra já foi encontrado?

O caso do campo de Prudhoe Bay, décimo quinto maior do mundo, descoberto no Alasca em 1965, é exemplar. Com reserva comprovada de 12 bilhões de barris de petróleo, começou a produzir em 1977 (12 anos depois da descoberta) e atingiu sua maior produção em 1988 (11 anos depois do início da extração). Quando atingiu o pico de petróleo, isto é, sua produção máxima, o campo de Prudhoe Bay produzia 1,56 milhões de barris de petróleo por dia. Em 2001 (24 anos depois do inicio da produção), já quase que totalmente esgotado, Prodhoe Bay produzia apenas 180 mil barris de petróleo por dia. Isto é, um campo gigante, semelhante ao Tupi, esgotou sua produção em apenas vinte e quatro anos.

No Brasil, a situação não é diferente
A província petrolífera brasileira tem atualmente reservas de 21 bilhões de barris de petróleo. Num estudo feito em agosto de 2006, o pesquisador Colin J. Campbell calculou que a reserva de petróleo convencional (terra firme e águas rasas) da Petrobras no Brasil é de 7,5 bilhões de barris. O total até agora encontrado foi de 7,2 bilhões de barris, restando ainda 300 milhões de barris para serem descobertos. Do total em exploração já foram gastos 5,4 bilhões de barris. O guardado e ainda por produzir é de apenas 1,8 bilhão. Os picos de descoberta e de produção do petróleo convencional brasileiro ocorreram em 1975 e 1986, respectivamente. A segunda metade da reserva total de petróleo convencional começou a ser gasta a partir de 1997.

A reserva de petróleo não-convencional é de 13,5 bilhões de barris, descobertos nas regiões de águas profundas. Do total de 13,5 bilhões já foram gastos 4,5 bilhões. O pico de petróleo de águas profundas vai ser alcançado em 2008 e a segunda metade da reserva total começará a ser gasta a partir de 2011.

Em relação aos campos situados em águas ultraprofundas, boa parte da reserva mundial pode estar guardada nas bacias da plataforma continental brasileira, principalmente no Espírito Santo, Campos e Santos. O campo de Tupi na bacia de Santos pode adicionar às reservas já existentes entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo leve. É o que foi anunciado. Tupi representa cerca de 40% do total das reservas de terra firme, águas rasas, águas profundas e águas ultraprofundas na província petrolífera brasileira.

Tupi é uma estrutura geológica com significativo potencial de recursos petrolíferos que carece de apreciação e avaliação para verificar as características dos reservatórios e confirmar a dimensão do campo e o volume da reserva técnica e economicamente recuperável.

O imperialismo e Lula de um lado, o povo brasileiro do outro
Os interesses do imperialismo e os leilões dos campos de petróleo promovidos pelo governo Lula são incompatíveis com a luta pela nacionalização do petróleo e por uma Petrobrás 100% brasileira. O campo de Tupi, que já surge sem ser 100% brasileiro, também pode ser mais uma nova fonte de abastecimento para os Estados Unidos, como a maior parte do petróleo venezuelano e da Arábia Saudita. Se o exemplo do campo de Prudhoe Bay for seguido, uma produção de 0,9 bilhões de barris por ano esgotará o campo de Tupi em apenas 21 anos.

Da mesma forma, com o crescimento das reservas de petróleo não-convencional de águas ultraprofundas das bacias da plataforma continental brasileira, há um proposital relaxamento da segurança industrial que facilita o saque das informações exploratórias da Petrobras. Outra montagem bem preparada é a intensa propaganda dos biocombustíveis para incutir na mente das massas de que o petróleo pode ser substituído pelo etanol e/ou biodiesel, facilitando o jogo de interesses do imperialismo.

Ataque aos sindicatos de oposição
E é o que motiva a prática de ações agressivas contra o Sindipetro de Alagoas e Sergipe, um sindicato de oposição ao governo Lula. O Interdito Proibitório é exemplar. Através desse mecanismo da Justiça, que se constitui num ataque à livre organização dos trabalhadores, o sindicato foi condenado a pagar multas por realizar assembléias e greves nas unidades da empresa.

Através desses ataques, a justiça dos patrões realiza uma montagem judicial para tentar impossibilitar a luta contra os leilões e pela nacionalização das reservas de hidrocarbonetos (petróleo e gás natural) e por uma Petrobras 100% brasileira.

A nacionalização das reservas de hidrocarbonetos (petróleo e gás natural) em todo o continente latino-americano e caribenho e em todo o mundo é uma necessidade de garantia de sobrevivência da espécie humana no planeta Terra.