Depois de várias categorias entrarem em processo de mobilização e paralisações neste segundo semestre, os metalúrgicos iniciaram suas lutas por melhores salários e condições de trabalho em quase todo o paísNo ABC paulista foi inevitável iniciar um processo de paralisação nas montadoras no último dia 4, sexta-feira, apesar do papel da direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à CUT. O ABC entrou na mobilização depois de várias bases metalúrgicas paralisarem suas atividades, como em Camaçari (BA), Manaus e Curitiba.

Na região, apesar de a direção do sindicato apostar exclusivamente nas negociações e buscar equilíbrio nas conversas com a patronal, a categoria vem demonstrando muita disposição de luta nessa campanha salarial e descontentamento com a direção do sindicato. A atual diretoria, formada majoritariamente pela Articulação, principal corrente do PT, alega que várias empresas passam ainda um momento difícil por causa da crise, particularmente as montadoras de caminhões e ônibus e suas autopeças.

Na preparação da assembleia do dia 4, nas montadoras, os trabalhadores já apresentavam disposição em parar a produção imediatamente, apesar de a direção defender a paralisação somente nos segundos turnos. Em assembleia na troca de turnos na Volkswagen, a paralisação ocorreu tranquilamente, somando-se aos trabalhadores de outras fábricas.

Destacaram-se na composição da assembleia os jovens operários. Um fator que ajuda a explicar esse fenômeno é o maior nível de exploração que a juventude vem passando dentro das fábricas, recebendo um terço do salário dos mais velhos para fazer as mesmas funções. Tudo isso com aval da direção do sindicato, que instituiu a rotatividade de mão-de-obra na categoria em nome na manutenção do nível de emprego, ao invés de defender a estabilidade no emprego.

Na assembleia, na rua lateral ao sindicato, apesar de contar com pouco mais de 2.300 trabalhadores, a tônica da peãozada era de ir pra cima dos patrões e arrancar o um acordo que refletisse todo o nível de exploração e pressão que os trabalhadores estão sofrendo nas linhas de produção.

Na quarta-feira, 10, várias fábricas realizaram paralisações. Mercedes-Benz, Scania, Ford, Rassini, Mahle Metal Leve e Karmanghia pararam durante a manhã, e os trabalhadores fizeram manifestação em São Bernardo do Campo.

Na segunda-feira, 14, pode ser a vez dos trabalhadores da GM de São Caetano do Sul. Eles não aceitaram a oferta dos patrões, que propõem um aumento de 4,4%, e prometem parar caso as negociações não avancem. O índice é insuficiente, pois cobre apenas a inflação oficial.

Na quinta, os operários da GM já haviam parado por duas horas. Na GM de São José dos Campos, os trabalhadores fizeram greve de 24 horas a partir da quinta. A categoria na região exige 14,65%. Se não houver acordo com os patrões, os trabalhadores poderão ir à greve por tempo indeterminado na planta de São José.

Depois de ocorrer milhares de demissões na categoria, a patronal vem exigindo, na base da pressão e do assédio moral, a manutenção do nível de produção sem novas contratações. Os patrões estão superexplorando os operários sem nenhuma intervenção categórica da direção do sindicato para coibir e enfrentar essa realidade dentro das fábricas.

Mobilização versus negociações
Infelizmente, as falas na assembleia tentaram esfriar os ânimos e refletiram a falta de iniciativa do sindicato em encampar uma luta consequente contra a situação que os patrões impõem nas fabricas. Uma das demonstrações dessa falta de perspectiva de mobilização da categoria está no fato de não haver um índice de aumento real divulgado pela direção, podendo ser um elemento determinante na construção da mobilização da categoria.

Outro absurdo é de buscar esse tal de equilíbrio nas reivindicações, supostamente justificado por parte das fábricas da categoria estar ainda atravessando a crise econômica.

Contradição
Desde o início da crise, direção do sindicato alega que, no ABC, os reflexos eram muito menores que em outras regiões. Dizia que era necessário construir uma agenda positiva para a região, recriando as Câmaras Setoriais, abrindo o processo de parceria perversa com os patrões e os governos para resolver o momento de crise econômica, ao invés de construir a mobilização e a luta da categoria para enfrentar os ataques da patronal.

Esse processo de parceria com a patronal e o governo é o que justifica toda essa falta de mobilização e perspectiva de luta na categoria. Mas depois da assembleia e da experiência com a política da direção do sindicato, que tenta a todo momento apostar tudo somente nas negociações rebaixadas, os próximos passos nessa semana podem ser decisivos para desencadear um grande movimento de greve a partir do dia 12 de setembro, data da próxima assembleia, e fazer avançar a luta por melhores salários e condições de trabalho e derrotar a patronal e a política de parceria da direção do sindicato. Vamos à luta!

Atalizada em 11/9/2009, às 16h43