Os bancários têm data-base em setembro e estão em campanha salarial, reivindicando reajuste de 21,58%. As perdas salariais são, no entanto, muito superiores. Nos bancos federais, devido aos anos de arrocho do governo FHC, os empregados do Banco do Brasil precisam de um índice de 110,47% e os da Caixa Econômica Federal de 123,38% para voltarem a ter o poder de compra da época do Plano Real.

Mas a Articulação Sindical, corrente majoritária no movimento nacional dos bancários, fez aprovar esse índice na conferência nacional da categoria, usando o argumento da necessidade de unificar a campanha salarial numa única mesa de negociação com a Federação Nacional dos Bancos.

Se, por um lado, é óbvio que unificada a categoria tem mais força, por outro também é óbvio que as reivindicações específicas podem ajudar no processo de mobilização de toda a categoria. O que é errado é rebaixar as reivindicações, justamente quando os bancários começam a retomar a mobilização.

A campanha salarial deste ano será o primeiro teste da autonomia das direções sindicais frente ao governo.

Governo e banqueiros não querem nem repor inflação do período

Os banqueiros ofereceram até o momento reajuste de 10% e um abono de R$ 1.320. Já os bancos federais, nem isso. Além de não participarem da negociação, a área econômica do governo sinalizou que não dá reajuste superior a 6%. O governo Lula segue arrochando os salários para garantir o máximo de superávit nas contas públicas para pagar a dívida externa.

A Articulação Sindical colabora com essa estratégia e tenta poupar o governo. Mas a situação começa a ficar complicada. Após muitos anos, os bancários começam a retomar as mobilizações. Nos bancos federais esse processo é evidente, com exemplos de reorganização da base no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal.

Também entre os bancários da rede privada, calejados com as milhares de demissões dos últimos anos, existe disposição. No dia 28 de agosto, Dia do Bancário, foi aprovada a paralisação durante o dia inteiro no centro velho de São Paulo, contra a maioria da diretoria do Sindicato, que queria encerrar o movimento às 10 horas. A paralisação durante o dia todo foi defendida por militantes do PSTU que participam do Movimento “Luta Bancária” junto com companheiros da esquerda do PT.

A campanha salarial entra em um momento decisivo. Três tarefas se impõem para derrotar o arrocho dos banqueiros e do governo. A primeira é a unificação das lutas da categoria, com um calendário comum de atividades que aponte a construção da greve e um encontro nacional aberto na segunda quinzena de setembro. A segunda, a unidade com demais trabalhadores em campanha: petroleiros, trabalhadores dos Correios, eletricitários e metalúrgicos. E a terceira, cobrar um posicionamento claro do governo frente às negociações nos bancos estatais. As expectativas existentes na categoria com o PT no governo e o peso que ex-sindicalistas bancários têm nos Ministérios, estatais e fundos de pensões públicos, devem ser canalizadas para a exigência de atendimento das reivindicações imediatas e as perdas históricas da categoria.
Post author Sebastião Carlos ‘Cacau’,
da Executiva Nacional da Confederação Nacional dos Bancários (CNB)
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